Garimpo deve ser proibido na região amazônica
Autor: Viviane Oliveira de Melo (*)O noticiário nacional e mundial vem acompanhando com estarrecimento a situação dos indígenas Yanomamis. Mesmo com todos os relatos e imagens, autoridades continuam negando os efeitos nocivos advindos do garimpo para essas populações. Além das violações de direitos humanos, o garimpo, da maneira como ocorre na região, libera mercúrio, metal extremamente tóxico, que em contato com as bactérias presentes nos rios, sofre um processo químico chamado de metilação, isto deixa o mercúrio ainda mais tóxico, especialmente para o sistema nervoso.
Os peixes ficam contaminados em um processo de biomagnificação, isto significa que o organismo que se alimenta do primeiro (trofismo), acumula mais do elemento intoxicante. O efeito é conhecido e estudado mundialmente desde as décadas de 1950 e 1960 pelas altas contaminações ocorridas no Japão e no Iraque, respectivamente, ao que ficou conhecido de Doença de Minamata.
O metilmercúrio formado, ao entrar no trato digestivo, é rapidamente absorvido, perpassa com facilidade a placenta e a barreira hematoencefálica. Ele impede a formação dos dendritos e axônios nos neurônios, prejudicando todo o desenvolvimento neurológico normal, dentre outros males. Isto significa problemas psicomotores, problemas nos órgãos dos sentidos, redução de QI.
Em estudo realizado pela a FIOCRUZ em conjunto com o Instituto Socioambiental (ISA), do Instituto Evandro Chagas e da Universidade Federal de Roraima (UFRR), em 2021, na região da Bacia do Rio Branco em Roraima, foram constatadas altas doses de metilmercúrio nos peixes em 3 dos 4 pontos onde ocorreram as coletas.
As altas doses colocam em risco a população local e o comércio pesqueiro. Lembrando que um dos principais alimentos das comunidades indígenas é justamente o peixe. O estudo utilizou análises preconizadas pela OMS, bem como de seus índices de contaminação. No Uraricoera, ponto mais próximo à terra Indígena Yanomami, a cada dez peixes coletados, seis apresentaram níveis de mercúrio acima dos limites estipulados pela OMS.
Enquanto sociedade democrática e organizada, não podemos fechar nossos olhos. É preciso exigir que as autoridades de fato coíbam e impeçam o garimpo ilegal. Atividade presente por toda a bacia do Amazonas, o Observatório da Mineração, que investiga estas atividades desde 2015 estima que haja mais 4, 5 mil garimpos ilegais no Amazonas, ameaçando as comunidades ribeirinhas, que desenvolvem atividades dentro do conceito de sustentabilidade, desestabilizando a economia local.
E o resultado para todo o país é a perda da de biodiversidade e o aumento da corrupção. Para o planeta, a morte destas comunidades equivale em avanço do desmatamento e, portanto, em aumento nos impactos para mudanças climáticas. O Governo Federal, por seus diversos órgãos entre eles o SUS, precisa lançar mão de recursos para salvaguardar a vida destas pessoas. Isto é, agir em acordo com os direitos humanos e com a sua assinatura na COP-26, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021.
Viviane Oliveira de Melo – Especialista em Neuroaprendizagem, Piscomotricidade, Biotecnologia e tutora dos cursos de Pós-Graduação da Uninter na área de Neurociência.
Autor: Viviane Oliveira de Melo (*)Créditos do Fotógrafo: Bruno Kelly/Amazônia Real