IPCC, eleições e Nobel: o futuro é verde?
Autor: André Frota*A conjuntura internacional ficou verde. Após a saída do ex-presidente Donald Trump da Casa Branca, uma das linhas de força para um alinhamento em direção a uma agenda ambientalista foi estabelecida. A condução dos democratas ao poder nos Estados Unidos, iniciada formalmente em 2021, recebeu o reforço europeu da coalização tripartidária, que passará a vigorar na Alemanha e que conta com a participação formal dos verdes no novo gabinete.
As duas forças partidárias e nacionais – democratas nos EUA e verdes na Alemanha – constrangem a agenda ambiental ao resto do ocidente. Na prática, essa agenda já era conduzida pela grande maioria dos europeus e aliados, e contava com a participação da política externa americana ao longo da gestão Obama. O fato novo, é a institucionalização partidária (os verdes) dessa agenda na formação do gabinete alemão e a prioridade absoluta desse objetivo na política externa de Joe Biden.
A COP-26, que ocorrerá em Glasgow, na Escócia, no início de novembro, irá consolidar essa linha de frente em direção as metas de redução de emissões de carbono e ao desafio que a alteração do clima representa para o equilíbrio ecológico do planeta.
Duas instituições responsáveis por influenciar o campo científico e a elaboração de políticas públicas em escala global, impulsionaram as negociações que devem ocorrer em Glasgow. O sexto relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), apontou quatro cenários para o comportamento da atmosfera nas próximas décadas.
Um primeiro, que na prática já está ocorrendo, afirma que a temperatura do planeta já aumentou 1 grau celsius, e que se todas as ações de diminuição das emissões prometidas pelos estados ocorrerem, chega-se ao incremento de 1,5 graus celsius, ao final do século 21.
O segundo, terceiro e quarto cenários, apontam para o incremento de 2, 3 e 4 graus, respectivamente. Todos esses cenários são apontados pelo IPCC como os mais prováveis de ocorrerem, levando em consideração a histórica falta de compromisso dos países mais poluidores em diminuírem as emissões de carbono.
Já outra instituição que somou forças ao ciclo verde da agenda internacional, foi o prêmio Nobel de 2021. Em especial, o trio vencedor do Nobel de física: Syukuro Manabe, Klauss Hasselmann e Giorgio Parisi, pelas contribuições dadas a elaboração e funcionamento dos modelos de previsão climatológicas e sistemas físicos complexos.
O meteorologista japonês Syukuro Manabe, responsável por demonstrar como o aumento das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera levam ao aumento da temperatura em superfície. Seguido pelo meteorologista alemão Klaus Hasselmann, pelo modo como podemos reconhecer “digitais” deixadas pela ação humana na atmosfera.
A linha de pesquisa de Hasselmann, fornece mais evidências sobre como podemos confiar na interpretação do comportamento da atmosfera, mesmo ela sendo um sistema físico caótico. Por fim, o físico Giorgio Parisi, demonstrou padrões ocultos no comportamento de sistemas físicos complexos, pesquisa que também adiciona fundamentos mais robustos para a compreensão do funcionamento da atmosfera.
As eleições nos EUA, as eleições na Alemanha, o IPCC e o prêmio Nobel, sinalizam para o ciclo verde da política internacional. A conferência que ocorrerá em Glasgow, no próximo mês, deixará essa conjunção mais visível para o mundo.
* André Frota é professor de Relações Internacionais e Geociências da Uninter.
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