Marcelo sublima o lixo e faz dele obra de arte
Heloisa Alves Ribas – Estagiária de Jornalismo
Está cada vez mais visível no nosso cotidiano os impactos causados pelos danos ambientais. Muitas vezes, danos irreversíveis. Isso tem atraído o foco para ações de sustentabilidade, que tem como objetivo reaproveitar recursos já utilizados, dando um novo significado àquilo que foi descartado, àquilo que alguém não quis. Há quem sublime o lixo e faça dele uma arte.
Foi a partir dessa proposta que o artista plástico Marcelo Pszybylski, estudante do curso de Artes Visuais da Uninter, resolveu levar a sério o dom artístico e fazer do seu hobby uma profissão. Marcelo trabalha com artes há 20 anos e utiliza como matéria-prima diversos tipos de sucata, metais e tantas outras coisas que habitualmente estariam amontoadas em lixões e ferros-velhos.
Com um vasto acervo, o artista decidiu fazer com que suas obras chegassem aos olhos de pessoas que têm pouco contato com a arte. Assim, inscreveu um projeto na Lei Rouanet, e foi aprovado. O projeto “Olhar à segunda vista” busca provocar o lado criativo e despertar a consciência sustentável do expectador.
A ideia é que ao final da exposição o público tenha sido estimulado a valorizar a cultura nacional realizada por meio de elementos e materiais descartados pela sociedade, provando que é possível unir a sustentabilidade à arte de forma inovadora e em alto padrão. O projeto é itinerante e tem como roteiro cidades como Almirante Tamandaré, Colombo, Araucária, Piraquara e São José dos Pinhais.
Com obras de encher os olhos, pela riqueza de detalhes, delicadeza e singularidade, o artista dedica seu tempo integralmente às suas esculturas. Variando de tamanho, peso e complexidade, a impressão que se tem é que bailarinas, aranhas e animais ganharão vida a qualquer momento.
“Eu não desenho nada e na verdade nem sei desenhar. Geralmente eu vejo o animal, sei da técnica necessária para desenvolver ele, tiro a proporção do tamanho e faço. Tem que ter muita imaginação e às vezes é um jogo de encaixe, saber a melhor forma de colocar o material”, conta o artista.
O reconhecimento cresce a cada dia. Marcelo vem realizando exposições em museus e colecionando prêmios, como o “Prêmio de Arte Sustentável” em 2016, oferecido pela Benchmarking Brasil.
Vida de artista
Com dedicação exclusiva ao sonho, Marcelo depende da venda de suas obras para viver. Os custos comuns de casa, como água, luz e mantimentos, partem de sua barbearia, que também serve como vitrine para expor sua arte. Aos domingos, ele tem endereço fixo em uma das maiores feiras livres do Brasil: a feirinha do Largo da Ordem, na região central de Curitiba.
“O pessoal já nos conhece. Levam sucatas, materiais diversos, para ajudar a compor inspirações. Às vezes recebemos encomendas diretamente no Largo, outras vezes pela sua página no Facebook para entregar na feira. É muito bacana. O pessoal manda fotos das minhas obras em várias partes do mundo, porque compram aqui e viajam”, diz Marcelo.
O artista destaca que seu maior sonho é fazer um cavalo em tamanho real. “Eu sempre gostei desse animal. Estou até separando umas peças especiais pra ele. Só que como temos o ateliê na parte de cima do sobrado ficaria complicado descer a escultura para o térreo. Então temos que ver tudo isso antes”, completa.
Lei Rouanet
Criada em 1991, esta lei visa o incetivo fiscal por meio do apoio à cultura. Desta forma, o governo cede parte do imposto de renda e destina para projetos culturais cujo objetivo pode ser a produção de um filme, uma peça de teatro, exposições (como a de Marcelo), entre outras coisas.
Quem apoiar algum projeto poderá ter o total do valor desembolsado deduzido do imposto devido (artigo 18), dentro dos percentuais permitidos pela legislação tributária. No caso das empresas, até 4% do imposto devido e para pessoas físicas, até 6% do imposto devido.
Edição: Mauri König