Inflação em alta: como taxas e índices econômicos explicam o aumento dos preços?

Autor: Sandy Lylia Silva - Estagiária de Jornalismo

Entre os acontecimentos marcantes da década de 1990, podemos nos lembrar da primeira vez em que a clonagem de um mamífero (ovelha Dolly) obteve sucesso, da conquista do tricampeonato mundial de Fórmula 1 pelo piloto Ayrton Senna, morto em um acidente três anos depois, e ainda da fundação da empresa Google. Mas provavelmente o fato histórico mais impactante desta década para os brasileiros foi uma vitória econômica: o fim da hiperinflação.

Os supermercados da época remarcavam os preços diariamente, o que tornava o simples ato de ir às compras num desafio matemático. Até que, com o Plano Real, lançado em 1994 juntamente com a nova moeda do país, a inflação levaria um tiro fatal, e deixaria de se tornar um martírio para o povo brasileiro.

Mas eis que, quase 30 anos depois, a inflação volta a ser um problema no Brasil. Para falar sobre a alta no aumento geral dos preços, o professor do curso de Ciência Política da Uninter, Luiz Domingos Costa, convidou o especialista Eric Gil Dantas, graduado em economia e doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná, para debater as causas deste fenômeno nos dias de hoje.

Os índices de preços medem a variação do custo de uma cesta de produtos e serviços, utilizada por consumidores em geral, sendo possível demonstrar como resultado o aumento ou decréscimo sucedido no período de um mês.

O conceito de “cesta” provém do levantamento dos itens de consumo da população em determinados segmentos, comparado ao percentual do rendimento familiar que é gasto em cada área, deste modo, levando em conta não apenas a variação de preço de cada elemento, mas também o impacto que representa no orçamento familiar.

De acordo com Eric, existem vários índices de inflação, como o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) e o IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), todos calculados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), produzidos pelo IBGE, são considerados índices oficiais pelo governo federal.

O IPCA tem por objetivo medir a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo, referentes ao consumo pessoal das famílias com rendimentos totais de 1 a 40 salários mínimos. O índice é chamado de “amplo” por englobar uma parcela maior da população. Segundo Eric, ele é medido com três variações de periodicidade: mensal, prévia da inflação (análise dos primeiros 15 dias de cada mês, denominado IPCA15) e acumulado do ano, que atualmente apresenta valor de 8,99% (considerando até julho de 2021).

O INPC, por sua vez, abrange uma cesta de produtos de itens e serviços aplicada às famílias com rendimentos totais de 1 a 5 salários mínimos. A inflação registrada por este índice foi de 9,85% no acumulado de 12 meses (até julho de 2021), maior valor registrado desde 2002. Em nenhum dos governos anteriores, exercidos por Lula, Dilma e Temer, a inflação chegou a níveis tão altos, lembra o pesquisador.

Outro aspecto a se destacar é que a inflação tem atingido com maior força as famílias de baixa renda, já que os produtos que estas famílias consomem têm ficado mais caros. Segundo dados do IBGE, os itens que tiveram maior alta de preço foram: alimentos, bebidas, habitação e transporte.

Alimentos e bebidas tiveram alta de 13,25%, com destaque para óleos e gorduras, carnes e cereais, que subiram 55,95%, 34,28% e 28,77% respectivamente. Habitação, combustíveis domésticos (gás glp, carvão e lenha) e energia elétrica tiveram acréscimos de 11,21%, 27,51% e 20,09%, nesta ordem. O custo do transporte registrou aumento de 15,9% e combustíveis (gasolina, etanol, diesel e gnv) encareceram 41,3%, valores estes correspondentes ao acumulado de 12 meses.

“Esses itens sofreram altos reajustes em virtude do aumento de preços das ‘commodities’, como soja, milho, carne bovina e cereais como um todo. Estamos vivendo novamente o superciclo das commodities”, declara Eric. Entre os anos 2000 e 2014 já havia ocorrido um “boom das commodities”, um período caracterizado pelo aumento no consumo, e consequente alta dos preços, de diversas matérias primas, tais como alimentos, petróleo, metais e energia.

Entre os principais fatores responsáveis pela alta da inflação, Eric cita o aumento no preço da energia elétrica, aplicado pelas concessionárias do país, a desvalorização cambial do real diante do dólar, o aumento dos preços das commodities, e a alta dos combustíveis, atrelada à política de preços praticados pela Petrobrás.

No caso da energia, a diminuição dos níveis de chuva limita a capacidade dos reservatórios das usinas hidrelétricas, gerando a necessidade de o governo acionar as termelétricas, que por sua vez produzem energia com maior custo. Já o alto preço praticado na venda dos combustíveis, como a gasolina, se deve, segundo Eric, ao aumento do valor da unidade de barril de petróleo, que recentemente ultrapassou o custo de 70 dólares. Ele também aponta a desvalorização cambial do real, diante do dólar, que foi de 27%, desde janeiro de 2019.

A “fuga dos dólares”, aponta Luiz Domingos, é um outro fator externo com impacto na situação. Os grandes exportadores, produtores de soja, petróleo, aço e ferro, não estão retornando o capital estrangeiro para o país, uma situação não vivenciada em governos anteriores. Com a queda de rendimento dos títulos públicos brasileiros em relação ao restante do mundo, há um incentivo para que este capital permaneça fora do país, explicando assim parte da desvalorização cambial.

A conversa entre Luiz e Eric foi transmitida em 31.ago.2021 pelo canal do YouTube da Escola Superior de Gestão Pública, Política, Jurídica e Segurança e via Facebook do curso de bacharelado em Ciência Política da Uninter, com o tema Alta da inflação:  o que explica e o que causa.  Para assistir à live completa, clique aqui.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Sandy Lylia Silva - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *