Música nas veias e educação no coração de José Maurício

Autor: Evandro Tosin - Jornalista

Com 16 anos de idade, o padre e compositor brasileiro José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) criava a sua primeira peça musical, Tota puchra Es Maria (Tu és toda formosa, Maria). Após a chegada da Família Real na colônia, em 1808, Dom João fica admirado pelo talento do sacerdote e o nomeia mestre da Capela Real. Entre as funções, estavam a de compor músicas e reger cerimônias da corte. Mais de um século depois, o prodígio reverendo iria inspirar novas gerações de músicas e pessoas.

Em 1954, na cidade de Mafra (SC), nascia a banda Padre José Maurício em homenagem ao maestro carioca. Entre os fundadores estava Lauri Lopes. Ele e a esposa, Maria Neusa dos Santos Lopes, tiveram um filho e escolheram o nome de José Mauricio dos Santos Lopes para replicar o tributo.

A banda realizava apresentações musicais na cidade e região. Em casa, José Maurício já convivia com os ensaios. Era um ritmo dois por quatro. Aos seis anos de idade, acompanhava o seu Lauri nos estúdios de rádio na década de 1960. Na época, assistia ao pai e à banda nas rádios paranaenses e catarinenses. O conjunto musical tocava clássicos como “Moon River”, de Audrey Hepburn.

“Queria ser igual o meu pai. É o herói sem capa e máscara. Admirava muito, um exímio músico e maestro. Viajava muito a São Paulo porque precisava assinar as partituras”, lembra José Maurício.

A partir disso, aflorava o interesse musical no garoto. Se fosse preciso afinar os instrumentos, carregá-los e praticar o ensaio, ele estava sempre disposto. “Foi surreal, e pensei comigo: ‘vou viver da música’. Mas a vida nos mostra caminhos diferentes e nem tanto musicais, muito menos harmoniosos”, relata.

Com 10 anos realizou a primeira apresentação musical como baterista. Aprendeu com o pai a tocar saxofone. Hoje, toca 18 instrumentos. Na função de percussionista participou do programa de calouros “Expresso da Quinta”, na Rádio B2, em Curitiba (PR), comandado por Mário Vendramel. Lá, José Maurício ganhou o primeiro lugar na disputa. Foi a primeira participação com o público, o que tocou seu coração de forma extraordinária.

Depois, Lauri levou o filho para tocar no primeiro baile de carnaval em Mafra. “Fomos descobrindo a sonoridade, o ritmo e a valsa, até mais tarde participar de bandas profissionais, tocando bateria e percussão junto com meu pai”, diz o músico. Entretanto, estudar em um conservatório estava fora de cogitação. Não tinha condições de frequentar o espaço. O sonho ficou fora do repertório.

No microfone e nas ondas do rádio

O que José Maurício sabia fazer era tocar nos bares e bailes. Entretanto, em seu primeiro vestibular, decidiu estudar Ciências Contábeis e se formou na área. Mas as ondas do rádio mudaram a navegação de seu percurso.

“Na minha adolescência, descobri outro grande instrumento que me incentivou a lutar pelos meus sonhos: o rádio. Durante 35 anos dediquei-me exclusivamente a essa ferramenta de comunicação, que é a mais encantadora de todas”, conta.

Passou por diferentes rádios e emissoras de televisão em Santa Catarina: Transamérica, Cidade, Rede Nova, Rádio Clube, Band, Jovem Pan, Rede Brasil Esperança, SBT e Record. Foram três décadas compartilhando energia, emoção e o companheirismo aos ouvintes.

Veias que pulsam música

Atualmente, José Maurício é servidor público em Mafra, onde trabalha como agente administrativo na Casa da Cultura da Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Cultura. Em 2019, ele percebeu um “chamado” para voltar a estudar.

“Aquela voz que bate no meu coração dizia: ‘procure um curso de Música a distância’. São fatos, não é coincidência. Sentei em frente ao computador e a primeira [página] que apareceu na busca foi o curso de Música pela Uninter. Procurei saber mais. Naquela mesma semana as inscrições estavam abertas, fiquei muito feliz. Durante muitos anos procurei estudar em conservatório, mas era muito caro, tinha que deixar minhas coisas, mudar de cidade”, rememora.

Em março daquele ano, ele se matriculou no curso de licenciatura em Música da Uninter no polo Rio Negro (PR). Graduado em março de 2023, aos 62 anos, José passou a atuar como professor de música. Prestou o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) e lembra com carinho do exercício de analisar as partituras de Bach e Mozart.

Ser filho de músico e levar seu legado adiante não é uma tarefa fácil. Durante a jornada, ele procurou se aprofundar ainda mais no conhecimento musical, mas percebia que faltava algo. Foi então que descobriu na Igreja um novo motivo para não só tocar um instrumento, mas para louvar a Deus.

“Lá estava eu, tocando as mais belas melodias escritas e ao mesmo tempo tentando tirá-las em meu velho saxofone presenteado pelo meu pai. Era um cenário mágico e perfeito de aprendizagem. Em vez de sangue, são notas musicais correndo dentro da minha veia”, diz.

Recentemente surgiu a oportunidade de ensinar música, através do convite de um maestro e também membro da igreja que ele participa. Por lá, teve a experiência de lecionar para um aluno de 92 anos, que apreendeu a tocar violino.

“Imediatamente lembrei de meus pais quando falavam ‘não guarde o conhecimento só para si, divida-o com quantos puder e ajude a melhorar a vida das pessoas. Essa será sua missão na Terra’, e assim tem sido, até os dias de hoje”, lembra.

Um maestro sob a batuta de mestres

José Maurício também é regente da orquestra filarmônica de Mafra. Neste momento, tem uma nova missão: montar a banda municipal com participação de crianças da rede pública de ensino. Trompetes, trombones, fagotes e outros instrumentos farão parte da banda.

“Deixo o meu agradecimento especial à Uninter, que me proporcionou a realização deste sonho que parecia tão distante. É um mix de euforia e encantamento. Foram quatro anos na educação a distância e usufruindo desta tecnologia que move o mundo e nos aproxima em tempo real. Com toda a infraestrutura da Uninter, ela me proporcionou a realização deste sonho”, relata.

“Iniciei como tantos, cheio de dúvidas que foram sanadas com maestria pelos orientadores pedagógicos do polo Rio Negro e pelos professores em Curitiba. E hoje, considerando-me formado, sinto-me disposto e estimulado a prosseguir na jornada em busca de mais conhecimentos. Tudo indica que continuarei estudando e em breve vou me matricular no curso de pós-graduação e no mestrado”, conclui.

Veja o vídeo de José Maurício tocando na iniciativa #1minutodetalento promovido pela Central de Notícias Uninter, em 2020, clicando aqui.

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Autor: Evandro Tosin - Jornalista
Edição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica


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