O esgoto pode ser um aliado no diagnóstico do novo coronavírus?
Autor: Augusto Lima da Silveira*Falar sobre esgoto nos remete principalmente a situações de vulnerabilidade social e às condições precárias para a destinação de dejetos. Esse cenário é especialmente visível em países emergentes como o Brasil. Entretanto, uma abordagem recente para a temática pode modificar a forma como visualizamos essa questão.
Em meio à pandemia do novo coronavírus, diversos cientistas no mundo todo buscam metodologias para o diagnóstico, o entendimento dos mecanismos de ação do vírus, possíveis medicamentos para tratamento, desenvolvimento de vacinas, etc. Nesse contexto, surge a possibilidade de traçar um panorama a respeito da transmissão da doença, a partir da análise do esgoto, é o que afirma uma das maiores revistas científicas do mundo, a Nature.
Essa abordagem diagnóstica, em teste na Holanda, Estados Unidos e Suécia, se baseia na comprovação científica de que o novo coronavírus pode ser detectado nas fezes de pessoas com a doença. Assim, os traços genéticos do vírus chegam em estações de tratamento de esgoto. Dessa forma, é possível perceber as perspectivas para a detecção da doença em grandes regiões, considerando que as estações de tratamento de esgoto podem receber os efluentes de mais de 1 milhão de pessoas. Utilizar o esgoto nas ações de estimativa da doença podem complementar as informações da vigilância em saúde, fornecendo um maior embasamento para medidas de controle como o isolamento social ou a flexibilização das medidas restritivas, por exemplo.
Considerando que o número de infectados cresce de forma intensa e, por outro lado, a disponibilidade de testes para a doença não consegue acompanhar a curva de contágio, utilizar as análises de traços genéticos do novo coronavírus no esgoto, poderia ser uma alternativa para orientar as medidas de vigilância em saúde nos municípios.
É necessário destacar, entretanto, que as pesquisas ainda estão em desenvolvimento o que pode dificultar a ampla utilização do método. As próximas etapas do estudo envolvem a determinação da carga viral eliminada por pacientes com a doença, sendo possível estimar com mais precisão o número de contaminados.
De fato, ainda há um caminho a ser percorrido para que o método seja implementado. Entretanto, já é possível compreender o quanto pode ser promissor considerando que ao analisar o coronavírus no esgoto se estima inclusive os pacientes assintomáticos. Além disso, a abordagem pode ser uma ferramenta importante para medir o quanto as medidas de distanciamento social são efetivas em uma determinada cidade, embasando e orientando as medidas a serem tomadas pela vigilância em saúde.
* Augusto Lima da Silveira é coordenador do curso superior Tecnologia em Saneamento Ambiental da Uninter e doutorando em Ecologia e Conservação.