O ano do pensamento mítico: o que os seus sonhos têm a lhe ensinar

Autor: Julia Siqueira - Estagiária de Jornalismo

Hoje em dia é muito comum encontrarmos a palavra “neurociência” associada a descobertas e estudos científicos da medicina. Esse é um dos motivos pelo qual muitas vezes pensamos nesse campo como algo exclusivo da medicina, o que não é verdade.

A neurociência é a área responsável por estudar o sistema nervoso e suas funcionalidades, além de suas estruturas e mudanças. Apesar de ser comumente confundida com a neurologia, área específica da medicina que estuda as doenças e desordens que afetam o sistema nervoso, a neurociência não é um campo particular da medicina.

Na verdade, trata-se de uma ciência multidisciplinar, que envolve conhecimentos de diferentes áreas. É por este motivo, inclusive, que ela faz parte do campo de interesse de muitos psicólogos, fisioterapeutas e até mesmo professores.

Reginaldo Hiraoka é um exemplo de professor que se interessa pela área. Ele participou da Semana Acadêmica dos Docentes da Uninter, no dia 28 de janeiro, ministrando a oficina “Acolhimento e Neurociência”.

Formado em parapsicologia, filosofia e antropologia, Hiraoka dedica-se a estudar como os sonhos e as perguntas podem melhorar exponencialmente o desempenho dos estudantes. Isso através da neurociência comportamental, que busca compreender como funcionam as bases biológicas dos nossos processos mentais e da nossa consciência.

“Uma das áreas que a neurociência estuda é a da memória. Ela tem relações com o sono, o aprendizado e a fixação de conteúdo com os sonhos. Pessoas que lembram mais dos sonhos podem ter melhor fixação dos conteúdos aprendidos. Tudo isso ocorre no cérebro, só que de modo inconsciente”, explica ele.

A oficina

Logo no início de sua fala, Hiraoka propôs uma reflexão aos professores presentes: “Como vocês pensam?” Entre respostas mais complexas, explicando o processo orgânico do corpo, e respostas mais descontraídas, como a tradicional “com a cabeça”, o palestrante colocou algumas limitações. “Não é sobre o que você pensa, nem com o quê, nem o porquê, nem para que e muito menos sobre o que faz você pensar”.

Pode parecer simples, mas essa delimitação nos conduz a respostas muito mais complexas. Basicamente, como explica o parapsicólogo, existem duas formas de pensamento: o lógico e o mítico. Este primeiro está relacionado à forma mais racional e coerente de enxergar as coisas. Já o mítico conecta-se com o pensamento intuitivo, analógico e até mesmo comparativo. É com ele que os sonhos trabalham, por exemplo.

Este foi o ponto de partida da oficina. Apesar de responder como pensamos apenas ao final da dinâmica, Hiraoka usou o gancho de algumas respostas mais lúdicas para introduzir a importância dos sonhos e das perguntas no processo educacional, e como usar estes elementos para acolher todos os tipos de conteúdo em sala de aula.

“Por que eu trouxe o assunto do sonho? Porque o sonho é um conteúdo que acontece no período noturno, onde a nossa consciência e o nosso cérebro estão dormindo, mas tem atividade neural. Tem imagens nos sonhos, tem sons, às vezes tem gostos e sensações. Tem uma série de coisas que acontecem dento do cérebro enquanto dormimos. E a ideia é pensar como seria acolher os sonhos, falando com os alunos, utilizando uma metodologia socrática, que seria só fazendo perguntas”, diz ele sobre a escolha do tema da oficina.

Para deixar o conceito mais claro, o palestrante usou a dinâmica “se esse sonho fosse meu”. Os professores presentes se separaram em pequenos grupos, em que um dos integrantes deveria contar um dos seus sonhos, fosse ele recente ou não. Os demais membros da equipe, ao terminarem de escutar a história, deveriam fazer perguntas sobre o sonho, tentando captar o máximo de detalhes e entendê-lo melhor. Ao final, cada pessoa compartilhava com o grupo o que aquele sonho significaria em sua vida, se o sonho fosse dela.

Ao término da dinâmica, alguns grupos comentaram como foi fazer a brincadeira, e as respostas foram parecidas: criou-se um sentimento de empatia por aquela situação, por mais que ela não fosse real.

Hiraoka concluiu explicando que ao fazemos perguntas, criamos um certo vínculo afetivo e esse, por sua vez, pode fazer com que a comunicação ocorra de uma forma mais efetiva. Isso pode ser observado por meio dos sonhos, que trazem uma grande carga de memórias do dia a dia, além de terem parte no processo criativo e na proposta de buscar soluções para nossos problemas. “Por isso precisamos valorizar os sonhos, lembrando, anotando, compartilhando e interpretando”, comenta ele, encerrando sua apresentação.

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Autor: Julia Siqueira - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pixabay e Lucas Vasconcelos - Estagiário de Jornalismo


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