Joberson chegou do Haiti sem falar português e já está prestes a concluir Relações Internacionais

Autor: Valéria Alves – Assistente Multimídia

Mudar de país significa vencer inúmeros obstáculos e desafios, seja essa mudança feita por escolha ou necessidade. Afinal, é preciso se adaptar a uma nova cultura, novos costumes, a mudança de vida, e lidar com outros diversos fatores que os mais de 270 milhões de imigrantes ao redor do mundo enfrentam, incluindo a adaptação a um novo idioma.

Esse é o caso de Joberson Zephir, 26 anos, que é de uma comuna (cidade emancipada) chamada Bainet, que possuí menos de 100 mil habitantes e que está localizada no Haiti. Em Janeiro de 2018, imigrou por necessidade para o Brasil sozinho para a cidade de Maringá (PR), sem nenhum conhecimento da língua portuguesa. Porém, a barreira linguística não o impediu de fazer algo que desejava desde que estava em seu país, que era estudar Relações Internacionais.

Assim, Joberson fez matrícula na Uninter cinco meses após sua chegada, mesmo ainda não tendo nenhum conhecimento no idioma. “Tem haitianos que moram no Brasil há anos e têm dificuldade para falar português”, diz ele. “No começo estava bem difícil para eu estudar por causa do ritmo”, completa.

Por causa dessas dificuldades, suas notas e seu desempenho no início da faculdade não foram como o esperado, fazendo com que ele reprovasse nas disciplinas do curso. Porém, essa realidade não foi a que predominou na carreira acadêmica de Joberson. Com ajudae muita determinação, isso mudou completamente.

“Comecei a estudar e aprender com brasileiros como que se fala e como escrever certinho. Tem também uma Associação (ARAS Caritas Maringá) que ajuda bastante os imigrantes que não falam português, e no meu serviço tem alunos brasileiros também. Eu sempre troco ideia com eles para aprender como falar”, diz o estudante.

Além disso, ele contou com o apoio no polo Uninter Maringá em sua caminhada. Segundo a diretora da unidade, Diene Eire dos Santos Carneiro, ele recebeu ajuda de uma orientadora da instituição, que perguntou se podia auxiliá-lo utilizando uma forma de aprendizagem voltada especificamente para as necessidades dele.

“Ela começou a conversar com ele e ele ia todos os dias ao polo. Ele aumentou o horário e encontrou um amigo que conseguia traduzir as coisas para ele, e com a ajuda dela e desse amigo, ele está tirando dez em todas as provas e está super feliz. É um curso bastante longo. Ele está muito animado, só tirando ‘notasso’”, afirma Diene.

A orientadora a quem Diere se refere é Nayara Ferreira da Silva, da área educacional. De acordo com ela, outra orientadora já havia conversado com Joberson sobre a possibilidade de ele trocar de curso, pois Relações Internacionais é um curso complexo, mas isso não aconteceu.

“Era o que ele queria fazer, então eu me senti na obrigação de fazer com que ele concluísse o curso da melhor forma possível para que ele não desistisse do sonho de fazer Relações Internacionais. A equipe toda caminhou junto, desde as meninas da secretaria até a Diene, por exemplo. Todas se esforçaram muito, e a equipe foi essencial para a toda essa questão”, diz Nayara.

Nayara descreveu Joberson como um menino tímido no início, mas à medida que foi se desenvolvendo e recebeu suporte, passou a entrar no polo com outro olhar. Segundo ela, a maior dificuldade que ela percebeu era ler, interpretar e transcrever. Portanto, ambos trabalharam juntos para aperfeiçoar essa habilidade.

“O que a gente combinou: Que, por exemplo, todo final de aula que ele assistisse, ele transcrevesse o que ele entendeu. Enquanto a APOL (Atividade Pedagógica On-line), ele copiava todas elas e passava para o caderno, porque eu entendi que para ele assimilar o conteúdo, precisava internalizar. Então a gente utilizou uma via de mão dupla. Ele precisava desse repertório para conseguir internalizar o conteúdo, e fazendo isso ele conseguia passar para o papel, e na hora de fazer a prova ficava muito mais claro”, explica a orientadora. Segundo ela, o aluno se saiu muito bem nesse processo. “Ele se esforçou e valeu à pena. É muito gratificante quanto a gente vê o desenvolvimento de um aluno”.

Apesar de todo o suporte que Joberson recebeu durante a sua graduação, ele é o protagonista de sua carreira e um exemplo pelo seu esforço, persistência e foco. No momento, ele está cursando o terceiro ano do curso, e diz que pretende se formar para retornar ao seu país.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Valéria Alves – Assistente Multimídia
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *