O papel da enfermagem no cuidado de crianças do espectro autista
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoA atenção de profissionais de diferentes áreas é muito importante processo de identificação, diagnóstico e tratamento de crianças com transtorno do espectro autista (TEA). Entre os profissionais essenciais nessa jornada estão os enfermeiros, que podem atuar tanto para identificar riscos e auxiliar no diagnóstico, quanto para promover a autonomia e qualidade de vida dos pacientes com TEA.
O tema é abordado no artigo A atuação do profissional enfermeiro na assistência a criança com transtorno do espectro autista, publicado na revista Saúde e Desenvolvimento, uma das nove publicações científicas da Uninter. As autoras Laís Theis e Tatyanne Ferreira trazem uma revisão literária das pesquisas produzidas sobre a temática para entender a contribuição do enfermeiro na assistência a esses pacientes.
O grau de acometimento da criança com o espectro autista pode variar desde casos leves até mais severos. O diagnóstico é sempre clínico, ou seja, realizado por meio de uma análise da conduta da criança, da conversa com os pais e da aplicação de instrumentos validados e autênticos. É aí que entra o papel do profissional de enfermagem.
O enfermeiro é responsável pelo acolhimento nas unidades básicas de saúde (UBS) e nas estratégias saúde da família (ESF). Nesse trabalho, pode identificar situações de saúde-doença, prescrever e implementar medidas que contribuam para proteção, promoção, recuperação e reabilitação da saúde do indivíduo.
Com relação à saúde da criança, o profissional de enfermagem acompanha o crescimento e o desenvolvimento dos pacientes, para evitar influências desfavoráveis e problemas desenvolvidos na infância. Desde as consultas de puericultura, que acompanha o desenvolvimento dos bebês, o enfermeiro pode ser o primeiro a identificar características relacionadas a TEA.
Apesar de o diagnóstico final só poder ser estabelecido após os três anos de idade, a identificação de risco é possível nessa fase. Quando se diagnostica precocemente, os riscos de agravamento são minimizados e existe maior possibilidade de promover a independência e facilitar a adaptação da criança.
Entre os diversos instrumentos que auxiliam a identificação do espectro autista está a escala Modified Checklist for Austism in Toddlers (M-CHAT), recomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Mas, esse não é o único instrumento utilizado em território brasileiro, já que cada estado e município tem autonomia para adotar a própria linha de cuidado.
“Podemos ressaltar a existência de aplicativos que atualmente auxiliam na detecção precoce do autismo, sendo uma inovação no ensino e aprendizagem na área da saúde. Considerando o aumento do número de casos e a realização do diagnóstico tardio do TEA no Brasil, é de suma importância o avanço de tecnologias e ferramentas que auxiliem o enfermeiro na realização da detecção precoce de sinais e alerta para o autismo”, afirmam as autoras. A padronização de instrumentos para o diagnóstico precoce é apontada como uma necessidade importante, pois esta etapa influencia no tratamento e nos planos de cuidado.
O artigo retoma ainda a teoria de autocuidado de Dorothea Orem como estratégia de atenção a crianças com autismo. Publicada em 1971 e 1980, a teoria parte do princípio de que o enfermeiro deve identificar as limitações do paciente no atendimento individual, auxiliando para prática de autonomia.
E estratégia é constituída por três ideias inter-relacionadas: a teoria de autocuidado, realizado para benefício próprio, em que o enfermeiro avalia a capacidade e as demandas de autocuidado da criança com autismo; a teoria do déficit de autocuidado, quando a enfermagem se torna imprescindível, já que a procura do autocuidado é superior à capacidade de se auto cuidar; e a teoria do sistema de enfermagem, que o paciente se encontra e precisa dos cuidados dos enfermeiros, que auxiliará no autocuidado.
Por isso a importância de o profissional de enfermagem compreender a complexidade do TEA, se envolver em uma investigação do cuidado individual, com uma abordagem que possibilite à criança o autocuidado, dentro de seu potencial e limitações.
Uma nova possibilidade de cuidado, por meio do Social Stories, é apontada também no artigo. Trata-se de: “Um instrumento de aprendizagem que conduz a troca segura e importante de conhecimentos entre os profissionais de saúde, familiares e as crianças autistas, fundamentando-se na teoria do autocuidado de Dorothea Orem. Apesar de sua eficácia, a ferramenta de aprendizagem ainda não é utilizada no cuidado de enfermagem no Brasil”.
Papel da família e da escola
Além da atenção profissional, a dedicação e o interesse da família também são essenciais para a evolução e o progresso da criança. “É importante ressaltar o papel da enfermagem que, além da inovação, desenvolve ações com visão holística, analisando essa criança por completo; engloba-se todo o seu meio social, sabendo que não apenas o corpo físico deve ser tratado, mas aspectos, como, o emocional, mental e espiritual. Além disso, contribui para que as famílias possam reconhecer seus direitos a informações e cuidados sobre seus filhos, além de envolvê-los no processo de avaliação e autocuidado”, complementam.
O profissional ainda é peça essencial no ambiente escolar, atuando em ações relacionada à educação em saúde. Os enfermeiros têm o papel de estimular debates técnicos e apresentar perspectivas em relação aos processos de saúde e doença. São também responsáveis pelo cuidado e observação da rotina escolas, atentando para os problemas e soluções.
Devido à dificuldade de interação e limitação a algumas atividades que as crianças com TEA possuem, os profissionais também atuam na prática de educação física, com instruções necessárias para a equipe escolar, incluindo o plano de educação individualizado para a integração da criança no ambiente.
Em todas as atuações citadas, é de fundamental importância a educação permanente em saúde, implementada pela portaria nº 1.996, de 20 de agosto de 2007, pelo Ministério da Saúde, que possibilita aperfeiçoar competências e assistência profissional, para que forneça com qualidade bons resultados.
“A capacitação dos enfermeiros é essencial, para que o cuidado ocorra de forma lúdica e segura. A humanização do enfermeiro é fulcral no acompanhamento dessas crianças, para transmitir segurança aos pais no tratamento e orientando, como, por exemplo, a participar de grupos com outros pais que passam por situações parecidas — para compartilhar e conhecer outras experiências”, concluem as autoras.
O artigo escrito por Laís e Tatyanne pode ser acessado na íntegra, por meio deste link.
Sobre o TEA
De acordo com a Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com TEA, a condição diz respeito a um déficit contínuo da comunicação verbal e não verbal, além da relação social. Dificuldade em desenvolver e preservar relações pertinentes ao seu grau de desenvolvimento; padrões restritos e frequentes de comportamentos motores ou verbais característicos ou ações sensoriais incomuns; e demasiada aderência a condutas e padrões de comportamentos habituais e interesses restritos e fixos.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri Konig
Revisão Textual: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Pexels
Como profissional das duas áreas (Sou Enfermeiro e Biólogo) vejo que o papel do enfermeiro é estar defendendo os melhores interesses do paciente e mantendo a dignidade do paciente durante o tratamento e cuidado, a atenção constante à condição das crianças é essencial para buscar uma melhor qualidade de vida para elas no dia a dia por meio da prevenção de doenças e lesões tanto no ambiente escolar quanto familiar e no acolhimento da saúde.