Mostra Surda de Teatro idealizada por professores da Uninter acontece no Festival de Curitiba

Autor: Igor Carvalho Horbach - Estagiário de Jornalismo CNU

Colocar artistas surdos nos holofotes da mídia ainda é uma barreira difícil de ser quebrada. Embora alguns avanços legais estejam acontecendo, os nichos sociais resistem aos novos ares que possibilitariam inclusão de todos. O mesmo não pode se dizer do Festival de Curitiba que este ano realiza a primeira Mostra Surda de Teatro.

Durante os 13 dias de Festival, em meio a centenas de peças de teatro, pela primeira vez, aconteceu a Mostra Surda de Teatro, reunindo sete espetáculos. Todos com elenco de artistas surdos. Contudo, esse sonho que veio da própria comunidade surda e tendo como programadores os professores Rafaela Piekarski H. Lopes e Jonatas Rodrigues Medeiros, do grupo Uninter, nasceu há pelo menos dois anos.

“Após a nossa ida para o Despertacular, em Brasília, um dos maiores eventos de arte surda, ficamos empolgados em propor uma mostra exclusiva de teatro surdo e protagonismo da língua de sinais”, contam os professores. Imediatamente, os diretores do Festival abraçaram a ideia e transformaram a proposta em realidade. “não sabíamos que iriamos realizá-lo já em 2024. Essa oportunidade é histórica e com certeza marca um novo período no teatro surdo brasileiro.”

Isso também se deve à grandiosidade do Festival de Teatro de Curitiba. Durante as duas semanas, a capital paranaense respirou arte em todos os cantos, com mais de 400 apresentações e mais de 100 mil espectadores. Companhias de todas as regiões do Brasil e até mesmo de outros países do globo passaram pela cidade com seus espetáculos, possibilitando uma polinização cultural enriquecedora.

“Nos últimos anos, Curitiba tem se destacado em suas produções artísticas surdas, no teatro, audiovisual e em festivais e mostras. Isso revela que há uma mudança significativa na paisagem linguística do contexto artístico, onde vemos mais tradutores intérpretes de Libras em mais espaços como teatro, e artistas surdos começam a circular mais na cidade”, afirmam os docentes sobre o novo cenário que vem sendo construído.

Professores da Uninter

A professora Rafaela Piekarski H. Lopes ingressou na instituição em 2018. Além de sua docência no Grupo Uninter, Lopes atua como tradutora surda, atriz surda bilíngue, coordenadora de elenco, tradutora audiovisual na Fluindo Libras, ocupa o cargo de coordenadora de tradutores e intérpretes de Libras do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Paraná (SATED/PR).

Já o professor Jonatas Rodrigues chegou na Uninter em 2022 para assumir o cargo de professor-tutor do curso de Letras-Libras, além de ser doutorando e mestre em Estudos da Tradução pela UFSC. Também atua na Fluindo Libras e é sinalizante da língua desde os 11 anos de idade.

Inclusão na sociedade

O Brasil reconhece a língua de sinais como língua nativa própria, mas infelizmente ainda é uma barreira enorme, visto que poucos cidadãos são falantes, ou ao menos conseguem se comunicar em Libras. Nas artes, esse cenário fica um pouco mais complicado quando as associações solicitam as companhias a adesão do intérprete nos espetáculos, que acabam ocupando o palco e iluminação.

“A falta de sensibilidade de alguns diretores e produtores, atrapalham a formação de público surdo no teatro, uma vez que se a experiência não é boa, não se conquista público. Quem gostaria de ver uma peça inteira pela lateral?”, conta os professores sobre a presença do intérprete que muitas vezes é negligenciada. “O que ainda resiste no preconceito é o olhar inflamado daqueles que não percebem que o intérprete é um corpo em cena que precisa ser posicionado de forma estratégica e artística no palco, há essa lacuna no aprendizado dos fazedores de teatro”

Portanto, realizar uma Mostra Surda no maior festival de teatro é de suma importância para a visibilidade artística dos grupos surdos. Com isso, o trabalho de preparação da curadoria das peças se iniciou ainda no ano passado. “Os convidados estão muito felizes, veem uma oportunidade ímpar de compor a programação do festival, em especial na primeira Mostra… é um sonho que está se realizando para muitos desses artistas.”

Os curadores ainda contam que o projeto e portfolio visual foi desenvolvido há pelo menos um ano. “Hoje estamos na execução dessa ideia: contato com equipes, diálogo constante com a Parnaxx (produtora do festival), alinhamento com nossos produtores e equipe técnica, material de divulgação e acompanhamento das companhias. É um processo contínuo que cada vez mais se intensifica”, afirma.

E para a primeira Mostra, o sucesso tem se mostrado cada vez mais ao longo dos dias, já que algumas peças estão completamente esgotadas, enquanto outras restam poucos ingressos. “Nosso primeiro parâmetro foi contemplar espetáculos com maioria de pessoas surdas no elenco e equipe, assim como dramaturgias propostas por pessoas surdas. Fugimos de propostas onde surdos são apenas totem de grupos ouvintes, como infelizmente há”.

As sete peças que estiveram em cartaz durante os dias do Festival de Curitiba. Uninter é uma das patrocinadoras da 32ª edição do Festival de Teatro, e a Central de Notícias Uninter (CNU), em parceria com a Agência Mediação, realizou a cobertura do evento com a participação dos alunos do curso de Jornalismo. Conheça a ação e saiba mais pelo link. 

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Autor: Igor Carvalho Horbach - Estagiário de Jornalismo CNU
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Giuliano Robert/Divulgação


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