Indígenas brasileiros na Turquia: como chegamos a esse ponto?
Autor: *José Benedito Caparros JuniorJovens indígenas brasileiros estão sendo aliciados por uma organização criminosa internacional. Promessas de oportunidade de estudo e conquista de uma vida melhor foram as armadilhas utilizadas pelos criminosos para enviá-los ao exterior. Neste momento, a Polícia Federal conduz as investigações para apurar o esquema de doutrinação religiosa e o tráfico humano, mas muito ainda precisa ser esclarecido. Por enquanto, a Associação Solidária Humanitária do Amazonas (ASHAM) é apontada pela Polícia Federal como o pivô do caso, por suspeita de converter indígenas ao islã e mandá-los para a Turquia.
Em paralelo às investigações, manchetes maliciosas insinuando a relação do islã com os fatos criminosos assumiram espaço nas mídias com tons sensacionalistas, arranhando a imagem de uma das religiões mais antigas da humanidade e de suas sérias instituições sediadas no Brasil.
Os possíveis desdobramentos negativos dessa correlação podem resultar em aumento da islamofobia em território nacional. Para refletirmos sobre isso, devemos relembrar o ocorrido, em 11 de setembro de 2000, nos Estados Unidos, que resultou em aumento de perseguições, xenofobia e crimes desta ordem contra os mulçumanos. Cabe ainda reforçar que a Federação das Associações Mulçumanas do Brasil não reconhece o trabalho realizado pela ASHAM no Amazonas. Em vez disso, devemos olhar para nós mesmos e refletirmos sobre a miopia do Estado Brasileiro na região amazônica, que parece não se esforçar para garantir os direitos fundamentais dos povos e nações indígenas.
Localizada no extremo noroeste do Amazonas, a comunidade rural do município de São Gabriel da Cachoeira é o grande alvo das atrocidades, envolvendo o tráfico humano. Além de ser reconhecida como a Capital Estadual dos Povos Indígenas pela Lei N.º 5.796, de 12 de janeiro de 2022, é conhecida pela profunda vulnerabilidade das pessoas que lá vivem. De acordo com Conselho Tutelar do município, o alcoolismo, a depressão e a violência são apenas exemplos dos problemas enfrentados na região, e ao que tudo indica, não está nem perto de ser resolvida.
Para a ex-alta comissária de Direitos Humanos, Michelle Bachelet, as questões que envolvem direitos humanos e os povos originários brasileiros sempre foram uma preocupação especial para a ONU. Não é difícil perceber que, desde a chegada do homem branco no território conhecido hoje como Brasil, os povos indígenas experenciaram situações de exclusão, negligência, ataque, doutrinação, tráfico, entre outras situações desumanas. Neste sentido, será que é lícito culpabilizar e midiatizar a religião islâmica por esses fatos? Obviamente não!
Aliás, cabe à população brasileira exigir ao Estado políticas públicas para uma maior proteção e asseguração de dignidade aos indígenas.
*José Benedito Caparros Junior é Internacionalista e Mestre em Educação e Novas Tecnologias, Cordenador dos cursos da área de Relações Internacionais.
Autor: *José Benedito Caparros JuniorCréditos do Fotógrafo: APIB