Giorgia Prates e o poder da coletividade na câmara de Curitiba
Autor: Natália Schultz Jucoski - Estagiária de JornalismoDar voz às pessoas que não conseguem ser ouvidas pelos governantes. Essa é uma das missões da vida de Giorgia Prates. A vereadora de Curitiba (PR) pelo coletivo Mandata Preta (PT-PR) foi a convidada do programa Papo Castiço, da Rádio Uninter. Apresentado por Sandy Lylia da Silva, a trajetória de Giorgia foi pauta da edição, destacando sua carreira como fotojornalista e seu papel na câmara municipal que começou em janeiro deste ano.
A ativista social é natural de São Paulo, mas vive na capital paranaense há 15 anos. Sua mãe e seu pai foram grandes inspirações para que ela entendesse o papel no mundo desde cedo. “Acho que tudo isso que foi a minha infância, de aprender muito sobre resiliência, sobre coletividade, de entender que o outro está presente na minha vida o tempo todo”, relembra.
Ao entrar no mundo do fotojornalismo, se deparou com realidades muito diferentes de pessoas que ficam à margem da sociedade. Pessoas essas que não são vistas e por isso acabam não acessando coisas tão básicas para o desenvolvimento humano.
A vontade de entrar na política veio devido à falta de comprometimento e de interesse dos políticos em resolverem situações que ela denunciava. “Achei que talvez entrar para a política fosse um caminho de a gente poder desenvolver algo mais, algo maior, de poder colaborar de fato e não precisar ligar pra ninguém mais pra pedir favores. Poder eu mesma estar lá e fazer”, conta.
Seu principal papel enquanto vereadora é o de favorecer outras pessoas que tenham uma trajetória parecida com a sua. Uma de suas maiores inspirações políticas e de luta é Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018.
Giorgia é a segunda mulher negra eleita vereadora na capital paranaense e a primeira por meio de um mandato popular. “Mandata Preta” é um coletivo formado por mulheres, majoritariamente pretas, que buscam igualdade e acesso da periferia aos espaços de poder. Para Giorgia, entrar na política por meio de um mandato popular é uma visão de que a política não pode ser feita de uma pessoa só para todas as outras, mas que deve-se levar a população para dentro da câmara. Incluir a comunidade no espaço público para que falem sobre as suas demandas, já que a a maioria dos políticos não ouviriam as histórias de vida destas pessoas de outra maneira. O coletivo entrou em vigor em 2023 como oposição à bancada do plenário municipal em Curitiba.
Mas para além da assistência à população em geral, um de seus recortes na atuação enquanto política é de auxiliar a população negra, sobretudo mulheres. Giorgia conta que uma das ações que fez nesses quase sete meses de mandato foi convocar uma audiência pública com mulheres para que possam entender a questão da população das mulheres negras na cidade. É necessário reverter o apagamento do povo preto na visão histórica da construção da cidade. “Tenho buscado muito que a gente possa avançar em muitos setores, mas principalmente que tragam visibilidade e que coloquem o povo preto na história de Curitiba, que coloquem o povo preto na construção da cidade de Curitiba e que assim a gente possa diminuir a questão do racismo”, reflete a fotógrafa.
Ela está ativamente na luta para que a população negra tenha referências e acolhimento nos mais diversos setores da sociedade. Pensando nisso, a vereadora fez a proposta de um grande projeto que está previsto para inaugurar em janeiro de 2024 no centro de Curitiba que leva o nome da primeira engenheira mulher e negra do Brasil: o Centro de Referência Afro Enedina Alves Marques de combate ao racismo e a intolerância religiosa.
A ideia é fazer com que o centro receba denúncias de racismo, injúria racial e intolerância religiosa que são divulgadas tanto pela pessoa que sofreu a violência quanto pela imprensa, além de garantir o atendimento de profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica, pedagógica e de saúde. Promover cursos, palestras, oficinas e debates com o objetivo de fomentar a sociedade de uma forma mais igualitária, produzindo campanhas de combate ao racismo e de intolerância religiosa.
O espaço também realizará atividades culturais, esportivas, educacionais e de lazer, gerando renda para a população afro. Um diferencial interessante do centro é que Giorgia busca um acervo audiovisual e bibliográfico com ênfase na temática racial para que não haja mais um apagamento da cultura negra.
Ninguém está isento da participação política social, é preciso participar efetivamente enquanto pessoas comuns cobrando e entrando em contato com os nossos representantes na câmara. A pretensão de Giorgia é de continuar a luta como vereadora por mais um mandato e continuar ouvindo e entendendo cada vez mais a população e suas necessidades. “Política é coisa séria e envolve nossas vidas, então vamos cobrar mesmo”, finaliza a vereadora. Você pode acompanhar a trajetória da vereadora e entrar em contato com ela por meio de suas redes sociais: @giorgiaprates.mandata no Instagram e no Facebook.
O Papo Castiço vai ao ar pela Rádio Uninter nas quartas-feiras, às 10h. Você pode conferir o episódio completo clicando aqui.
Autor: Natália Schultz Jucoski - Estagiária de JornalismoEdição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Reprodução