Ligações clandestinas e o risco de acidentes com a rede elétrica
Autor: *Eduardo da SilvaA segurança com a rede elétrica sempre foi motivo de preocupação para as distribuidoras de energia e para a sociedade em geral. Por isso, a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE) está lançando uma campanha nacional visando aumentar a segurança e prevenção de acidentes com a rede elétrica.
A Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (ABRACOPEL), no seu Anuário Estatístico de 2024, revela que houve 781 acidentes de origem elétrica com vítimas fatais, registrados ao longo de 2023. Analisando os motivos, os choques elétricos foram responsáveis por mais de 86% das mortes.
Os conhecidos “gatos” (ligações clandestinas na rede elétrica) provocaram 41 acidentes em 2023, dos quais 25 resultaram em mortes. Pelo viés econômico, estes acidentes estão relacionados a 16,9% dos registros de furtos de energia, maior índice desde 2008.
Segundo Marcos Madureira, presidente da ABRADEE, se tivéssemos que construir uma usina hidrelétrica para abastecer o furto de energia no país, só seria menor que a Itaipu. Além do impacto direto no custo da energia, o furto coloca em risco as instalações, pois impede o controle da carga que está sendo distribuída e prejudica o atendimento a todos os demais consumidores.
Além dos “gatos”, outro dado preocupante de 2023 é o aumento nos furtos de cabos e equipamentos elétricos, que resultaram em 35 acidentes e 21 mortes. Um crime que afeta diretamente a infraestrutura de fornecimento de energia, causando interrupções no serviço e prejuízos financeiros significativos. Não se trata apenas de um crime contra o patrimônio das concessionárias de energia, mas de uma prática que coloca vidas em risco
A questão aqui transcende o simples ato criminoso. O furto de energia é um reflexo de problemas sociais profundos. O custo, a precariedade das instalações e a falta de fiscalização, convergem nessas práticas que são vistas como uma solução viável para evitar a eletricidade legalmente adquirida. No entanto, essa “solução” é uma armadilha mortal.
É fundamental que as campanhas de segurança, como a que está sendo promovida pela ABRADEE, não se limitem a alertar sobre os perigos, mas também a abordar as causas dessas práticas. A conscientização sobre os riscos é crucial, mas é igualmente importante que se ofereçam alternativas para que as populações mais vulneráveis não precisem recorrer a esses artifícios. Investir em programas de regularização do fornecimento de energia em áreas carentes, facilitar o acesso ao serviço com tarifas sociais e fortalecer a fiscalização são passos essenciais para mitigar esse problema.
A atuação das distribuidoras de energia pode ir além das campanhas educativas. O uso de tecnologias de monitoramento e a ampliação da presença de equipes de fiscalização podem prevenir esses crimes e, consequentemente, reduzir os acidentes e as mortes.
A campanha é um passo importante na direção certa, mas um esforço conjunto entre governo, concessionárias e sociedade é uma chance real de melhorar este cenário. Apenas com ações integradas, que envolvam educação, fiscalização, segurança e políticas públicas, é que será possível reduzir os riscos de acidentes e preservar vidas, com um fornecimento de energia mais seguro para todos.
*Eduardo da Silva é Mestre em Engenharia Elétrica e Professor no Curso de Engenharia Elétrica do Centro Universitário Internacional UNINTER
Autor: *Eduardo da SilvaCréditos do Fotógrafo: Sergio Barzaghi/Governo do Estado de SP