Menos empréstimos: uma mudança de pensamento do consumidor

Autor: *Marcos José Valle

O dinheiro deveria ser exclusivamente um meio de pagamentos, aquilo que nos tira de modelos mais rudimentares de trocas, como o escambo. Porém, nossa organização social permitiu transformar esse meio de pagamento em mercadoria – sim, o dinheiro é uma mercadoria, muito demandada. 

Na medida em que se intensificam as ofertas de produtos financeiros, cada vez mais, é impulsionado para que você e qualquer um se tornem um potencial “investidor”. Com isso, o custo de oportunidade de usar o dinheiro para consumir produtos e serviços da economia real (carros, geladeiras, viagens…) acaba por se tornar algo repreensível. Sendo assim, gastar se tornou algo errado moralmente. 

No pós Segunda Grande Guerra, criou-se a cultura do “compre agora e pague depois”, algo que se intensificou até a atualidade, com aprimoramentos dos sistemas de crédito e avanço tecnológico. No entanto, hoje vivemos uma nova máxima de orientação do comportamento generalizado: “não compre agora, viva depois”. 

A popularização de uma literatura escrita por super-ricos, geralmente autobiográficas, demostrando como uma poupança forçada, com intensificação do ritmo de “trabalho”, pode ser direcionada para investimentos imediatos que garantiriam uma vida esplendorosa no futuro (incerto), o que passa a ideia de que hoje todos são/devem ser investidores do mercado financeiro, se você não é, “então há algo errado na sua visão de mundo, pecador” 

Assim, não é surpreendente que cada vez mais os empréstimos estão diminuindo, pois quem está disposto a contrair dívidas no presente para comprometer um futuro exuberante? O dinheiro hoje tem um elevado custo de oportunidade, no imaginário daqueles que buscam replicar essa mercadoria. Dentro desse imaginário, a vida não acontece hoje, no tempo do acumular e investir. O problema é que, quem não consome, mesmo no sistema do compre agora e pague depois, utilizando crédito disponível para empréstimo, não incentiva a produzir nada, nem produtos e nem serviços. E o problema é: se não há produção, não há oportunidade de trabalho para empregados e empregadores. E esses são os “investidores” do futuro exuberante. 

*Marcos José Valle é economista e professor do curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário Internacional Uninter.  

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Autor: *Marcos José Valle
Créditos do Fotógrafo: Pexels


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