O amor próprio e o poder transformador das pequenas derrotas

 

OPINIÃO – Vicktor Flores*

 Nesta semana eu acompanhei muitos assuntos interessantes, como uma mulher que roubou um ônibus para encontrar com o namorado, mais denúncias contra o Temer, a união do vereador, prefeito e deputado federal para tentar salvar o Grendacc e a guerra eminente que pode mudar a vida de todos nós, mas talvez falar sobre algo bom seja melhor do que explicar todas essas coisas ruins.

Muitos pensadores da antiguidade tentaram definir o amor. Platão caracterizava o amor como Eros. O desejo. Segundo ele, amamos enquanto desejamos e se acaba o desejo, acaba o amor também. É este o amor platônico. O amor inalcançável. O amor infeliz. Aristóteles disse que o amor é Philia. É o oposto de Platão, é aquilo que temos. Aquilo que possuímos, aquilo que está presente. Jesus definiu o amor como Ágape. É aquilo que você cede para o outro. É o amor do outro em detrimento do seu. É a felicidade do outro que te faz bem.

Todos estes pensadores estão corretos e é preciso saber diferenciar um do outro para se ter uma vida plena, isso porque somente sabendo diferenciar um sentimento de outro é que se pode entender o amor e também a falta dele. E a mais cruel falta de amor é o amor próprio. O amor é antes de tudo, respeito. É preciso antes de amar o outro, seja quem for, se dar o amor que julga ser merecido. Vamos entender o motivo.

Ligamos a televisão de manhã atrasados para ir ao trabalho, as notícias não são boas, nunca são. Sempre alguém matou, roubou, traficou ou tem uma denúncia nova de corrupção. No intervalo comercial, você está quase terminando sua xícara de café e é inundada de informações de como você deve se vestir, o que deve comer, que carro deve dirigir, qual absorvente deve usar e qual faculdade deve cursar para ser feliz, porque se não fizer nenhuma dessas escolhas que foram escolhidas para você, sua vida será uma droga.

Tudo bem, hora de sair, uma rápida olhada no Facebook. Logo de cara ele te mostra um pouco de fatalidade. Um ou dois amigos de amigos estão com uma foto de perfil que diz “luto – saudades eternas”. O restante são fotos lindas e mensagens amor: sua amiga está com um corpo perfeito na praia, seu amigo comprou um carro novo e tirou uma foto com ele fazendo o sinal de paz e amor em frente da balada, uma outra colega está com uma garrafa de Sky na mão e a legenda diz claramente o quanto ela é mais feliz que você. Para dizer que faz parte do clube, para mostrar que você gostou, você dá um like e assim começa seu dia.

A questão é que o outro parece ser sempre mais feliz, mas acredite, ele não é. Seus amigos passam exatamente pelos mesmos problemas que você. Eles estão tão obcecados em busca da felicidade quanto você. Eles querem tanto um aumento de salário quanto você. Eles têm tristezas que só eles conhecem, como você. A cultura da ignorância nos colocou em um momento da história em que precisamos fazer parte, estarmos presentes, sermos in para sermos alguém, mas isso é uma grande mentira. A felicidade são aqueles segundos que você gostaria que fossem eternos e por isso precisamos apreciar estes momentos que não estão à venda. Dinheiro, carro novo, uma viagem, nada disso faz de ninguém mais feliz.

O primeiro passo para ser feliz é se levantar de manhã, se olhar no espelho e saber que aquela pessoa que você está vendo é a melhor pessoa que você poderia ter a seu lado. É entender de uma vez por todas que você pode errar sim. É um direito seu não ser perfeita. É saber que você pode ganhar pouco no trabalho, mas outros treze milhões de brasileiros também estão na mesma situação. Que o amor tão grande que um dia foi embora não era pra você, porque se fosse ele não teria acabado. É dizer não para as coisas ruins e realmente dar um like para as coisas que realmente te importam. É se orgulhar com todas as forças da sua comidinha simples no final de semana porque é uma conquista. É lembrar que se está passando por uma fase difícil de doença na família e está segurando a barra sozinha, você tem todo o direito de chorar, de se sentir triste, mas tem também todo o poder de levantar e seguir em frente dando o seu melhor.

O amor próprio é algo que deve estar em primeiro lugar na sua lista de tarefas e deve ser a última coisa que você lembra antes de dormir. É ele que vai te dar forças para amar seu filho, para fazer o melhor no seu trabalho, para ser admirada, para conseguir atenção ao que realmente importa e o que realmente importa é você. Experimente se amar como gostaria de ser amada. Você não tem noção do quanto sua vida vai mudar com isso.

* Vicktor Flores é jornalista e estudante do curso de Filosofia a distância da Uninter

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