Marco correu mundo, ajudou a derrubar Collor, viu o WTC cair, contraiu a Covid-19 e sobreviveu
Autor: Igor Ceccatto - Estagiário de JornalismoMarco Sergio Wanghon, de 44 anos, formou-se em Relações Internacionais na Uninter em março de 2020, mesmo mês em que iniciou o curso de Ciência Política (CIPOL) na instituição, novamente na modalidade a distância (EAD). Em meio à pandemia de Covid-19, Marco acabou sendo infectado pelo vírus, mas nem por isso parou de estudar.
Sua afinidade com o campo da política e relações internacionais começa em 1992, ano em que os estudantes secundaristas foram às ruas derrubar o então presidente da república, Fernando Collor de Melo. Na época, Marco cursava o segundo grau (hoje chamado de ensino médio) na escola Estadual Professor Jamil El Jaick, em Nova Friburgo (RJ), e se engajava no movimento dos “caras-pintadas”.
Desde então, ele sempre esteve interessado em melhorar as coisas a sua volta. “Eu participava do movimento estudantil e era bastante preocupado com as deficiências da escola pública. Procurava da minha maneira minimizar os problemas, promovendo ações e articulando para que outros alunos pudessem ter livros, uniformes, materiais, entre outros. Além disso promovia ações no sentido de proporcionar emissão de documentos, atendimento médico e odontológico, atividades culturais, entre muitas outras realizações”, conta.
Não demorou muito para que seus feitos começassem a ser notados. “Chamei a atenção da rádio local da época, onde iniciei com programas de notícias atendendo à comunidade.” Antes disso, já editava um pequeno jornal, o que impulsionou mais ainda os movimentos que realizava.
Antes de concluir o ensino médio, Marco já tinha ideia da carreira que trilharia alguns anos depois. “Nesse momento, percebi que com as Relações Internacionais e suas articulações poderia realizar e promover um planeta muito melhor. Tudo que faltava em minha comunidade era reflexo de outras localidades e com a oportunidade de também ter vivenciado em outros estados brasileiros sabia que era um problema mundial. Eu precisava fazer algo”, completa.
Desbravando o mundo
No ano de 1999, Marco concluiu o ensino médio, depois de ter interrompido os estudos algumas vezes por necessidade de trabalhar, ele de ter servido à Marinha do Brasil. Mas o sonho de cursar o ensino superior ainda não estava a seu alcance: “Percebi que não tinha a mínima condição financeira, na época, de entrar em uma universidade”
Foi então que um convite inesperado lhe abriu novas portas. “Recebi o convite de um amigo para ir para os Estados Unidos. Não pensei duas vezes, pois teria melhores condições de vida.” A partir daí a vida de Marco foi cheia de aventuras internacionais.
“Três anos depois, passei pelo Brasil, mas apenas de passagem, por já estar decidido a embarcar em uma nova aventura”, completa. Pois bem, a nova aventura envolveu sua esposa, que já conhecia desde o Ensino Médio e com quem se casou em 1999. Eles se mudaram para a Itália, já que sua esposa possuía passaporte italiano.
Após 3 anos e meio na Itália, o casal resolveu conhecer Londres, a capital da Inglaterra. Acabaram ficando 5 anos na terra da rainha, até dezembro de 2011, quando decidiram voltar para casa. “Retornamos ao Brasil, onde acreditava que finalmente iria iniciar no curso de RI, mas surgiram inúmeras dificuldades e o divórcio logo em seguida”. Marco decidiu então voltar para a Inglaterra e adiar o sonho do curso superior mais uma vez.
Nessa vida de viajante internacional, Marco afirma já ter feito de tudo. “De chefe de cozinha a gerente de restaurante, e muitas outras profissões, dei um jeito de sobreviver. Se reclama de trabalhar muito no Brasil, fora dele você tem que provar ser dedicado, se superando todos os dias. Hoje sei o que é essa realidade. Pouco glamour e muita luta”, afirma.
Até que em 2017 ele voltou definitivamente para o Brasil. Após pesquisar diversas faculdades, encontrou na graduação EAD da Uninter a opção mais interessante, principalmente por possibilitar escolher seus próprios horários e rotina de estudo.
Em conversa com a Central de Notícias Uninter, Marco fala sobre o diagnóstico de Covid-19 e a recuperação, e também comenta como enxerga o cenário das Relações Internacionais com a pandemia.
CNU – Como foi descobrir que estava com Covid-19?
Marco Wanghon – Moro no Rio e cuido da minha madrinha de 84 anos. Desde o início da pandemia, sabia que momentos difíceis viriam. Depois de ter passado pelo 11 de Setembro quando estava nos EUA, vivendo ali perto, sabia que a regra era clara: estoque de alimentos e fazer o máximo para não sair de casa com risco de morte. Tudo muito claro, além do agravante de ter que cuidar de uma senhora de 84 anos. Saí e fui às compras. Me escrevi em cursos extras e tudo estava perfeito. Então o Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio) iniciou uma campanha para doar sangue e, como estava saudável para doar, fui. Cinco dias depois, começaram os sintomas, o local onde fui para a doação se localizava no meio de um complexo hospitalar, entre a UPA e o Hospital Municipal Souza Aguiar, o que explicaria esse contágio. Passaram mais alguns dias e ainda não tinha ido ao hospital, mas a preocupação começou quando percebi que não conseguia raciocinar direito para fazer as atividades diárias, o que vinha seguido de calafrios e completa falta de fome. Nisso se passou uma semana e com a tosse surgindo muito intensamente, minha madrinha viu que teria que me levar ao médico, e com o diagnóstico comecei o tratamento. Uma semana depois, com os sintomas mais leves achei que estaria livre dessa doença e voltei para casa. Mas algo estava errado, quando retornei para fazer exames clínicos, minha taxa de oxigenação do sangue passava do normal e o médico pediu uma radiografia do pulmão, que constatou a não melhora do quadro. Após isso fui para a UPA e de lá não pude sair mais.
CNU – Quanto tempo ficou no hospital e como é a sensação de saber que está recuperado?
Marco Wanghon – A médica foi até bem-humorada ao ver minha saturação. Como se dissesse: “O que está fazendo em pé aqui, devia estar em uma maca urgente?”. Informando aos outros colegas que confirmaram a saturação, ela disse que no momento não teria leitos disponíveis e conseguiria apenas uma cadeira, até a chegada da poltrona. A única coisa que me importava naquele momento era ter o oxigênio para poder respirar, sabia que estava no caminho da morte. Não conseguia relaxar e dormir naquela cadeira. Perdi completamente a noção do tempo que fiquei, mas finalmente no fim do dia recebi a esperada poltrona, onde fiquei por 6 dias. Aos poucos, a quantidade de oxigênio entubado foi sendo diminuída, até ser retirada 4 dias depois. Ao longo do dia são feitas medidas como inúmeros exames e medicamentos. No sexto dia, já estava mais animado, pois podia receber alta, mas no meio da madrugada tive que ser transferido para o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla. Na ambulância com a médica, passei as informações do meu caso, mas ela não fazia ideia do que era. Cheguei no hospital com saturação normal e foi a melhor cama em que já deitei na vida, em um quarto só com 4 pessoas, com cobertor, alimentação adequada, luzes apagadas e finalmente um banho após 6 dias. Então fiquei sabendo que após minha madrinha me deixar na UPA, também teve que ser internada. E sobre o contato com parentes, fiquei todos esses dias sem o menor contato com família, amigos ou qualquer outra pessoa, o que deixou minha família muito preocupada. Mas sou grato por ter recebido todos os cuidados por parte da UPA e do Hospital Gazolla.
CNU – Como você acha que a pandemia afeta as relações internacionais? E na sua carreira, o que muda?
Marco Wanghon – Nada será como antes. Quem nunca havia pensado em razões reais pelas quais vale viver, nesse momento esses questionamentos batem à porta. Tudo está tão latente que não se pensa em nada além de respiradores, EPI’s, leitos e CTI’s. Além disso, estamos tendo uma mudança hegemônica, em que a China ocupa espaços deixados pelos EUA. Várias companhias pelo mundo também estão sendo adquiridas pelos chineses com mais força. São valores diferentes e uma cultura da qual ainda temos muito a aprender, já que por todos esses anos tivemos mais contato com a cultura do American way of life, diferente dos orientais. Por outro lado, academicamente isso foi positivo para mim, a pandemia e uma outra cirurgia que foi adiada impossibilitaram minha nova saída do Brasil, me levando a me dedicar totalmente à segunda graduação em Ciência Política, com a possibilidade de fazer um MBA, que ainda não iniciei.
CNU – Como você interpreta a necessidade de quarentena e os cuidados que estão sendo tomados para combater a Covid-19?
Marco Wanghon – A ideia de quarentena é pela falta de leitos e para minimizar a quantidade de pessoas ao mesmo tempo necessitando da estrutura hospitalar. É tempo de ter resiliência e maturidade coletiva, pois mais cedo ou mais tarde, todos de fato terão que lidar com o Covid-19 e responder a sua maneira com tratamentos e cuidados para superar todos os seus males. Devemos nos ocupar e preocupar em viver uma vida saudável, com a prática de exercícios e uma boa alimentação. Neste momento, devemos nos importar com a comunidade, buscando saber onde e como podemos ser úteis, para que passemos por isso da melhor forma. Temos que ficar em casa o quanto pudermos, mas também ligar para as pessoas, mandar mensagens, participar.
Autor: Igor Ceccatto - Estagiário de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal