Engavetamento na BR-277 expõe fragilidade do sistema de transporte
Autor: Rafaela Aparecida de Almeida (*)Enquanto ocorrem os leilões de concessão de 473 km de rodovias no Paraná, um engavetamento envolvendo mais de 50 veículos, deixando 11 pessoas feridas e 5 mortos, deixa a BR-277 bloqueada por mais de 24 horas na região de Balsa Nova/São Luiz do Purunã. O incidente também gerou engarrafamento no acesso alternativo pela BR-476 até a Lapa, expondo mais uma vez a fragilidade da infraestrutura do sistema de transporte das rodovias do estado. Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) indicam que, somente no ano de 2023, o estado do Paraná registrou mais de 4.042 acidentes em suas rodovias, sendo 1.127 apenas na BR-277 (80 deles com vítimas fatais) e 40 acidentes na região de Balsa Nova. Tais acontecimentos revelam dois dos principais gargalos do sistema de transporte: o primeiro deles é o saturamento das estradas e o segundo é a fragilidade da infraestrutura das rodovias.
Em linhas gerais, a matriz de transporte de cargas no Brasil, assim como no Paraná, é pautada no transporte rodoviário. Dados do Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS) demonstram que, em 2019, do total de cargas transportadas em território nacional, 61% foram movimentadas através das rodovias, enquanto 21% das cargas seguiram pelo modal ferroviário, 12% por cabotagem, 4% por dutos, 2% por hidrovias e menos de 1% pelo modal aéreo. Os dados demostram a alta dependência das rodovias para a circulação de cargas em nosso país.
Essa realidade também envolve as rodovias estaduais, uma vez que o Paraná é um importante hub logístico, que conecta a região Sul a outros estados e regiões brasileiras, bem como uma importante região produtora de grãos, que são escoados até o porto de Paranaguá, sendo transportados basicamente por caminhões. Em um comparativo, se o transporte ferroviário fosse o principal na matriz de transportes, em uma composição de 100 vagões, 357 caminhões graneleiros (com 28 toneladas de carga cada um) seriam retirados de nossas estradas.
Outro gargalo importante a ser observado diz respeito à infraestrutura das rodovias. Na BR-277, que corta horizontalmente o Paraná, de Paranaguá a Foz do Iguaçu, mais de 500 km são de pista simples, o que acentua os longos congestionamentos. Ao se analisar as principais causas dos acidentes nas rodovias paranaenses, é possível observar a deficiência do sistema de iluminação/sinalização, ausência ou reação tardia ou ineficiente do condutor (principalmente em casos de congestionamento) e ultrapassagens indevidas, o que poderia ser atribuído aos quilômetros contínuos de pista simples.
Vale destacar que as obras, no trecho de São Luiz do Purunã estão programadas para o Lote 01, que foi adquirido pelo grupo Pátria durante o leilão das concessões de estradas do Paraná, realizado em agosto na B3. A previsão é de que a operação comece em 2024, no entanto, as melhorias planejadas para a BR-277, onde os acidentes são frequentes, só começarão a ser realizadas no terceiro ano da concessão, ou seja, em 2027.
O recente engavetamento na BR-277, com suas trágicas consequências, não é apenas um incidente isolado, mas um triste reflexo da vulnerabilidade do nosso sistema de transporte rodoviário no Paraná. Os números de acidentes e congestionamentos que continuam a assolar nossas estradas ressaltam a urgente necessidade de melhorias na infraestrutura e de uma abordagem mais abrangente para o transporte de cargas no Paraná. Com a maioria das mercadorias ainda dependendo do transporte rodoviário, é crucial que investimentos em modernização e expansão ocorram o mais rapidamente. À medida que olhamos para o futuro, esperamos que as obras planejadas para as rodovias paranaenses finalmente tragam uma nova era de segurança e eficiência para as rodovias. No entanto, isso deve ser apenas o começo de um esforço contínuo para enfrentar os desafios e gargalos do sistema de transporte, garantindo maior segurança para seus usuários e maior eficiência logística.
*Rafaela Aparecida de Almeida é mestre em Gestão Urbana e tutora dos cursos superiores de Tecnologia em Secretariado e Tecnologia em Assessoria Executiva Digital. Professora dos cursos de Secretariado, Assessoria Executiva Digital, Administração, Logística, Gestão do e-commerce e Sistemas Logísticos e Comércio Exterior no Centro Universitário Internacional Uninter.
Autor: Rafaela Aparecida de Almeida (*)Créditos do Fotógrafo: Polícia Rodoviária Federal