O Brasil entre as inundações e as secas

Autor: (*)Larissa Warnavin

A emergência climática manifesta-se não apenas através de previsões apocalípticas, mas também nos eventos extremos já vivenciados em nosso cotidiano. Recentemente, a região serrana do vale do Rio Taquari, no Rio Grande do Sul, foi cenário de duas enchentes recordistas em menos de um ano, com a mais devastadora afetando amplamente a infraestrutura e a vida de milhares de pessoas, atingindo cerca de dois terços dos municípios gaúchos. Estima-se que os prejuízos desses eventos ultrapassaram os 300 milhões de reais, uma pequena amostra dos custos econômicos diretos dessas catástrofes.  

Essa tendência de eventos mais severos está diretamente associada ao aquecimento global, que intensifica a evaporação da água e, por consequência, a quantidade de chuvas. Fenômenos como o bloqueio da massa de ar polar pela massa de ar quente, que estava estacionada sobre o território brasileiro resultaram em precipitações anormais. Adicionalmente, o fenômeno climático El Niño intensificou essas condições, impactando com chuvas severas as comunidades gaúchas.  

Globalmente, o panorama não é menos preocupante. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o aumento na frequência de eventos extremos é uma tendência clara e diretamente associada ao aquecimento global. A alteração nos padrões de precipitação, resultantes do aumento das temperaturas, podem tornar eventos como as chuvas intensas e inundações mais frequentes e severas.  

A América do Sul, e o Brasil em particular, enfrentam desafios únicos, devido à sua vasta biodiversidade e geografia diversificada. A região é menos conhecida por fenômenos como terremotos ou furacões, mas as enchentes e secas extremas estão se tornando cada vez mais comuns. Por exemplo, a seca recordista de 2020-2021 teve impactos significativos na produção agrícola e no fornecimento de água e energia, demonstrando como eventos climáticos podem afetar setores decisivos da economia.  

Para lidar com esses desafios, é essencial que o Brasil invista em estratégias de adaptação e mitigação. Isso inclui melhorias na infraestrutura, como alertas eficazes de riscos de desastres, sistemas de drenagem e barragens controladas, além da implementação de políticas públicas que priorizem a gestão sustentável de recursos hídricos e fortalecimento das defesas civis. Também, é fundamental a formação de fundos de emergência que possam responder prontamente a desastres naturais, minimizando prejuízos humanos e materiais.  

Outro aspecto importante é fortalecer os estudos científicos e aumentar a conscientização sobre a importância da preservação ambiental. O desmatamento, ao modificar a cobertura do solo, eleva as temperaturas locais e contribui para o desequilíbrio climático. Apoiar medidas de mitigação e garantir a execução de políticas ambientais rigorosas são etapas vitais para enfrentar esses desafios.  

A crise climática exige uma mobilização ampla e integrada para limitar seus efeitos nocivos. Isso inclui combater falsas informações sobre o clima, incentivar o consumo de produtos locais, apoiar políticos comprometidos com a sustentabilidade e demandar transparência das empresas sobre suas práticas ambientais.  

Estamos diante de um desafio monumental, mas com determinação e ações conscientes, podemos minimizar os impactos adversos do aquecimento global e garantir um futuro mais seguro. Cada gesto conta e, juntos, podemos construir uma resposta coletiva à altura dos desafios que enfrentamos.  

(*)Larissa Warnavin é geógrafa, mestre e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter. 

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Autor: (*)Larissa Warnavin
Créditos do Fotógrafo: Leticia F. Paes/Flickr


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