O poder transformador das atitudes em períodos de dificuldade
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoPeríodos difíceis, como este que a humanidade passa, demandam resiliência, ainda que o momento seja de preocupação e, muitas vezes, de luto. Cada ser humano enfrenta as dificuldades de diferentes maneiras. Segundo o professor e teólogo Acyr de Gerone Junior, o caminho mais saudável e necessário para enfrentar a realidade é a reflexão sobre os fatos. “Às vezes, a gente se prepara para agir, porém não estamos preparados para reagir à determinadas circunstâncias”, afirma.
Gerone explica que o processo de reflexão possibilita assumir o protagonismo da situação, já que as atitudes tomadas a partir dali são de responsabilidade do indivíduo, que escolhe a forma como encarar os desafios. O professor lembra a frase do neuropsiquiatra Viktor Frankl, que diz: “quando uma situação for boa, desfrute dela. Quando a situação foi ruim, tente transformá-la. E, se for impossível transformar a situação, transforme a si mesmo”. Essas transformações internas pedem por um olhar mais atento para a saúde mental, o estado de espírito, assim como a postura e a fala.
“Tudo isso vai fazer com que a gente encontre mais forças para continuar andando e enfrentando a situação difícil, porque se espera que uma hora essa situação mude. Ajuda a entender que se não posso fazer nada, tenho que me transformar, pensar o que vou poder fazer para enfrentar essa situação”, completa Gerone.
No livro “Em busca do sentido”, de Frankl, o autor retrata experiências vividas em um campo de concentração e descreve métodos terapêuticos que usou para encontrar razões de sobreviver. A obra também trata de questões das vontades que o ser humano tem, sendo a de prazer, a de poder e a de viver. Esta última era o que o movia para atitudes transformadoras.
Adriano Lima, professor da área de Humanidades da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter, diz que essas ações são o que mantém as pessoas de pé, em meio a tantas perdas e notícias ruins. O profissional acredita que “a gratidão é necessária, fundamental”, principalmente para aqueles que podem estar em segurança, dentro de casa, trabalhando em home office, sem passar por necessidades. “Precisamos exercitar, eu diria que de maneira cotidiana, a gratidão. Porque somos agraciados e muitas vezes não percebemos”, salienta.
Em “Pedagogia da esperança”, obra de 1992, Paulo Freire declara que “é preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”.
De acordo com Gerone, manter a esperança é o mais difícil quando não se vê um fim para as dificuldades, mas também é essencial para impulsionar. “Não sei quando, não sei como, mas vou continuar mantendo a minha cabeça erguida, dando um passo atrás do outro, nem que seja um pouco mais devagar”, afirma. “É claro que ninguém nunca vai estar totalmente preparado, mas andar em esperança quer dizer que quando a situação chegar, ainda há um foco em mim, algo que me motiva, me faz acreditar que as coisas podem ser diferentes. E que, independente da circunstância, vou continuar trabalhando a minha mente, o meu coração, os meus sentimentos, as relações que eu tenho com as pessoas que estão próximas a mim”, complementa.
O professor Cícero Bezerra, coordenador da área de Humanidades da ESE, lembra do senso de destino, abordado por Frankl, e como ter uma missão de vida pode colaborar nos momentos em que os indivíduos se sentem perdidos. Uma questão muito importante para reafirmar a identidade e consolidar a autoestima, o que também mantém a mente sã e ativa. “Só tenho uma missão a cumprir porque sei quem sou. Quando entendo essa questão do meu propósito de vida, consigo fortalecer a minha identidade”, ressalta Gerone.
Outro pensamento disseminado por Frankl é o de que ser humano é trabalho para algo além de si mesmo e, nesse relacionamento com o próximo, as pessoas também se encontram. Três aspectos muito importantes diante das dificuldades, citados por Lima, são a solidariedade, o perdão e o ato de ouvir.
“Eu gosto de pensar no texto da Constituição, no qual o artigo terceiro fala dos objetivos fundamentais da República e o inciso primeiro é construir uma sociedade livre, justa e solidária. É um objetivo que diz respeito a todos nós, independente de tradição religiosa, convicção política, filosófica. Todos nós temos responsabilidade em construir uma sociedade solidária e só se constrói uma sociedade solidária praticando a solidariedade”, conclui.
Para Gerone, outros quatro pontos fundamentais são: uma análise sincera sobre a realidade, para conseguir identificar qual é o incômodo e saber como reagir diante das adversidades; desenvolver uma mentalidade de crescimento, para que, mesmo dentro de casa, a mente continue ativa e possa fazer melhor proveito das oportunidades que surgirem; desempenhar algum trabalho voluntário para não ficar limitado às próprias questões; e desenvolver disciplinas pessoais, espirituais, de leitura, mente crítica, para saúde do corpo e da mente.
Bezerra inclui as habilidades de “fazer mais com menos”, tomar atitudes positivas para mudanças, além de manter a alegria contagiante para não se entregar aos problemas e se dedicar a projetos voluntários. “Por incrível que pareça, fazendo isso a gente encontra força para ajudar a nós mesmos”, finaliza.
Os profissionais abordaram o tema Atitudes transformadoras na última edição do programa Voz ativa, transmitido ao vivo no dia 12.mai.2021. O bate-papo completo, que contabiliza mais de 800 visualizações, segue disponível para livre acesso na página de Humanidades e canal da ESE.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Arquivo CNU