O fogo que consome duas potências

Autor: *Márcia Cristiane Kravetz Andrade

Em um mundo onde as mudanças acontecem a todo instante, as questões ambientais se tornam um dos maiores desafios, pois o crescimento e expansão populacional, destruição e uso desenfreado de recursos naturais e o consumismo acabam resultando em condições graves no ambiente. Eventos climáticos extremos, como os incêndios florestais, são um exemplo de desequilíbrio que vai além das fronteiras e contrastes econômicos. Neste cenário, podemos citar Brasil e Estados Unidos, dois países com contextos socioeconômicos distintos, enfrentam problemas ambientais semelhantes que indicam uma dificuldade na gestão ambiental. 

Nos Estados Unidos, os dados são considerados preocupantes: segundo o Departamento de Silvicultura e Proteção contra Incêndios da Califórnia (Cal Fire), foram registrados 8.024 incêndios florestais, que devastaram aproximadamente 424.92 Km2, somente em 2024. As causas desse incêndio florestal foram atribuídas às condições climáticas, somadas a ventos intensos e temperaturas crescentes, devido ao aquecimento global.  

Nesse início de 2025, o estado está mais uma vez sofrendo com incêndios, onde as chamas já queimaram aproximadamente 117,57 Km2 e cerca de 130 mil pessoas foram impactadas, precisando desocupar suas residências. Essa situação reflete a necessidade de adaptação mais eficaz às condições climáticas e criação de protocolos efetivos para essas emergências. Apesar de os Estados Unidos serem uma grande potência mundial, com tecnologias avançadas e pesquisas ambientais de ponta, podemos observar que essa abundância de recursos não é suficiente sem um planejamento integrado, políticas públicas e comprometimento político, independente de partido. 

No Brasil, o cenário também é preocupante: conforme o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados 278.229 focos de incêndio em todo o país em 2024, um aumento de 46% em relação ao ano anterior. O estado mais prejudicado no aumento de queimadas foi São Paulo, que registrou 423% focos de incêndio a mais do que em 2023, totalizando 8.702 ocorrências. Essas queimadas, na maioria das vezes, estão relacionadas ao desmatamento ilegal e à expansão agropecuária sem autorização, que comprometem a biodiversidade da região, afetando e agravando os impactos climáticos e ambientais. Não podemos esquecer que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais sólidas do mundo, incluindo aqui o Código Florestal e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), porém enfrenta desafios constantes de implementação, monitoramento e fiscalização. 

Brasil e Estados Unidos sofrem com as mudanças climáticas que intensificam os períodos de seca e tornam a vegetação mais inflamável, onde o uso do solo pode contribuir para agravar essa situação. No Brasil, o desmatamento ilegal ou superior ao autorizado para agricultura e pecuária amplia a probabilidade de incêndios; já nos Estados Unidos, as práticas de manejo inadequadas com a supressão de incêndios naturais, acabam criando um acúmulo de biomassa combustível. Por outro lado, os conflitos de interesse econômico e a expansão urbana ampliam a vulnerabilidade às queimadas em ambos os países. 

Podemos considerar que a solução para esses desafios requer uma abordagem integrada e global, onde a cooperação entre países torna-se essencial para a criação de tecnologias sustentáveis e boas práticas. E, não menos importante, a conscientização e mobilização da sociedade devem ser a primeira preocupação, pois precisamos do engajamento da sociedade civil para pressionar governos e empresas a assumirem políticas mais responsáveis e socioambientais. No âmbito nacional, é importante fortalecer o monitoramento e a fiscalização no combate ao desmatamento ilegal, enquanto nos Estados Unidos, é necessária uma revisão de suas estratégias de manejo florestal para reduzir os riscos atuais e futuros.  

O fogo que destrói florestas e sua biodiversidade, residências, comércios e a vida humana não é apenas um problema ambiental: é o resultado de uma crise do governo global em relação às mudanças climáticas, onde não ocorre uma prática efetiva e os acordos ambientais são prorrogados sem uma conclusão concreta. Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos têm a oportunidade, pelos exemplos que estão ocorrendo, de demonstrar que é possível equilibrar desenvolvimento econômico com sustentabilidade, mas para isso é necessário coragem política, investimento em inovação e, acima de tudo, um compromisso real com as futuras gerações, deixando o poder de lado e observando toda a sociedade.  

*Márcia Cristiane Kravetz Andrade é Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental, Doutoranda em Sustentabilidade Ambiental Urbana e Tutora dos cursos de Pós-Graduação na Área de Meio Ambiente da UNINTER. 

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Autor: *Márcia Cristiane Kravetz Andrade
Créditos do Fotógrafo: PX Here


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