O egresso do ensino superior é respeitado como ser social?
Autor: Dinamara Machado, Adriano Sousa Lima e Sidney Lara*Quando as instituições de ensino superior, principalmente na contemporaneidade, criam suas estratégias de marketing para absorver maior número possível de clientes, atuam no imaginário, na perspectiva de alcançar outros patamares econômicos. Usando uma metáfora: os clientes entram no sonho daquela viagem de férias, ou seja, daquele sonho tão esperado.
Ao adentrarem no ensino superior e no convívio diário com a realidade da aprendizagem, deparam-se com um cenário que exige muito além de pagar as mensalidades e desfrutar da brisa durante a viagem dos sonhos. Afinal, a flexibilidade e todos os atrativos demonstrados requerem tempo e dedicação para estudar em qualquer dia e horário.
A conscientização do cliente para o status de estudantes no ensino superior, pela vivência e projetos aplicados, demonstra que se faz necessário pelo menos um ano de intensa dedicação em projetos focados em acolhimento, em aproximação, em pertencimento (…). E quando conversamos com aqueles que desistem da viagem, descobrimos que talvez nem devessem ter entrado nela, pois não estavam maduros para os obstáculos do caminho, e o resultado geralmente é frustação.
Mas ainda tem aqueles que permanecem em viagem, ou melhor, que finalizam seus cursos superiores. Então poderíamos dizer que o trabalho da academia cessou. Enganou-se quem pensa que o trabalho da academia finaliza na formatura, quando idealizamos nas reuniões de elaboração de curso superior projetamos o perfil do egresso e as possibilidades de crescimento individual e coletivo que os HUMANOS oriundos daquele curso podem fazer pelo desenvolvimento do país.
Trabalhar no ensino superior é pensar de forma exponencial, é ter a certeza do acompanhamento daquele estudante enquanto estuda e depois, seu projeto de vida, pois se tornou um egresso, e sua atuação na sociedade é por consequência reverberação da ação democratizada da instituição de ensino.
Quando pensamos e trabalhamos a partir da égide da responsabilidade com o egresso é como se mantivéssemos uma lupa, acompanhando, guiando e ficando deslumbrado com os caminhos adotados. Da mesma forma que acompanhamos os projetos de sucesso, é preciso olhar para quantos estudantes não conseguimos colocar no mercado de trabalho, talvez por ofertamos cursos que não correspondam a real necessidade do país.
Acompanhar o egresso é um dever institucional e constitucional. O legislador pátrio enfatizou no artigo 205 da Constituição da República Federativa do Brasil, que a educação, enquanto direito de todos e dever do Estado e da família, deve buscar o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Assim, a instituição que compreende integralmente a sua missão, acompanha o egresso, ainda que ele já tenha conquistado um espaço no mercado de trabalho, na sua área de formação.
A instituição que tem compromisso com o mandamento constitucional, seguirá acompanhando o egresso, a fim de que ele alcance o pleno desenvolvimento enquanto pessoa, e exerça a cidadania de forma responsável. Portanto, o egresso não é, sob hipótese nenhuma, apenas um dado relativo. Acompanhá-lo e seguir contribuindo na sua vida é um dado constitutivo da identidade e da missão da instituição. Por essa razão, essa relação deve ser cada vez mais sólida.
O egresso de uma instituição de ensino superior é um patrimônio social e de valor intangível, que não pode ser medido em números, que aumentam o valor da instituição em bolsa de valores, pois com seus projetos pessoais que muitas vezes foram cunhados durante seu tempo de estudante alteraram seu status quo e provocam mudanças de micromundo.
Quando reconhecemos que o egresso adentrou num concurso público, assumiu a liderança religioso, optou em ajudar de forma voluntária na escola ou outro projeto, temos certeza que os valores e missão daquela instituição de ensino superior continuam ecoando de forma eterna, pois mesmo aqueles que não adentraram no ensino superior estão sendo provocados por novas atitudes, valores e suas características socioemocionais estão sendo alteradas.
O egresso é patrimônio social, disseminador de boas práticas e deve fazer parte das ações educacionais das instituições de ensino, como ser social agente de transformação, que teve coragem para seguir viagem apesar dos ventos contrários.
Não é exagero afirmar que os egressos são a maior riqueza que uma instituição de ensino pode ter. Se bem formados tornam-se profissionais melhores, criam carreiras mais bem-sucedidas, empreendem inovações de valores para as organizações e para a sociedade, pois eles representam tudo que produzimos e estamos construindo em processos contínuos, na produção e melhoria dos conteúdos de ensino e pesquisa. Por meio de ações educacionais, temos que estar comprometidos com o mundo do trabalho e a sua formação enquanto cidadão.
Para que isso aconteça, é necessário que as IES introduzam em seus currículos ajustes constantes, com o intuito de proporcionar aos profissionais formados por elas, conhecimentos, habilidades e atitudes para exercerem atividades e funções em uma ampla gama de processos, capazes de resolver problemas inerentes a sua área de formação e superar a situações contingentes de maneira segura.
Manter aberto um canal de comunicação com egresso é a forma de continuar esta relação que começou nas salas de aula, estimulando o convívio universitário e troca permanente de informações entre egressos, alunos e a universidade. Fica ao término, uma indagação: seu egresso é um número ou ser social de transformação? Oxalá que tenhamos muitos disseminadores de boas práticas.
* Dinamara Machado, Adriano Sousa Lima e Sidney Lara são professores da Uninter.