Muitos corações pulsam na casa nova de Paulo e Sueli
Autor: Juliane Lima - Estagiária de JornalismoPaulo foi atropelado ao amanhecer, durante a busca diária por trabalho. O carro invadiu a calçada, o motorista fugiu, Paulo sofreu múltiplas fraturas. Mais uma fatalidade se somava à vida de uma família já confinada à miséria de um casebre de madeira, sem água, sem luz e sem gás, na região de Curitiba (PR). Vem do Bolsa Família a única renda fixa para o sustento de pai, mãe e 4 filhos.
A família sobrevive dos bicos de Paulo César Amado, 48 anos, em jardinagem e construção civil. A esposa, Sueli Aparecida Furtuoso, 40 anos, não tem emprego formal, mas trabalha sem folgas nem feriados no cuidado dos filhos. O primogênito Paulo Henrique, de 17 anos, sofre com uma deformidade na coluna, decorrente da clavícula quebrada no parto. Depende em grande medida dos cuidados da mãe.
O segundo filho, Matheus, de 15 anos, tem alto grau do Transtorno do Espectro Autista. Mesmo na escola especial, as perspectivas de uma eventual autonomia são mínimas. De modo que sobra para a mãe uma atenção quase que exclusiva ao menino. Os outros dois, Gabriela, de 7 anos, e Gabriel, de 9, também cobram sua cota de dedicação materna. Qual tempo restaria para Sueli trabalhar?
Os seis membros da família estão entre os 13,5 milhões de brasileiros mergulhados na extrema pobreza, sobrevivendo com até R$ 145 mensais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, de repente, as coisas pioraram. Um novo infortúnio pôs fim aos bicos de Paulo César, quando às 7h30 da manhã aquele carro desgovernado invadiu a calçada na Rua Guilherme de Souza Valente, no Abranches.
Se a baixa instrução escolar do casal já impunha restrições demais, a situação se agravara por causa das cirurgias a que Paulo se submeteu, comprometendo suas funções motoras e limitando a sua capacidade para o trabalho. Ao visitá-lo no Hospital Cajuru, a irmã, Edicleusa Zacarias, pressentiu dias piores.
O choro de Edicleusa tocou o coração dos colegas de trabalho, já cientes das condições precárias em que a família vivia. Eram “anjos” a ouvir os seus lamentos. Um deles emprestou ombros e ouvidos. A vida de uma família inteira estava em jogo. De repente, no mesmo dia em que ela havia perdido as esperanças, foi surpreendida com uma mobilização dos amigos do trabalho.
Começava ali uma corrente de solidariedade que daria uma guinada na história da família. Deu-se início a uma campanha de arrecadação de alimentos, roupas e calçados. Contudo, ao se deparar com a realidade no casebre, os amigos concluíram que paliativos de nada adiantariam. Edicleusa trabalha na Uninter, onde se viu acolhida.
Professores da Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios deram início a uma ação solidária. Colaborador de primeira hora, o diretor da Escola de Saúde, Biociência, Meio Ambiente e Humanidades, Rodrigo Berté, doou uma televisão para a realização de uma rifa. O valor arrecadado foi usado para quitar as dívidas de água e luz. A família estava havia mais de 1 ano sem esses serviços por falta de pagamento.
Ganhadora do sorteio, a professora Virginia Bastos Carneiro devolveu o aparelho para a realização de uma nova rifa. Segundo ela, o televisor não faria falta em sua casa, mas poderia fazer uma grande diferença a outra pessoa, ou mesmo para começar uma nova rifa e assim arrecadar mais fundos para a família. E foi isso o que aconteceu.
Ao finalizar o recolhimento do novo sorteio, com a participação de colaboradores de todas as escolas superiores da Uninter, os organizadores perceberam que a quantia arrecadada era suficiente para fazer mais do que uma simples doação. Decidiram então ir além, e construir uma nova moradia para a família.
Ciente da importância de mobilizações como esta, o diretor da Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios, Elton Schneider, foi um dos incentivadores da campanha. “Nós estamos preocupados em formar bons profissionais, capazes de exercer bem as suas profissões. Mas também têm se cobrado muito que esse indivíduo esteja preocupado com a sociedade na qual ele vive. Ele também pode querer melhorar de vida e achar um emprego bom? Sim. Mas ele está dando o devido retorno para a sociedade? ”, indaga.
Elton ressalta que esse é o exemplo que a instituição quer passar aos seus alunos. “As desigualdades devem ser uma preocupação para quem está sendo formado pela Uninter. Além de um profissional competente, ele tem que aprender a olhar a rua onde mora, a escola do bairro, e também para as pessoas que estão passando necessidades. Se cada um fizer isso uma vez por semana, ou uma vez por mês, pode ter certeza que iremos conseguir ajudar a muitas pessoas”, completa.
A família se mudou em janeiro de 2019 para o novo lar, construído pelas mãos de quem contribuiu de diversas formas. Do valor arrecadado, receberam uma casa de madeira nova, agora com água e luz, no bairro Abranches, em Curitiba. Antes não havia paredes que separassem os cômodos, mas agora moram num imóvel de 45 metros quadrados, 3 quartos, 1 banheiro e 1 cozinha planejada, doada pela empresa Simonetto Móveis Planejados, parceira nessa mobilização.
Nos quartos, os velhos colchões deram espaço a camas confortáveis, doadas pelo professor da Uninter Daniel Cavagnari. Para recebê-los em sua nova morada, o departamento corporativo da instituição doou cestas básicas, além de uma geladeira, fruto da contribuição do professor Claudio Aurelio Hernandes.
Os colegas de trabalho de Edicleusa se propuseram a iniciar uma pequena boa ação, que somada à boa vontade de muitos, mudou a história de Paulo, Sueli e seus quatro filhos.
Autor: Juliane Lima - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Jaqueline Deina - Estudante de Jornalismo
Só tenho muito o que agradecer vocês fizeram uma grande mas grande mesmo diferença na vida dessa família.