Engenheiras quebram os muros do preconceito para assumir o canteiro de obras
Autor: Matheus Pferl - Estagiário de JornalismoDurante muito tempo a engenharia civil foi um território de predominância masculina, mas aos poucos as mulheres foram derrubando os muros do preconceito e chegaram ao canteiro de obras. Para reconhecer e fortalecer o espaço que elas vêm ganhando na profissão, a entidade britânica Women’s Engineering Society (WES) criou o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia, comemorado em 23 de junho.
Alguns dos avanços e mudanças na profissão foram tratadas no programa Sala dos Professores, evento da Escola Politécnica da Uninter que recebe professores do curso para um bate-papo sobre a vida e a carreira. A convidada da edição do dia 20.mai.2021 foi Adriana Regina Tozzi, coordenadora do curso de Engenharia Civil da Uninter. O evento contou com mediação do professor Guilherme Rodrigues e teve transmissão ao vivo pelo Facebook (clique para assistir).
Para Adriana, a comunicação é tudo. Ela se preocupa sempre em entender os anseios de seus alunos e em se comunicar com todos de maneira clara. “Eu sou uma educadora, no sentido de ser curiosa. Sinto necessidade em me comunicar e de uma forma que as pessoas consigam receber a mensagem. Quando se é mais novo, a gente acha que tudo que falamos é bem entendido, depois vamos vendo que não é bem assim”, afirma.
Adriana conta que já trabalhou em obras e isso a ajudou a desenvolver o diálogo com as pessoas. “Eu fiz engenharia e cheguei a trabalhar com obra, mas sempre tive que conversar com as pessoas, desde quando era estagiária tinha que ter esse contato, por conta das funções do trabalho. Tinha que entender as pessoas e lidar com diversas situações que não foram fáceis”, ressalta.
A engenharia é uma área em que as mulheres passaram recentemente a estar mais presentes, e a coordenadora destaca esse aspecto da profissão: “Essa é uma questão muito importante, sou incentivadora de pessoas, independente do sexo. Muitas mulheres querem fazer engenharia mas têm medo de um possível preconceito. Meu pai foi meu incentivador, então não tive muitos problemas, mas essa não é a realidade de todas. A gente vai aprendendo, os alunos nos ensinam muito. Muitas coisas que parecem inofensivas podem ofender, mas as pessoas nem percebem isso pois às vezes é algo comum. Mas vem evoluindo, isso agora é falado, então é uma oportunidade de melhorar”, afirma.
Adriana nos conta que sempre trilhou seu caminho com muita naturalidade, sem enfrentar problemas específicos por ser mulher. “Eu caminhei na engenharia sempre com esse sentimento de igualdade. Como professora, eu nunca fui desrespeitada, muito pelo contrário. Sempre que tive algum atrito busquei o diálogo e sempre houve uma resposta muito boa. Em obras também nunca tive problemas, talvez eu tenha sido privilegiada, mas em 2021, o que ainda nos prende somos nós”, completa.
Acostumados a ver a professora e coordenadora em ambiente de trabalho, os estudantes tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a figura humana. Ela revelou que é uma pessoa ansiosa, e até contou um truque. “Pra mim a vida é um caminho, mas eu nem sempre fui assim, eu sou uma pessoa ansiosa. Eu tenho uma reação típica de quando eu não sei o que fazer, eu dou risada, cada um reage de uma maneira, eu reajo assim”, afirma.
Adriana revela um desejo: “Eu gostaria muito de fazer psicologia, sou fascinada, e não quero sofrer, por mais que digam que viver é sofrer, que os problemas são naturais. Eu tento, independente de onde eu esteja, estar motivada, a vida pra mim é caminhar sabendo que não tenho controle sobre as coisas, mas disposta a escutar e a não concordar também de vez em quando. É fazer uma análise, e dentro dessa análise conseguir fazer boas escolhas. As escolhas ruins também fazem parte, devemos levá-las como um aprendizado. Hoje consigo ser um pouco menos ansiosa”, ressalta.
Sobre os planos e sua visão para o futuro, ela comenta: “Meus planos são sempre expandir, eu quero expandir, quero que mais pessoas saibam. O que eu faço hoje é trazer as ideias que eu considero serem boas, de tudo que eu trago na minha vida. Eu tento ser muito ativa dentro desse networking e eu prevejo um futuro muito mais tecnológico e muito mais humano. Eu vejo todos nós buscando cada vez mais relações, pois nós precisamos dos outros. Nós já conseguimos vislumbrar um futuro em que se as pessoas não aprenderem a buscar soluções em conjunto, as coisas não vão acontecer. Precisamos dos outros, expandir o futuro é isso. E a tecnologia é muito presente nisso, a tecnologia é a ferramenta. O futuro é coletivo, é expansão, é diálogo”, destaca.
O desafio da educação a distância
Acostumada ao ensino presencial, Adriana falou sobre os desafios de ser coordenadora de um curso distância. “Eu sou mais feliz quando consigo me comunicar, e a transição do presencial para o EAD começou com essa dúvida, será que vou conseguir? Eu tinha um receio da câmera, eram coisas que não faziam parte do meu cotidiano. Mas eu entrei muito disposta a entender o EAD, como funciona, como nos comunicamos etc. Antes era uma sala de 60 alunos, e já dava trabalho, agora é muito mais. Logo em seguida que eu entrei na coordenação do curso virtual, veio a pandemia, e de alguma maneira para todos nós tudo começou a ser novo, e pra mim foi uma virada essencial”, completa.
“Agora estamos em um momento muito legal e vejo, com base nesse momento, um futuro em que a gente consiga se comunicar mais com nossos alunos, através de lives, palestras e outros formatos. A gente não sabia como funcionavam as coisas, hoje já temos essa prática. O EAD veio para ficar, se antes existiam dúvidas, hoje estamos vendo que isso tudo é possível. O EAD tem a capacidade de atingir os lugares mais distantes, é incrível, eu só vejo coisas boas”, afirma Adriana.
A professora e coordenadora concluiu com uma mensagem a todos: “Usando a jornada do herói como base, vocês vão receber vários chamados ao longo da vida, e essa jornada não é uma coisa fácil. Existem vários momentos em que você vai querer desistir, é algo que vai acontecer. E a mensagem que eu deixo para vocês é: identifiquem as pessoas que são os seus mentores, que são as pessoas que vão te colocar pra cima, seus incentivadores, tenham eles próximos”, diz.
Ela traz um alerta sobre outro tipo de pessoas também: “É importante identificar as pessoas que são tóxicas também, para aprender a lidar e evitar, se possível. Nessa jornada, agora focando na jornada de engenharia, eu quis desistir no quarto ano, mas o meu pai me incentivou muito a continuar, e eu agradeço a ele imensamente, ele foi o meu incentivador. É importante administrar esse caminho, você precisa concluir esses ciclos, é possível”, conclui.
Você pode conferir a gravação deste bate-papo descontraído na página oficial da Escola Politécnica no Facebook.
Autor: Matheus Pferl - Estagiário de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Angelo Esslinger/Pixabay