Japão dá exemplo ao usar sucatas para fazer medalhas da Olimpíada. Agora cabe a nós fazermos a nossa parte
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
O mundo todo tem mantido um olhar atento para o planeta em busca de como torná-lo mais sustentável. Antes mesmo da explosão da pandemia, a situação já se mostrava urgente e um bom exemplo cultural neste sentido é o Japão. Em diversas ocasiões, viralizaram imagens dos japoneses limpando os estádios após as competições em que participaram. Para a edição da Olimpíada de 2020, adiada para este ano, no Japão, as cinco mil medalhas de ouro, prata e bronze foram produzidas com materiais recicláveis.
Com uma campanha que durou cerca de dois anos, o país conseguiu somar 79 mil toneladas de aparelhos eletrônicos, de onde são retirados o ouro, a prata e o bronze vermelho. “Veja, a gente joga ouro fora quando descarta de qualquer jeito. Porque campanhas existem, você pode encaminhar para locais de equipamento eletrônico, é só pesquisar”, salienta a professora Ana Zattar, que atua na área de Linguagens Cultural e Corporal da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter.
Ana se tornou uma referência em sustentabilidade. Nas redes sociais (@ana_catadora no Instagram e Facebook), a docente compartilha informações de programas sustentáveis e ações que pratica no dia a dia. Como profissional da área de Educação Física, ela garante que esse modo de viver tem a ver com toda e qualquer área do conhecimento. “A partir do momento que a gente enxerga que estamos no planeta e que a gente precisa ter esse planeta saudável para viver, começa a enxergar as interfaces”, diz.
A Política Nacional dos Resíduos Sólios (PNRS), aplicada pela Lei nº 12.305 de 2010, também apresenta a “responsabilidade compartilhada” que toda a população deve tomar para si, desde os fabricantes até os consumidores, ainda que muitos acreditem não ter causado qualquer impacto ou que não podem ajudar de alguma forma. A professora afirmar que é preciso cobrança daqueles que estão em volta e ao mesmo tempo não se isentar diante do cenário. Ana ressalta que “há muita coisa sendo feita”, mas “o ruim é que não é divulgado”.
Para ela, esse processo tem de começar com as crianças, no ensino infantil, pois é um caminho de mão dupla. Da mesma forma que eles precisam de orientação dos pais, ao levar estes exemplos para dentro de casa, também podem modificar o ambiente por meio de pequenas ações. Com a cobrança por parte dos jovens, a causa ganha força e é compartilhada cada vez mais. Ana acredita que cada um tem a própria fórmula e caminha no próprio tempo, é importante se desafiar e colocar objetivos possíveis, que são ampliados aos poucos, dentro da realidade de cada pessoa.
“Tem coisas na minha vida que eu faço hoje, ou que eu não faço mais, que eu nunca imaginei. Um exemplo: eu não tenho mais carro, mas isso aconteceu uma coisa foi atrás da outra, e hoje não vejo mais necessidade de eu ter um carro. Eu trabalho em casa, carro para mim é só gasto. Eu vou pagar seguro, a manutenção dele na garagem, uma possível multa, então prefiro não ter e até agora está dando certo. Eu não sei se vai ser para sempre assim, mas foi uma mudança que adotei”, conta.
Muitos se interessam pelo assunto, mas não sabem como iniciar essas transformações. Ana diz que é preciso pensar em “o que da gente dá conta”, pois “não adianta querer fazer tudo”. O primeiro passo, de acordo com a professora, é se observar e perceber o que produz de resíduo sólido, para depois anotar tudo em um papel. Em seguida, é importante colocar, ao lado de cada um, para onde eles são enviados, pois cada material tem um destino diferente. Com essa ação, ela afirma que as pessoas já começam a se questionar, no momento das compras, se é realmente necessário levar o produto para casa.
Apesar da reciclagem ser o mais conhecido, este é apenas o último item dos “5 R’s”, que incluem também o repensar, recusar, reduzir e reutilizar. Conforme orienta Ana, a primeira atitude é pensar se o que quer comprar é necessário e será utilizado, pois muitos compram pelo impulso da publicidade, como, por exemplo, em liquidações. Ações pequenas como a substituição de sacolas plásticas por ecobags e a recusa de canudos plásticos, podem fazer muita diferença também. Assim como reduzir o consumo e reutilizar alguns objetos.
Na segunda noite das aulas magnas, realizadas pela área de Exatas da Escola Superior de Educação, a professora mostrou alguns produtos, como as garrafas de vidro, que podem ser utilizadas como suporte de talheres ou para colocar petiscos. Ela também chama atenção no caso do destarte do material, quando quebrados. Orienta a proteção e identificação do objeto ao entregar, pois muitos catadores se machucam nesse tipo de situação.
Além dela, a professora Dinamara Machado, diretora da ESE, explica que discutir o assunto, presente nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, é ter compromisso com o planeta e com as pessoas ao redor. É saber se responsabilizar, assim como mostrar a necessidade de mudar atitudes e discursos, que foram adquiridos com a globalização, pela facilidade.
“Qual é o discurso que as pessoas querem nesse momento? Eu quero o discurso que os meus netos possam encontrar uma terra para viver, que eles tenham água para viver, eu quero um discurso e uma prática em que as novas gerações não vão encontrar um mundo com radiação tóxica. Nós somos seres que podemos constantemente mudar”, salienta.
A abertura do evento foi realizada pelo coordenador de área, Paulo Martinelli, e os professores das Exatas, Eduardo Araújo e Élcio Miguel, também participaram da transmissão ao vivo, mediando e debatendo sobre o tema. “O que eu faço aqui, vai influenciar lá no Japão. Não adianta pensar só na microrregião, na qual nós vivemos, mas devemos pensar de uma forma mais global. Se eu faço uma fogueirinha, esse gás carbônico vai parar lá no Japão. Então, é muito importante”, ressalta Eduardo.
Ana aponta que cada pessoa está em um nível próprio desse processo, mas que o importa é começar, pois o tempo permite que as informações sejam compartilhas, e assim mais pessoas se envolvem através do exemplo, o que torna o movimento cada vez maior e mais forte. “A gente não tem noção onde vai parar o que a gente coloca, principalmente com as redes sociais hoje. Tudo o que você coloca, um post bacana, uma foto de uma ação sustentável sua dentro da sua casa, inspira as pessoas, faz com que outra também queira fazer igual você faz”, conclui.
A exposição sobre o tema e a mesa redonda completa, sobre Modelos de otimização para redução de gastos e desperdícios, segue disponível para acesso, na página do Facebook e canal do Youtube.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Reprodução