Motorhome: como funciona uma vida sem endereço
Autor: Barbara Carvalho - JornalistaNomadland foi o grande vencedor do Oscar 2021. O filme conta a história de Fern (Frances MacDormand), uma mulher de 60 anos que, após perder tudo devido a um colapso econômico que atingiu a cidade onde morava, situada na zona rural de Nevada (EUA), decide partir para uma aventura em sua van, viajando pelas estradas norte-americanas e vivendo uma rotina fora da convencional, como uma nômade moderna.
O filme é um prato cheio para os amantes da vida ao ar livre propondo um mergulho neste estilo, mas para os mais curiosos fica a dúvida: como é feita a adaptação de um espaço tão pequeno para habitar? “Nomadland e design de motorhomes: o que a vida nômade nos impacta?” foi tema do programa Segredos da Arquitetura da Rádio Uninter no dia 17 de maio, trazendo à tona detalhes de como transformar tais veículos em residências. Para falar sobre o assunto, a coordenadora das Pós-Graduações em Arquitetura da Uninter, Giselle Dziura, recebeu a arquiteta e especialista em design de interiores Andrea Salgueiro.
Motorhome é um veículo recreativo totalmente equipado e com espaços de convivência. Conta com cozinha, quarto, banheiro com chuveiro e tudo mais que uma casa tradicional possui, mas em um espaço de tamanho reduzido. Diferente do trailer, que também conta com estas particularidades, mas que é um módulo que precisa ser rebocado pelo fato de não possuir motor, o motorhome se desloca sozinho, sendo basicamente uma casa sobre rodas.
Usuária de motorhome há 27 anos, Andrea trouxe a experiência deste estilo de vida para a sua área de trabalho. Segundo ela, existem diferenças e semelhanças entre o design de interiores de edificações e de veículos recreativos. “Toda a tecnologia utilizada no motorhome pode ser aplicada na casa, e até tem algumas coisas bem interessantes, por exemplo o vaso sanitário, nele é utilizado 600 ml de água (um vaso sanitário padrão utiliza em média 12 litros de água por descarga), então penso que isso poderia ir para as edificações. Isso que é o legal do motorhome, ele trabalha com medidas mínimas, e é muito rico o nível de detalhamento deste tipo de arquitetura”.
Os projetos de um motorhome e design de interiores tradicionais são semelhantes, porém no veículo ocorre a busca de soluções e demais especificações sendo aplicados ao mesmo de acordo com o cotidiano e as necessidades do condutor. Um fator que delimita o design de um motorhome é a distribuição de peso, o que resulta em um trabalho maior quanto aos espaços mínimos e a multifuncionalidade dos equipamentos atribuídos em tal projeto.
“Para o arquiteto, a hora de trabalho quanto ao motorhome não dá para se basear por metro quadrado, até porque quanto menor o espaço, maior a sua hora de trabalho ali, pois você tem de incluir muitas coisas naquele mini espaço. As múltiplas funções demandam um estudo mais apurado, então é dedicação a mais nos projetos”, declara Andrea.
No Brasil, o mercado de veículos específicos para este estilo de vida só aumenta e as vendas deste segmento dispararam. O preço de um motorhome pode variar de R$ 75 mil a R$ 100 mil. De acordo com Andrea, existe uma demanda e este é um mercado bastante fomentado e em amplo crescimento. Por causa da pandemia, a procura se intensificou devido a vários fatores, como o home office, em que se pode trabalhar em qualquer lugar, e também questões de higiene e contato interpessoal. Ela ainda ressalta que no Brasil estão surgindo muitas montadoras e as fábricas estão se especializando neste setor.
Falar sobre viver em um motorhome é falar sobre minimalismo, exercitando o conceito de menos é mais. Segundo Gisele, trata-se de uma reflexão sobre até que ponto podemos considerar o que é essencial para cada um. Andrea ressalta ainda a conexão entre o conforto e a ergonomia, tendo que se adaptar em espaços menores. “Existe um cuidado com a ergonomia nesses espaços mínimos que vão acontecer. Dentro disso, acontece toda uma mudança de um estilo de vida, desde as roupas até os móveis”.
Para assistir na íntegra o bate-papo, acesse o link da Rádio Uninter no Facebook ou Youtube.
Autor: Barbara Carvalho - JornalistaEdição: Mauri König