Matemática e economia estão na vida e na mesa de todos nós

Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo

É possível quantificar o comportamento humano quanto ao consumo? As pessoas decidem racionalmente sobre a sua renda ou não? Segundo o economista italiano Franco Modigliani (1918-2003), os indivíduos adquirem uma renda pessoal a partir de um momento e têm a tendência de planejar a vida econômica até os 70 anos, então o que surge depois desta idade seria lucro. Isso é o que chamava de “ciclo da vida”.

De acordo com o professor Masimo Della Justina, que é matemático, economista e filósofo, as pessoas possuem quatro formas de renda pessoal, sendo de aluguel, juro, lucro e salário. Para estas, existem três destinos: a tributação, que é a transferência do indivíduo para o setor público; o consumo; e a poupança privada. O economista cita a hipótese de Modigliani e lembra que, para além da economia e história econômica, é necessário o instrumental matemático “para aplicar quando está em uma função de responsabilidade”.

O comportamento do consumidor é determinado por algumas variantes, como a renda disponível, preços, créditos, mobilidade social, concentração de riquezas, fatores culturais e sociais, estímulos induzidos e a sazonalidade. A primeira determinante diz respeito a aquilo que sobra depois que a pessoa já cumpriu com as obrigações legais.

“Se eu consumo entre um produto A e um produto B, faço uma decisão que é racional, de acordo com as minhas preferências. Cada família, cada indivíduo, toma sua renda pessoal disponível e busca uma satisfação, só que na vida real a gente sabe que não trata de uma exemplificação do plano. Na verdade, teria de levar em consideração tudo que uma família gasta. Se trabalhar a função do consumo, tem que levar em consideração diversas variáveis, é aí que a matemática entra, profissionais formados em física, química”, afirma.

O professor exemplifica que se uma pessoa recebe R$ 100,00 por mês, R$ 27,50 fica com o governo. Dos R$ 72,50 disponíveis para consumo, é preciso levar em consideração o conceito de “propensão marginal”. “De cada real que tenho, na minha tradição, nos últimos 10 anos, com a estrutura familiar, classe social a que pertenço, padrão de vida que quero, região em que moro, quanto vou gastar?”, analisa. Com uma hipótese de 40%, o gasto em consumo seria de R$ 29,00. “Essa propensão marginal ao consumo, para quem é da área da matemática, se usa muito o cálculo diferencial”, completa.

“Sempre digo que o melhor momento para entender o quão eficiente e eficaz é o sistema econômico, é na hora da refeição, comendo com a família e na mesa aparece uma meia dúzia de itens que saciam sua fome. É um exercício, aliás, de bioquímica, porque o que é a alimentação senão você repor as energias que o seu corpo precisa? Economia não é algo teórico, diz respeito diretamente a cada ser vivo que se alimenta. E obviamente o alimento que chega na mesa, ou cada item que está no seu guarda-roupa, o carro que está na garagem, vai chegar lá dependendo da sua renda pessoal disponível”.

Masimo diz que “o melhor economista do mundo é a mãe”, independentemente da classe social e local em que reside. Isso porque costumam saber exatamente qual é a renda familiar e como tem de ser usada, de forma racional e sem desperdício, mantendo o bem-estar da família. O economista ainda garante que “quanto mais rico é o país, menor é a renda que as pessoas gastam sobre alimentos e necessidades básicas”.

“Para esse efeito, a Organização das Nações Unidas diz que se o indivíduo ou a família gasta 40% ou mais da sua renda disponível para a alimentação, ela é pobre. Se esse percentual cai para menos de 40%, já vai indo para uma classe média, média alta. E quanto menor é a propensão marginal a consumir, maior é a poupança desse país”, complementa.

Assim, o estudo da economia segue duas linhagens da análise econômica: a positiva, que observa como funciona, através de estatística, matemática, econometria, parâmetros princípios, história econômica; e a normativa, que mostra como deveria ser, a partir da história do pensamento econômico, filosofia política e políticas públicas, falhas do mercado e oportunidades de renda. Quando se fala do comportamento do consumidor ou um sistema econômico, há a conclusão de que é algo muito dinâmico.

Como aponta Masimo, uma situação de equilíbrio pode ser modificada com mudanças de preços em tempos sazonais, por exemplo. Com o aumento do valor, algumas pessoas começam a repensar o consumo de determinados produtos. “Obviamente que, na medida em que todo mundo toma sua decisão racional, dentro da renda disponível que têm, vai haver um novo equilíbrio no preço de oferta e demanda”, explica. Isso gera a reação de causa (inflação, renda, juro) e efeito (consumo e satisfação).

“Importante entender as causas das taxas de variação, o ritmo que algo está mudando, a direção que está tomando, a velocidade e aceleração. Nós estamos aqui emprestando conceitos da geometria analítica”, conclui.

O profissional ainda cita o economista Alfred Marshall (1842-1924), que faz uma mistura de matemática, estatística, cálculo diferencial e comportamento econômico para explicar os princípios econômicos. Estes são a elasticidade, maneira de medir o comportamento do consumidor quando toma decisões baseadas na renda disponível; a utilidade marginal decrescente do consumo, que considera o grau de satisfação do consumo de acordo com a quantidade consumida; e o ponto ótimo de satisfação, em que diz que o indivíduo é racional para parar quando está satisfeito.

Masimo abordou estes e outros tópicos sobre gastos de consumo e renda na primeira noite do 2º Colóquio de Práticas da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter, realizado pela área de Exatas, no dia 19.abr.2021. O evento, intitulado “Empreendedorismo, inovação, criatividade e responsabilidade social”, contou com a abertura feita pelo coordenador de área, Paulo Martinelli, e mediação dos professores Guilherme Pianezzer e Jeferson Morais.

“Quando eu falo da responsabilidade do indivíduo, coloco que a busca do esclarecimento da causa das coisas, não importa se se é filosófico, teológico, religioso ou estético, é quase uma obrigação. Quanto mais conhecimento o indivíduo tem, mais bem faz para suas escolhas, não só econômicas, mas de parceria afetiva, do voto, escolhas que trazem felicidade”, conclui Masimo.

Na segunda noite de evento, cada área da ESE realizou a própria live, com temas desenvolvidos pelos estudantes em trabalhos práticos. Todas as transmissões do dia 20.abr.2021, realizadas pelas áreas de Exatas, Educação, Geociências, Linguagens e Sociedade, Linguagens Cultural e Corporal, Humanidades e EJA, estão disponíveis no canal da ESE.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Ulrike Leone/Pixabay


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