O palhaço que riu para a doença de Parkinson
Denise Becker – Estagiária de Jornalismo
“Ah! No palco da ilusão, pintei meu coração, entreguei o amor e o sonho sem saber que o palhaço pinta o rosto pra viver”. No trocadilho dos versos da música “Sonhos de um palhaço” se dá a guinada na história de um homem diagnosticado com Doença de Parkinson. Dirceu Kraisnki Pinto havia perdido o sentido da vida e transferiu a dor e a esperança para o personagem.
Decidido a fazer reluzir o riso nos outros, escolheu ser um palhaço. Afinal, palhaços têm um jeito meio torto, expressões faciais exageradas, choram e riem, depende da cena. Palhaço brinca, treme, derruba a colher, cai e todos acham graça.
Cansado de chorar e buscar respostas, Dirceu encontrou alento nas atividades lúdicas. Os primeiros a notar que seus movimentos estavam mais lentos foram os seus alunos. À época, Dirceu dava aulas no curso de Gestão em Saúde na Uninter, onde permaneceu por 15 anos.
Quando a doença chegou, viveu fases da negação à aceitação. Hoje, goza de paz e tranquilidade em João Pessoa (PB), onde mora. O clima quente favorece as práticas de exercícios físicos e o surf funcional. Sim, o palhaço com Parkinson pega altas ondas na Paraíba.
A neurologista Patrícia Coral explica que Parkinson é uma doença degenerativa do cérebro, incurável e afeta a forma como as pessoas se movimentam, conversam, dormem e interagem socialmente. Ocorre pela diminuição das células que produzem a Dopamina. Na maioria das vezes se manifesta após os 70 anos. No caso do Dirceu, o Parkinson é precoce, começou aos 42.
A doença é esporádica e pode ter componente genético e não há como prevenir. O grau de acometimento varia e pode progredir ao longo dos anos. A médica esclarece que a doença tem tratamento e nos estágios mais avançados é possível colocar marca-passos no cérebro pela intervenção cirúrgica. Terapias ocupacionais e fisioterapias também ajudam o paciente a se manter ativo.
Nascido na Lapa (PR) há 54 anos, entre banhos do mar paraibano e passeios de bicicleta Dirceu se une a um grupo de 16 palhaços com o propósito de partilhar alegria nas visitas aos asilos onde vive. “Não é comum a atitude dele. A vida não acabou, ainda há muito a ser feito. Parkinson não mata”, diz Patrícia Coral.
Resignado a lidar com a doença pelo resto da vida, Dirceu diz estar em paz consigo. “Temos que vibrar saúde e não doença. Não é negar a situação, mas buscar a qualidade de vida, por meio de exercícios, boas leituras e meditações”, recomenda. E no intento de mensurar seus piores momentos, o palhaço engasga, retoma do fôlego e cita Rubem Alves: “A pior dor é a do olhar do outro”.
Edição: Mauri König