Nem pandemia segura Silvia Soraia, a mãezona do atletismo paralímpico

Autor: Bárbara Possiede - Estagiária de Jornalismo

Quem a viu caminhando na pista de atletismo vazia não imaginava o que estava por vir. O dia 16 de março, aniversário de Silvia Soraia da Silva, que normalmente é repleto de comemorações com toda a equipe, neste ano foi bem diferente. A data marcava o início da quarentena forçada em virtude das medidas de isolamento social. O Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, localizado na cidade de São Paulo (SP), precisava ser fechado. Os atletas precisariam retornar a suas casas e a “mãezona” Silvia teria de reinventar sua rotina.

Integrante da equipe técnica da seleção brasileira de atletismo paralímpico, Silvia é aluna de pós-graduação do curso de Gestão e Marketing no Esporte da Uninter. Profissional de Educação Física e pós-graduada em educação motora e educação física especial, hoje ela ocupa um papel importante dentro do universo paralímpico brasileiro. Além do atletismo ela ainda apoia a modalidade da natação e presta suporte para os atletas.

A história de Silvia com o esporte adaptado começou na época de faculdade, mais especificamente em 1996, quando era estagiária. Ela trabalhou com as categorias de base e com a iniciação esportiva do esporte para deficientes em ONGs, prefeituras e Centros Educacionais. “É o projeto da minha vida. Uma área com que me identifiquei e não abro mão”, afirma.

Hoje, no esporte de alto rendimento, Silvia sabe que as coisas são diferentes. Segundo ela, quando se está buscando apenas qualidade de vida, “se acertar ou errar uma cesta, está tudo bem”, mas para o alto rendimento não. “O atleta paralímpico é um atleta como outro qualquer. Ele não é descaracterizado pela deficiência, o treinamento é igual e a cobrança também”, enfatiza.

Silvia sabe de todos os esforços dos atletas, sabe que muitos deixam suas casas em diferentes lugares do país para morar temporariamente em São Paulo e utilizar a estrutura do centro de treinamento. Nesses meses em que os atletas abrem mão de seus lares e familiares em busca de um objetivo maior, ela se encarrega de ser a “mãezona”.

“Eu sempre tento ajudar e estar próxima. Eu venho da base. Eu não cheguei direto no alto rendimento onde tudo é lindo, eu fui subindo devagarzinho até chegar onde estou hoje no comitê. Tudo isso me fez ver não só o atleta, mas a pessoa. Por isso eu vejo a importância dessa ajuda no estilo família dentro de um trabalho”, explica.

Silvia está tão inserida no movimento paralímpico que sua própria família também vivencia esta realidade. O marido, professor de educação física, também trabalha com o esporte adaptado e o filho de 10 anos já nasceu no mundo dos esportes paralímpicos.

Expectativa para a Paralimpíada

Os excelentes resultados alcançados pelos atletas brasileiros nos Jogos Parapan-Americanos em Lima e no Mundial de Atletismo Paralímpico em Dubai, ambos realizados no segundo semestre de 2019, tinham aumentado a expectativa para os Jogos Paralímpicos de Tóquio neste ano.

Mas a saudade deixada pela última edição dos jogos, realizados em casa na Rio 2016, vai permanecer um pouco mais. Em virtude da pandemia do coronavírus, a Paralimpíada foi adiada e ficou marcada para 24 de agosto a 5 de setembro de 2021, um ano depois do previsto.

A pandemia mudou mais do que a data da competição tão desejada, mudou também a rotina de todos os atletas e comissão técnica. Desde 16 de março, os treinos presenciais não podem ser realizados. Foi o presente triste que Silvia recebeu de aniversário esse ano.

“Não deu nem para cantar os parabéns. Agora temos que nos adaptar. Éramos em média 100 pessoas só do atletismo, costumávamos nos encontrar para os treinamentos todos os dias em 2 ou 3 períodos. Agora nossos encontros acontecem apenas por vídeo”, relata.

Adaptação. Esse é o lema para que a preparação não pare. Em todo o período de quarentena os treinos continuaram acontecendo a distância. E o comitê estuda estratégias para poder retornar aos treinos presenciais.

“Estudamos inclusive deslocar os treinamentos para outro estado, fazer uma quarentena com os atletas em outro local, já que São Paulo ainda vive uma situação difícil. Precisamos voltar a treinar juntos, mesmo que em grupos reduzidos, precisamos nos certificar de que todos estejam treinando em boas condições”, explica.

Quando questionada se todos estarão preparados para o desafio do próximo ano, Silvia foi sucinta: “Temos um ano para recomeçar Tóquio. É um período ruim? Não, desde que a gente comece. Vamos chegar lá, devagar e sempre, vamos chegar”.

O curso na Uninter

Se por um lado a pandemia trouxe algumas mudanças forçadas e complicadas no cotidiano dos treinos, por outro ela permitiu uma dedicação maior aos estudos. Silvia conta que em virtude das grandes competições em que esteve presente no ano passado, algumas disciplinas do curso acabaram sendo postergadas. “Essa foi a parte positiva da pandemia. Se eu tivesse realizado no ano passado, teria sido na correria e eu não teria dado a importância que estou dando agora”, diz.

Ela confessa que no início ficou em dúvida e se questionou se deveria realizar a pós-graduação em Gestão e Marketing no Esporte. “Eu imaginava que algumas disciplinas não teriam nada a ver com o meu dia a dia, ou com a educação física”. Mas admite que mesmo depois de 24 anos atuando na área, ainda encontra muitos aspectos que podem contribuir em sua carreira profissional.

“Estou gostando muito. Imaginava que algumas disciplinas como marketing e gestão financeira não tinham relação com minha realidade, mas isso interligou muitas coisas no meu dia a dia. Descobri que vem bem ao encontro do meu trabalho hoje”, conclui.

Para saber mais sobre a história de Silvia, acompanhe a matéria em vídeo.

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Autor: Bárbara Possiede - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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