HPV: tabus e desafios da vacinação para o controle do câncer de colo uterino

Autor: Elaine Gracia de Quadros Nascimento e Tania Eduarda Furini*

A Organização Pan-Americana da Saúde aponta o câncer do colo do útero como a principal causa de morte entre mulheres na América Latina e no Caribe, sendo as medidas para controle e detecção precoce um desafio para a saúde pública, entre as quais engloba a questão da vacinação na população contra o vírus do Papiloma Vírus Humano (HPV).

O vírus do HPV compõe uma diversidade de subtipos, os quais podem ser localizados na região da vagina, ânus, pênis, bolsa escrotal e mãos. A transmissão se dá frequentemente durante a prática sexual e pelo contato da pele ou mucosa com a área infectada. Dessa forma, mesmo com a utilização de preservativo a pessoa pode ser contaminada com o vírus.

A prevenção das doenças causadas pelos HPVs depende essencialmente da vacinação e da realização periódica de exames preventivos, além do tratamento precoce de lesões pré-cancerosas.

A vacinação é recomendada para homens e mulheres a partir dos 9 anos de idade, fase em que a resposta às vacinas é muito mais alta e quando ainda não ocorreu nenhum contato com o vírus. Entretanto, as pessoas mais velhas que já foram infectadas também se beneficiam, uma vez que as vacinas conferem fator de proteção para mais de um tipo de HPV em sua formulação.

A vacina disponível na rede pública de saúde é a HPV4 (quadrivalente), que abrange os subtipos 6, 11, 16 e 18 (mais prevalentes nos casos de câncer de colo uterino) e está disponível gratuitamente nos postos de saúde, em duas a três doses, dependendo da indicação para:

  • Meninos e meninas dos 9 aos 14 anos;
  • Homens e mulheres de 9 a 26 anos, vivendo com HIV ou AIDS, pacientes que receberam transplante de órgãos, de medula óssea e pessoas em tratamento contra o câncer;
  • Com HIV/Aids;
  • Transplantados;
  • Pacientes oncológicos em tratamento com radioterapia ou quimioterapia podem ser vacinadas nas Unidades Básicas de Saúde ou nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE).

Já na rede privada, temos também a vacina nonavalente, que protege contra nove subtipos do vírus do HPV, cinco além dos quatro tipos da quadrivalente.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) recomendam a vacinação de meninas e mulheres de 9 a 45 anos de idade, e meninos e jovens de 9 a 26 anos. Homens e mulheres em idades fora da faixa de licenciamento também podem se vacinar com prescrição médica.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere uma abordagem feita em três grandes eixos: a vacinação contra o HPV em 90% das meninas até 15 anos, rastreamento de 70% das mulheres utilizando exames de alta performance aos 35 e aos 45 anos, e 90% das mulheres com tratamento quando a doença for identificada. E em fins de 2020, lançou o desafio de eliminar a praticamente zero a incidência de casos de câncer cérvico-uterino, até o ano de 2030.

Dados referentes a 2019 e 2020 apontam que a cobertura vacinal da primeira dose entre meninas de 9 a 14 anos foi de 83%. Ao analisar a aderência à segunda dose, o percentual cai para 55,6%. Entre os meninos, esse índice é ainda mais preocupante. A primeira dose tem cobertura de 57,9% e, a segunda, de apenas 35,6%.

Para melhorar esses indicadores é necessário que se mude a visão das pessoas sobre a importância da vacinação e de tomar as doses indicadas. Precisamos interromper informações falsas sobre o HPV e com o auxílio dos profissionais da saúde, em que o ideal é que se prescreva a vacina para os clientes e com isso a população tenha uma aderência maior.  Fake news, grupos antivacinas e tabus sobre imunização afastam esse público das Unidades de Saúde. E para que isso não ocorra é necessário incentivar as propagandas orientativas, bem como as ações de discussão com grupos sobre o HPV, lembrando do autocuidado, que inclui desde o uso de preservativos, mas também a vacinação.

* Elaine Gracia de Quadros Nascimento, enfermeira especialista em saúde pública. Auditoria dos serviços de saúde e regulação em saúde. Tania Eduarda Furini é enfermeira, especialista em Enfermagem do Trabalho, mestre em Ciências da Saúde, professor do ensino superior na Uninter.

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Autor: Elaine Gracia de Quadros Nascimento e Tania Eduarda Furini*
Créditos do Fotógrafo: RF Studio/Pexels


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