Marcas dos 300 anos de escravidão persistem no Brasil

Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - estagiário de jornalismo

De Zumbi a Luiz Gama. De Carolina Maria de Jesus a Conceição Evaristo. Da capoeira à literatura. Da militância ao samba de roda. Da África à América. Novembro é o mês da consciência negra no Brasil.

Neste período, a luta pela igualdade racial e social no país ganha destaque. Uma referência à morte de Zumbi dos Palmares, negro pernambucano que foi líder do Quilombo dos Palmares, a data ressalta a memória do período colonial para refletirmos a realidade brasileira.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 54% da atual população brasileira é negra. Apesar de serem maioria e estarem presentes intrinsecamente na história nacional, ainda são constantemente desumanizados.

A assistente social Elaine Aparecida Batista explica que, em um país de dimensão continental, o racismo se expressa de diferentes formas depende da região e da cultura. Na visão dela, como militante da causa e que observa essa realidade todos os dias, os mais de 300 anos de processo escravista são o centro do problema.

“Passamos 300 anos traficando povos africanos. O racismo é, sem dúvida, uma das expressões sociais presentes no Brasil”, afirma.

Ao passo que o sistema brasileiro buscou se desvencilhar da realidade escravagista, ele não promoveu a devida reparação de suas ações para com os povos que foram escravizados. O acesso dessas pessoas à produção de renda, cultura e educação continuam limitados até hoje pela barreira ideológica levantada durante o Brasil colônia.

“Como uma sociedade que se constrói culturalmente nesse cenário não vai ter seus valores também atravessados por esses ideais racistas? É muito difícil para uma sociedade que se constitui nessas bases implantar uma cultura de igualdade”.

 

A desigualdade no país é evidente ao analisarmos alguns dados. Segundo a Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, o salário médio de trabalhadores negros foi 45% menor do que do que o dos brancos.

Além disso, pessoas negras são as mais prejudicadas no quesito emprego. Atualmente, mais de 10 milhões de trabalhadores negros estão desempregados. Esse número representa 72,9% dos desocupados em todo o Brasil.

Quando falamos de violência, os números também assustam. De acordo com o estudo divulgado pelo Instituto Sou da Paz, homens negros são 3,5 vezes mais propensos a serem assassinados por arma de fogo que não negros.

A pesquisa aponta que, entre 2012 e 2020, mais de 254 mil homens negros foram assassinados no Brasil por arma de fogo. Isso corresponde a 75% do total de óbitos masculinos no país.

Na visão do professor do curso de Serviço Social da Uninter, José Luiz de Oliveira, não há como dissociar a luta emancipatória de direitos humanos no Brasil sem levar em consideração a complexidade das relações sociais na história de formação do país.

“Somos uma sociedade marcada por todos os tipos de violência, de exclusão, de manutenção de privilégios que reina até os dias atuais”.

Ele destaca que desde a constituição de 1988, temos alguns instrumentos legais que procuram reduzir a disparidade, mas ainda vemos uma população que vem sendo vítima de uma violência instituída e legitimada pelo estado e por parte da sociedade brasileira.

“É um padrão que vem sendo reproduzido e normalizado por meio de mecanismos institucionais e estruturais”

Elaine ressalta a importância de debater isso no serviço social, área que atua diretamente com a sociedade e observa de perto o retrato do brasil discriminatório.

“Nós do serviço social precisamos falar o tempo todo sobre isso. Cabe a nós, nesse desenho de políticas públicas, estar atento a essas manifestações de racismo e discriminação”.

O mês da consciência negra no Brasil foi tema do programa Saúde em Foco, exibido pela Rádio Uninter em 29 de novembro. Para debater sobre os Direitos Humanos e a questão racial no Brasil, a jornalista Barbara Carvalho recebeu a assistente social Elaine Aparecida Batista e o professor da Uninter José Luiz de Oliveira.

Assista ao programa Saúde em Foco pelo canal de Youtube da Rádio Uninter.

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Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - estagiário de jornalismo
Edição: Larissa Drabeski


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