Novas possibilidades para o biólogo em levantamentos de campo

Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo

A biologia é definida como o estudo da vida em todas as suas formas. Tão ampla quanto o significado da palavra, a área de atuação de seus profissionais não se limita aos laboratórios: antes da análise, é necessário que a coleta seja feita em campo. Os processos de pesquisa são variados e reúnem um corpo profissional polivalente, atuando do estudo da saúde à preservação do meio ambiente.

A fim de apresentar as possibilidades profissionais das Ciências Biológicas em campo, a 1ª Semana da Biologia da Uninter contou com uma mesa-redonda no dia 04.set.20. As palestras de Flávia Yoshie Yamamoto e Andreas Meyer trouxeram experiências do dia a dia de biólogos que atuam na obtenção de dados em diferentes áreas da ciência.

Flávia estuda a poluição das águas desde que ingressou na pesquisa científica. A ecotoxicologia, prática recente que analisa os efeitos tóxicos causados por poluentes em ecossistemas, é o principal método de trabalho usado pela bióloga. “É uma importante ferramenta para avaliação do impacto ambiental. Ela também é importante porque tem como objetivo tentar prevenir esse impacto antes que ele se torne irreversível”, resume a pós-doutoranda.

Quanto à contaminação hídrica, a pesquisadora explica que a principal causa se dá pelo elevado crescimento populacional dos últimos séculos. Mais pessoas, mais consumo, menos recursos naturais. “Ao mesmo tempo em que a gente precisa consumir mais água, a gente degrada a qualidade dela. Ou seja, acaba poluindo a água e reduzindo a quantidade disponível para consumo”, afirma.

A maior parte dos estudos sobre poluição se concentra nas águas, pois seus contaminantes são variados e de fácil disseminação. O alto volume de lixo produzido pelos centros urbanos, os rejeitos de indústrias, compostos farmacêuticos, cosméticos e resíduos de agrotóxicos da agricultura são alguns exemplos de poluentes.

A ecotoxicologia pode ser aplicada em bioensaios, de modo a avaliar os efeitos de substâncias químicas nos organismos estudados. Dessa forma, a situação é controlada pelo pesquisador, mas sem as condições reais de exposição aos agentes tóxicos. É uma reprodução de cenário que pode ser estendida até ao nível celular, evitando o contato com seres vivos.

Outra forma de produzir esses ensaios é em estudo de campo. O biólogo vai até o local contaminado e avalia o grau de exposição de toxicidade nos organismos vivos daquele ambiente. Esse método, por se tratar de uma situação real, conta com variáveis que podem influenciar nos resultados da pesquisa. “É difícil de ter um controle. Você não sabe o quanto [de variações] está influenciando na resposta”, relata Flávia.

Biologia e big data

A segunda parte da apresentação ficou por conta do doutor Andreas Meyer, que relatou uma diferente inserção na carreira das Ciências Biológicas: a biologia computacional. A atuação de Meyer está na análise de dados a partir de ferramentas tecnológicas, com o uso de ciência da computação, estatística e matemática.

O professor aponta que a cultura do compartilhamento de dados levantados em campo surgiu nos anos 2000, com o avanço da internet e o conceito de armazenamento em nuvem. O grande volume de informações e a entrada da biologia na era digital criaram um importante modo de construção do conhecimento. “Os cientistas passam a reconhecer que os dados não funcionam apenas como um precursor de publicações científicas, mas eles também são um dos principais produtos da pesquisa científica”, ressalta Meyer.

A expressão “big data” diz respeito à análise de um grande volume de dados por meio de ferramentas não convencionais, como os supercomputadores. Como exemplo de aplicação dessa técnica de interpretação de informações, o biólogo destaca o registro de espécies de organismos, a ecologia e evolução de ecossistemas e dados climáticos.

O biólogo afirma que o volume de informações disponibilizadas é grande, necessitando de mais profissionais dispostos a essas análises. Da mesma forma, há a urgência para o desenvolvimento de ferramentas e métodos de interpretação para otimização e qualificação das pesquisas.

O profissional que saiba lidar com esses dados também pode encontrar espaço em outras áreas, diz Meyer. Segundo pesquisas da empresa de recrutamento Hays, os cientistas e analistas de big data estão entre as funções mais requisitadas no mundo desde 2016, em países como Estados Unidos, China, França e Rússia.

Embora seja considerado um avanço significativo, o uso de big data na biologia encara uma série de desafios. O primeiro deles, de acordo com o cientista, é o volume de dados: apenas máquinas específicas podem trabalhar esse conteúdo, como as imagens feitas por satélites. “Não cabe no seu computador, mesmo que você quisesse analisá-los. Você vai poder analisar uma parcela deles [dados], mas, para pegar tudo, não tem como”, explica o biólogo.

Outro problema citado por Meyer é a variedade dos dados e as relações entre eles. Características de espécies animais podem estar correlacionadas a definições geográficas, por exemplo. Na visão do professor, o cruzamento de informações para criar novas perspectivas é válido, mas há a necessidade da criação de protocolos padronizados de formatação e compartilhamento para que a análise seja compreensível.

A confiabilidade dos dados também é questionada pelo apresentador. Erros na digitação das informações, identificação das espécies ou em equipamentos descalibrados são os mais comuns. É importante criar métodos de checagem e comparação como forma de garantir a qualidade dos dados e, consequentemente, da pesquisa toda.

Por último, Meyer destaca a velocidade em que os dados são gerados. “Eu não preciso só saber analisar isso aqui. Eu preciso analisar de forma eficiente para que [o resultado] seja rápido”, finaliza.

As palestras fizeram parte da programação da 1ª Semana de Biologia da Uninter, organizada pela área de Geociências e a Escola Superior de Educação. Com apresentações de 31.ago.20 a 04.set.20, todas elas podem ser conferidas no Facebook ou YouTube.

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Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Zardeto/Wikimedia Commons e reprodução Facebook


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