Ivan transformou as dificuldades em motivação para ensinar outros estudantes
Autor: Nayara Rosolen - JornalistaJá na década de 1990, o pesquisador Vitor da Fonseca dizia que a dificuldade de aprendizagem não deveria rotular crianças como incapazes, mas sim como alguém que possui uma forma diferente de aprender. No entanto, muitas vezes, são esses os obstáculos que desmotivam os estudantes e até causam a evasão escolar, dependendo de como é acompanhado.
Esse não foi o caso do egresso do curso de licenciatura em Matemática do polo da Uninter em São Manuel (SP) Ivan Gilberto de Freitas, de 42 anos, que ultrapassou as dificuldades com cálculos e hoje é professor no mesmo colégio onde estudou.
Aos 12 anos de idade, os pais de Ivan se separaram e o então adolescente se mudou com a mãe de São Manuel para Botucatu (SP), onde ela passou a trabalhar como cozinheira de uma empresa situada em uma fazenda. Por falta de vagas na escola local, o jovem perdeu o 5º ano escolar, do qual já era repetente. Ao conseguir finalizar, uma nova repetência no 6º ano. O motivo? A “danada da matemática”.
“Reprovei três anos por causa de uma disciplina que pensava que jamais entraria na minha cabeça”, lembra Ivan.
Ainda em 1995, aos 14 anos, começou a trabalhar na roça com cultivo de limão e laranja, na fazenda onde a mãe também trabalhava. Sempre “muito ativo” e motivado por desafios, não demorou muito para ser observado pelos supervisores e quatro anos depois finalizou o ciclo na empresa como encarregado de manutenção.
Ivan cresceu com o sonho adolescente de ser jogador de futebol e na época estava decidido a abandonar os estudos e focar na carreira profissional, mas ainda não havia terminado nem o ensino fundamental.
Em certa ocasião, quando apresentava grande dificuldade com a explicação de um assunto simples da disciplina de exatas, escutou que “iria servir só para ser cortador de cana”. “Como se não fosse uma profissão digna, guardei aquilo comigo e segui minha vida, mas sempre me lembrava desse dia”, conta o egresso.
Mesmo com a dificuldade na matemática, Ivan insistiu até finalizar os estudos. Em 1999, voltou para a cidade natal de São Manuel (SP) e chegou a ser aprovado para jogar em um clube de futebol da capital. No entanto, as condições financeiras não ajudavam e, ainda sem um contrato assinado, “não tinha como sobreviver”.
Com o sonho do futebol “distante” e interrompido, em março de 2000, foi trabalhar em uma empresa de tecelagem, onde atuou por oito anos. Depois disso passou por alguns outros cargos, como em uma empresa de prestação de serviço por quatro anos e motorista de um supermercado por mais nove anos, último cargo antes de começar a lecionar.
Professor, sim, e de matemática
Foi em uma conversa que a esposa, Viviane, relatou a vontade de cursar uma graduação e despertou também nele a vontade de realizar o ensino superior. No momento, soltou “quero fazer matemática!”, o que prontamente foi recebido com uma “cara de dó” e nada motivadora. “Você está ficando louco? Você nunca foi bom em matemática”, alegou ela.
“Eu sei e é por isso que eu quero aprender. Se algum dia eu encontrar alguém com o mesmo problema que eu, quero ajudar e incentivar!”, respondeu Ivan, que na mesma hora começou a pesquisar sobre universidades e encontrou um anúncio da Uninter. No dia seguinte, foi para o polo fazer a matrícula.
“Optei pela instituição por fazer um trabalho sério e ter o máximo respeito com seus alunos. Tenho plena certeza de que as outras instituições também são sérias, porém na Uninter me sinto em casa”, afirma o egresso. “Foi maravilho entrar no polo e sentir a energia que cercava aquele lugar, passou um filme na minha cabeça. Eu, que nunca pensava em fazer uma faculdade, estava ali com um monte de papel na mão, cheio de sonhos e planos. Enfim, fiz a inscrição e comecei meus estudos a todo vapor”, complementa.
Ivan sabia que era um grande desafio, mas não esperava se decepcionar com uma avaliação baixa logo na primeira prova. Indignado, ele entrou em contato com o professor, que explicou qual havia sido o erro.
Na ocasião, em um desabafo com a professora Denise Terezinha Rodrigues, relembrou o que havia escutado há mais de 20 anos e disse que havia se esforçado e batalhado muito para não conseguir alcançar a nota já na primeira prova, “imagina no resto do curso”. Na época, pensou “em uma ocasião disseram que matemática não é para mim e acho que estavam certos, eu não vou conseguir”.
A resposta da professora foi certeira: “Quando alguém me diz que tal coisa não é para mim, aí é que eu corro atrás! Você tem tudo para conseguir e nós estamos aqui para te ajudar, não deixe que uma simples nota baixa coloque um ponto final nos seus sonhos, estamos com você!”. Era o que Ivan precisava para continuar e se dedicar cada vez mais nos estudos, “a cada fase que cumpria na faculdade sentia o diploma cada vez mais perto”.
De volta à antiga escola
A primeira oportunidade de lecionar surgiu ainda quando cursava o último ano da graduação e garantiu a vaga na mesma escola onde estudou há mais de 20 anos.
“Arrumei tudo e fui dar aula com a cara e a coragem, querendo colocar em prática tudo o que tinha estudado na faculdade”, afirma Ivan.
A frase que poderia ter minado as esperanças de um futuro melhor para Ivan, na verdade “serviu de combustível para que chegasse até aqui”. “Devo tudo aos meus professores, que me fizeram acreditar nos meus sonhos”, garante o profissional.
Assim como a dificuldade também se transformou em incentivo para a pesquisa no trabalho de conclusão de curso (TCC) apresentado em 2022, que teve o tema da discalculia (transtorno de aprendizagem ligado à Matemática).
“Vivi quase toda a minha vida com problemas em cálculos. Com essa formação, espero poder ajudar, orientar e ensinar todos os meus alunos. Poder dar para eles tudo aquilo que se esperam de um professor!”, finaliza Ivan.
Na banca de defesa do TCC, estava o professor da Escola Superior de Educação (ESE), José Carlos Moraes, que afirma saber “captar bem o momento”. “A história deste aluno é fantástica. Percebi na abertura da banca que havia algo por trás daquele rosto”, lembra. Para o professor, a banca “mais emocionante” que já fez.
Autor: Nayara Rosolen - JornalistaEdição: Larissa Drabeski
Que bela historia de superação e motivação, que O Senhor Deus abençoe esse bom professor sempre, em um pais onde a educação não tem um olhar atento dos governantes omissos, precisamos mais do que nunca de professores que realmente tem amor e respeito pelo que fazem, assim como esse bom exemplo de professor Ivan Gilberto de Freitas.
Parabéns, Prof. Ivan. Que os obstáculos profissionais, que surgirem sirvam como motivador para novas superações! Que seus alunos possam se espelhar e inspirar no seu exemplo!