O delinear dos olhos enquanto representação da sociedade egípcia

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

Quando se pensa em representações do Antigo Egito é natural que as primeiras imagens a serem associadas sejam as pirâmides e as múmias. Pouco se pensa na identidade do indivíduo egípcio. Mas, ao fazer uma análise, fica nítido a evidência dos olhos marcados em pinturas, esculturas ou mesmo nas maquiagens realizadas por eles.

A professora Deborah Ribeiro, que é historiadora e mestranda em Arqueologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que, ao contrário da sociedade contemporânea, que tem a maquiagem como algo feminino e estético, para esses povos “é uma ausência de gênero ao pintar os olhos, todos pintam. Ao mesmo tempo, não tem também uma classificação etária, todos pintam, desde crianças até idosos”.

Deborah fala sobre o tema No delinear os olhos: os vasos cosméticos do Egito Antigo na última noite do 2º Seminário virtual de estudos sobre o Antigo Egito, realizado pela área de Linguagens e Sociedade da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter. Ela lembra que, junto com essa cultura, existem os objetos que amparam a prática da pintura. Os chamados vasos cosméticos, que também podem ser citados como tubos ou potes cosméticos, além de itens de beleza ou de banho.

A profissional diz que humanos e objetos “são um emaranhado”, os objetos não existem sem os humanos e os indivíduos sempre têm uma intencionalidade ao produzi-los. A sociedade os faz como uma ação identitária e essa identidade representa a cultura material. É preciso pensar sobre a intencionalidade e o que os objetos representam. No caso dos egípcios, os vasos cosméticos apresentam questões em relação ao uso e ao valor.

“O uso a gente tenta associar ao clima desértico, tem a questão do sol, a gente tem que imaginar as infestações de insetos, tratamentos medicinais, tratamentos estéticos, e uma questão de purificação. E, ao mesmo tempo, olhar esses objetos como valor. Valor ritual, valor de pureza, de se limpar. Eles são encontrados em enterramentos, como parte do mobiliário funerário, isso em diversos grupos dentro dessa sociedade”, conta Deborah.

Esses vasos podem ser encontrados em várias formas, a partir de diversos materiais, com diferentes incisões. Isso porque, além de existirem diversos períodos, cada um com suas especificidades, também podem variar de acordo com a classe social e para quem é produzido. “Mas todos têm a mesma funcionalidade, que seria carregar consigo um material para pintar esses olhos”, afirma a professora.

A historiadora mostra alguns dos objetos que estuda para a pesquisa no Museu Nacional do Rio de Janeiro, através de fotos tiradas em novembro de 2017, um ano antes do incêndio que se alastrou pelo local. Ela ressalta que estes objetos “fazem parte não só de uma história do Antigo Egito, mas também da nossa história”. Segundo Deborah, ainda que eles tenham sofrido alterações com o incêndio, os vasos deixam de ser “comuns” e passam a ser “singulares”.

“Esses vasos podem nos fornecer informações em contexto como tumbas incendiadas. Eles podem ter relação, porque nós sabemos quando aconteceu essa tragédia, então esses vasos representam muito. Não se possui estudo, então a gente utiliza eles para trazer informações entre esse Antigo Egito e a nossa sociedade contemporânea.”

Além de Deborah, um egresso e dois estudantes da Uninter participaram do evento, para apresentação de pesquisas realizadas na área. O estudante de bacharelado em História, Eduardo Farias, abordou o estudo “Quando os egípcios tocaram o céu: o século das construções monumentais”. Na licenciatura do mesmo curso, Lívia Pena apresentou a pesquisa “Tanto ele amou a antiguidade: Khaemwaset e o uso do passado”. Já o licenciado Lucas Araújo, falou sobre “O único e resplandecente senhor da eternidade: as várias faces de Aton”.

Cleber Cabral, professor da área de Linguagens e Sociedade e mediador da live, ressalta que o diferencial de um seminário “é a troca de experiências, já que vão ser discutidos pontos de vistas distintos”. Cleber afirma que esse evento acontece com o intuito de “ressignificar as imagens, as representações, a compreensão e o conhecimento que temos sobre o Antigo Egito”.

Até o momento, as transmissões realizadas ao vivo no dia 11.mar.2021 contabilizam mais quase três mil visualizações e seguem disponíveis para acesso, na página de Linguagens e Sociedade e no canal da ESE.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Pixabay e reprodução


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