Mulheres grafitam 5 mil m² em Itapevi. Alunas da Uninter estavam lá

Autor: Fillipe Fernandes - Estagiário de Jornalismo

Você já deve ter ouvido falar do muro de Berlim, construção que dividiu a capital da Alemanha em duas partes e representava uma fronteira ideológica e política durante a Guerra Fria no século 20. O lado ocidental era capitalista, e o oriental, socialista. Depois da reunificação, parte do muro se tornou uma galeria ao ar livre e passou a se chamar East Side Gallery, ressignificando aquele espaço que antes dividia o mundo em polos opostos.

Inspirada no exemplo alemão, há 1 ano a cidade de Itapevi, na grande São Paulo, decidiu transformar um muro em uma tela gigante, a West Side Gallery. Dezessete artistas mulheres produziram 5 mil metros quadrados de grafite no muro da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) que integra o chamado Corredor Oeste. A iniciativa contou com a participação de duas alunas do curso de Artes da Uninter, Aline Ribeiro, conhecida como Tuka, e Letícia Oliveira, a Lelê.

Em entrevista para o programa Encontro, da Rede Globo, Tuka comentou sobre sua participação no projeto e a homenagem que seu desenho faz à sua filha Lara. “Eu fico muito feliz em participar de um projeto tão importante, que valoriza a mulher, a arte feminina. E não sou apenas eu, tem outras artistas, todas talentosas. É muito gratificante. Que seja o começo de outros projetos que também valorizem a mulher e a vida”.

Lelê, mesmo trabalhando há 15 anos com artesanato, não conseguiu conter o nervosismo pela responsabilidade de pintar um mural na cidade. “Arte é a sua expressão, não tem como falar qual é melhor ou pior. A proposta que eu queria passar estava saindo. Desde o primeiro dia, o pessoal passava, elogiava, isso foi me deixando mais motivada. Mas confesso que tive medo até o último dia. Quando terminei e vi a obra pronta, foi um alívio e sensação de dever cumprido”, comentou, em participação no programa Evelise Lima, transmitido via Facebook.

Tuka entende sua arte como um dom. Algo que sempre soube que quis fazer. “Eu me destacava nas aulas de arte. Nasci com o dom de desenhar, já pintava. Desde a escola eu conhecia pessoas que faziam grafite e por meio delas fui entrando nesse universo que eu tanto queria. A minha profissão sempre foi ensinar artes. Minha primeira oportunidade foi em um estágio que me permitiu dar aulas. Sempre quis ensinar os outros a fazer arte”, explica a artista.

Lelê é formada em moda e tem um ateliê, Iris Ateliê Criativo, na casa de seus pais. Por lá, faz patchwork, bonecas de pano, itens para bebês, entre outras artes. Por mais que sua primeira graduação também envolva criação, as carreiras de artesã e designer de moda são diferentes. “Consigo enxergar isso agora. Antes eu tinha o entendimento de que era preciso escolher uma área e fazer apenas uma coisa da vida. Hoje, já entendo que cada aprendizado agrega à profissional que eu sou. Um pouquinho que você faz, vai pegando experiência”, diz Letícia.

A West Side Gallery foi feita inteiramente por mulheres para incentivar sua participação no mundo da arte de rua. Tuka explica que mesmo com avanços, o machismo ainda é um problema na área. “Eu procuro sempre absorver o melhor de tudo. O pior eu ignoro e vou seguindo minha vida. Não deixo me levar por comentários. Por ser mulher, é difícil participar do grafite. É preciso lidar com machismo, preconceito e até assédio. É difícil entrar, mas a partir do momento que você consegue um espaço para pintar, as coisas ficam mais fáceis”, reflete.

Grafite é uma arte que causa controvérsia, pois muitas pessoas ainda o enxergam como vandalismo. Mesmo com essa parcela contrária, Tuka acredita que o esforço vale a pena. “Ocupe seu espaço, faça seu grafite. Porque sim, tem pessoas que curtem, que acham bonito. A gente recebeu um carinho muito grande das pessoas por esse trabalho”, finaliza Tuka.

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Autor: Fillipe Fernandes - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Acervo Pessoal


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