Logística na guerra
Autor: Caroline Brasil*Embora a logística exista desde os primórdios da humanidade, época em que alimentos eram coletados e estocados para o inverno, ela é muito associada às guerras. Isso acontece por ser o primeiro momento da história em que a logística demostrou a possibilidade de gerar vantagem competitiva.
Além disso, o planejamento logístico surge com a guerra: munições, armamentos, comida e remédios devem chegar às tropas para que possam combater. E isso só acontece com um planejamento detalhado e com execução precisa. Da mesma maneira que as cidades precisam ser abastecidas diariamente.
Porém, na guerra, há grandes desafios: realizar a operação logística sem ser visto pelo “inimigo”, camuflado, com descrição e em silêncio.
Não basta usar a máxima logística de entregar, no local certo, o produto solicitado em condições de uso, na data estipulada e ao menor custo possível. É preciso que todos os desafios impostos pela guerra sejam também considerados. Um problema e tanto se considerarmos o cenário atual com a evolução da tecnologia de satélite, sensores, drones, que podem ser utilizados para identificar qualquer atividade alheia. E é neste momento que a logística militar pode estabelecer o fim de uma batalha ou a rendição de um dos lados. Quando não se consegue executar as suas atividades de maneira eficaz, a guerra é perdida.
Há o outro lado em que a logística aparece diretamente ligada à guerra: a reconstrução do país em que a batalha efetivamente aconteceu. Ao longo da história, infelizmente, são diversos os exemplos em que as cidades foram devastadas e precisaram ser reconstruídas. Podemos citar como exemplos a reconstrução da Europa após a I Guerra Mundial; do Japão após a II Guerra Mundial; da Coreia do Sul e Taiwan após a Guerra Fria; do Vietnã após a Guerra do Vietnã; e do Paraguai após a Guerra do Paraguai. Todos esses casos aconteceram em períodos e locais distintos, mas tiveram suas cidades destruídas pelo combate. Similar ao que estamos acompanhando agora na Ucrânia.
A logística para reconstrução desses locais acrescenta um ponto crítico: elevadas demandas emergenciais pelos mesmos produtos (como materiais para a construção civil, itens de necessidades básicas, alimentos, remédios, limpeza, higiene; infraestrutura urbana). O que priorizar e como? Qual critério de escolha? Decisões difíceis que precisam ser tomadas para que o país e a população voltem à normalidade após o encerramento da guerra.
Agora, a logística tem papel fundamental na guerra, por isso, muitas vezes os comboios de suprimentos são alvos tanto quanto aviões, caminhões-tanque ou pelotões. No entanto, as atividades logísticas deveriam ser utilizadas para outros fins como a redução de desigualdades, possibilitar acesso a materiais e melhor integração entre as economias. Atuar em uma guerra, que normalmente foi originada por egoísmo de uma das partes ou simplesmente pelo desejo de se provar superior ou maior que os demais, não é a melhor das finalidades logísticas.
* Caroline Brasil é doutoranda em Sustentabilidade Ambiental e Urbana e coordenadora dos cursos de pós-graduação da área de Logística e Qualidade da Uninter.
Revisão Textual: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Wikimedia Commons