O bem e o mal da tecnologia para as crianças
Autor: Matheus Pferl - Estagiário de JornalismoA criança e a tecnologia foi o tema do segundo dia do evento “Bate-papo com o Polo Garcez”, que debateu as novas gerações que já nasceram em um mundo com tecnologia, os benefícios e problemas desse acesso por vezes excessivo e “sem filtro”. O evento contou com a participação da mestre em educação e novas tecnologias Ketlyn Sabadini, da psicóloga e orientadora educacional Cristina Barros, da assistente social e professora da Uninter Simone Fernandes e do mestre em desenvolvimento de tecnologia Paulo de Brito.
Fazendo um apanhado histórico, na Idade Média a criança tinha a infância negada, era tratada como um pequeno adulto, depois passamos por um momento de infância industrializada, onde as crianças mais abastadas iam à escola e as que não tinham essa condição acompanhavam seus pais no trabalho. A partir do século 19, passamos pela infância de direitos, onde a sociedade passa a entender que a criança possui características próprias e que a infância é um período importante para o desenvolvimento humano.
No Brasil, pela legislação, a infância é compreendida pelo período do nascimento até os 12 anos de idade.
Técnica ou tecnologia
Técnica é uma ação intencionada, criada a partir da capacidade de apreensão do homem das propriedades objetivas das coisas, já a tecnologia pode ser pensada como um conjunto de técnicas que toda a sociedade possui. A tecnologia evoluiu muito em todas as áreas, inclusive na educação.
O homem se humaniza quando aplica as técnicas naquilo que precisa no momento, pois as técnicas evoluem de acordo com a necessidade. Utilizando sua técnica, ele produz a tecnologia, e são as necessidades que fazem o homem desenvolver as tecnologias.
Confira algumas das principais tendências da tecnologia na educação:
- Lousa interativa
- Robótica
- Gamificação
- Realidade virtual ou aumentada
- Inteligência artificial
- internet das coisas
- Tecnology Analytics (Big data)
Benefícios
Com o uso da tecnologia, temos algumas vantagens, tais como:
- Melhora a interpretação das informações
- Possibilita a discussão dos temas das aulas
- Deixa a aula mais dinâmica e atraente
- Facilita a organização das informações
- Estimula o autodidatismo
- Reduz a evasão escolar
- Inclui os diferentes tipos de alunos
“Digamos que eu tenha um aluno com uma deficiência virtual, para ele acompanhar algo no quadro da sala de aula pode não ser tão fácil, mas com um óculos de realidade aumentada esse aluno poderá muito bem acompanhar a aula com todas as condições necessárias para ele, sem ser prejudicado. A tecnologia auxilia a inclusão” afirma Paulo.
Porém, é necessário ter alguns cuidados. Para as crianças que crescem com a tecnologia, os “nativos digitais”, eles dominam as ferramentas de maneira mais fácil, pois são estimulados desde cedo. Os “imigrantes digitais”, aqueles que não nasceram neste período de tecnologia tão avançada, ter este domínio das ferramentas é mais difícil.
“A Tecnologia é um facilitador, porém temos que entender que a tecnologia sem a intervenção de nós, seres humanos, ela perde suas potencialidades, e pode causar problemas desastrosos” ressalta Ketlyn.
Temos que ter cuidado
Hoje, com a popularização das redes sociais, a maioria das pessoas tem contas nessas redes e por conta disso passa muito tempo ao telefone. Um dos problemas que isso pode causar é a má postura, pois o uso incorreto do celular pode causar danos à coluna cervical. Essa postura de olhar para baixo, abaixando o pescoço, pode ser muito prejudicial. Em jovens e crianças que estão com o corpo em formação, o problema pode ser ainda maior. Como é algo novo, não se sabe dizer ao certo os danos que a má postura pode causar no futuro para esses jovens.
A internet pode ser perigosa em vários casos, por isso é importante saber onde se está pisando e tomar cuidados. Devemos ficar de olho em algumas situações:
- Sexting: ato de compartilhar conteúdos eróticos em aplicativos de mensagens em redes sociais.
- Sextorsão: ameaça de se divulgar imagens íntimas para forçar alguém a fazer algo, ou por vingança, ou humilhação, ou para extorsão financeira.
- Cyberbullying: violência praticada contra alguém através da internet ou de outras tecnologias relacionadas ao mundo virtual.
- Pornografia de revanche: compartilhar publicamente online sem o consentimento conteúdo sexualmente explícito.
- Aliciamento sexual online: facilitar ou induzir o acesso da criança a material sexual contendo cena de sexo explícito ou pornografia.
- Conteúdos inapropriados: conteúdo contendo palavrões, site que incentivam vandalismo, o terrorismo o racismo, o suicídio entre outros.
Em relação à segurança dos aplicativos, é algo que temos que estar sempre de olho, pois muitos foram considerados perigosos para crianças e adolescentes. O Tik Tok foi acusado, em janeiro deste ano, de usar seus algoritmos para impulsionar conteúdos sensuais (o que também acontece em outras redes sociais) sem bloqueios para menores de idade. Diante da repercussão negativa, a plataforma alterou as configurações de privacidade e trancou os perfis de quem tem entre 13 e 15 anos.
Outros aplicativos como Tinder, Snapchat, Kik, OkCupid, Chatspin, Whisper, entre outros, não permitem ter um controle sobre o conteúdo compartilhado e nunca se sabe a veracidade das informações. “O adolescente, quando não é bem assessorado, não vem conversar com os pais ou professores, acaba indo para a internet e isso acaba sendo um problema, pois são ambientes de anonimato, sem controle”, completa Ketlyn.
Para os pais que desejam ter um controle sobre o que o filho tem acessado com o celular, existem aplicativos que podem ajudar, tais como Family Link, Adblock, Kid Control, Life 360, Screen Time, entre outros. São apps que ajudam a bloquear certos acessos a conteúdos, que trazem um relatório e uma análise sobre o que o filho acessa, e até rastreiam os passos do filho, seja na rua ou no próprio celular. “Nos precisamos ter um diálogo, não é só instalar um aplicativo de controle e pronto. Deve haver uma conversa, a criança tem que entender o porquê, que a internet não é um mar de flores. É uma orientação em caráter de acompanhamento”, diz Ketlyn.
É importante negociar o tempo diário do acesso online com os seus filhos, e orientar que eles tenham liberdade com responsabilidade, e que devem cuidar antes de compartilhar qualquer coisa, imagens, vídeos, para que não se arrependam depois. A internet não guarda segredo.
Devemos reforçar que ter um celular é uma grande responsabilidade, e ao acessar algum conteúdo que cause medo ou desconforto, os filhos devem procurar os pais e relatar os fatos, buscar ajuda. Além disso, é fundamental ter a reflexão de que as crianças podem utilizar a internet sim, porém de forma orientada e acompanhada pelos pais. Proibir o uso não educa e não previne.
Autor: Matheus Pferl - Estagiário de JornalismoEdição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Pixabay e reprodução