“Na nossa sociedade, é tabu falar sobre isso, porque as pessoas têm medo”

Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação

Em rodas de conversa ou em ambientes educacionais, as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) ainda são um tabu. Mas o assunto desperta curiosidade, principalmente dos jovens, e se mostra cada vez mais necessário quando são apresentadas as maiores incidências de infecção por sífilis, hepatites e HIV.

Só em 2021, o Boletim Epidemiológico de HIV/Aids divulgado em 2022 apresenta que mais de 28,9 mil pessoas entre 15 e 39 anos foram infectadas por HIV, sendo a maior parte homens – mais de 22,6 mil. Enquanto o Boletim Epidemiológico Sífilis 2023 mostra que foram notificados mais de 1,2 milhão de casos adquiridos entre 2012 e 2022, com 2.153 óbitos por sífilis congênita. As informações foram noticiadas pela Agência Brasil.

Pelo terceiro ano consecutivo, o doutor em Saúde e Meio Ambiente Willian Sales e a mestre em Ciências Farmacêuticas Ana Paula Weinfurter, coordenadores de Pós-graduação na Uninter, realizaram uma palestra sobre ISTs para a turma do Programa Jovem Aprendiz. A parceria entre o IBGPEX, instituto de responsabilidade socioambiental da Uninter, e o grupo educacional, reúne 39 aprendizes que atuam nas mais diversas áreas da instituição.

Os profissionais palestrantes atuam de forma voluntária para levar mais conhecimento acerca das principais infecções e prevenções. “O que a gente faz é uma das questões mais importantes para nós profissionais, que é a educação da saúde, levar formas de prevenção para esse público tão importante. Para que conheçam as principais ISTs e se previnam de alguma forma”, afirma Willian.

A professora Ana Paula explica que o foco é a prevenção e a educação para que busquem acompanhamento médico e façam exames frequentemente. “Tem muita coisa gratuita e, às vezes, as pessoas não sabem”, salienta. De acordo com a profissional, a inconsequência da juventude é um dos principais perigos, pois não têm o hábito de pensar sobre o que fazem ou mesmo nas consequências a longo prazo.

“Tem que ficar de olho se aparece alguma secreção diferente que não é comum, alguma lesão. Uma coisa que a gente falou bastante para eles é olhar as partes do corpo na hora de tomar banho, tocar e realmente observar. Mas tem as que não têm sintomas, né? Então, manter acompanhamento e, em caso de ter comportamento de risco, ir atrás de um teste, uma verificação”, alerta Ana Paula.

A assistente social do IBGPEX, Fernanda Milane, explica que o conteúdo é obrigatório dentro do programa e entra como tema transversal, muito importante principalmente em uma turma composta por adolescentes de 14 a 18 anos incompletos. Fernanda percebe a evolução e ansiedade dos jovens para tirar as dúvidas sobre questões do dia a dia, além da curiosidade natural da idade.

“A educação sexual é muito importante, ainda mais para pessoas em situação de vulnerabilidade que não têm um encaminhamento para o SUS [Sistema Único de Saúde]. Eles têm acesso, mas como chegar lá? Só vai ter acesso quando tem algum problema. Não para prevenir e sim quando já aconteceu”, ressalta.

Fernanda acrescenta que “adolescentes são muito curiosos, só que não sabem como e a quem perguntar. Quando você dá acessibilidade para que eles tirem dúvidas, se torna essa interação gostosa entre professor e aluno”.

Maryana Christina dos Santos e Felipe Barbosa Gabriel, ambos com 17 anos, são aprendizes na Uninter, nos setores de Gestão Contábil e Tributária e Central de Estágios, respectivamente. Os jovens dizem que, até então, o assunto havia sido abordado apenas no colégio, mas de forma breve e superficial. Muitas vezes, em atividades realizadas pelos estudantes apenas para conquistarem as notas necessárias.  “De maneira aprofundada e explicada, só nessa apresentação mesmo [com os professores Willian e Ana Paula]”, afirma Felipe.

“Foi algo bem dinâmico, não foi nada pesado. Precisamos tirar as nossas dúvidas, acho importante termos esse tipo de informação mais aprofundada. Muitas problemáticas acontecem hoje, tanto uma gravidez inesperada quanto várias doenças que citaram, por falta de informação. Foi muito legal, eles trouxeram uma aula bem divertida”, declara Maryana.

Para os aprendizes, o que mais chamou atenção foram as 15 ISTs apresentadas por Willian e Ana Paula, algumas que os jovens mal sabiam da existência. Maryana gostou de adquirir mais conhecimento sobre como se proteger e também cuidar do outro, enquanto Felipe pensa que é um momento para se conscientizar sobre o assunto de maneira correta e não minimizar as consequências das infecções.

“Na nossa sociedade é tabu falar sobre isso, porque as pessoas têm medo. Principalmente na idade que estamos, é muito importante, porque, querendo ou não, pessoas mais velhas não têm esse conhecimento. Para termos uma visão mais ampla, sem tabus, deixar falar de forma mais livre. Tanto para a formação do coletivo quanto do individual, porque é um tema de cuidado coletivo, mas de saúde pessoal”, conclui Felipe.

Willian e Ana Paula salientam a importância de que o assunto seja amplamente discutido na sociedade com frequência e não apenas em períodos de campanhas, como normalmente acontece no Outubro Rosa e no Novembro Azul. Aliar o conhecimento, educação e saúde em linguagem que as novas gerações entendam e consigam ter as orientações corretas e se previnam de forma adequada.

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Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Nayara Rosolen


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