Filosofia se une à ecologia para provar que só há progresso humano com interação com o planeta
Autor: Bárbara Possiede - Estagiária de JornalismoCom as alterações que ocorrem no meio ambiente em virtude dos avanços tecnológicos e ações do homem, surge a necessidade de se estudar cada vez mais a respeito da natureza e como o ser humano se relaciona com ela.
A ecofilosofia, termo cunhado pelo filósofo norueguês Arne Naess, provindo da junção de “ecologia” e “filosofia”, propõe uma visão holística da evolução humana, na qual as possibilidades de progresso devem levar em conta a totalidade da existência humana e sua interação completa com o planeta.
Esse foi um dos temas abordados durante a Maratona de Sustentabilidade da Uninter, evento que ocorreu ao longo do Dia Mundial do Meio Ambiente, 05.jun.2020, através de lives na página do Facebook. Os professores Luís Fernando Lopes e André Frota dialogaram sobre a temática e ainda apresentaram um panorama das ideias e valores ambientais presentes em âmbito nacional e internacional.
Luís Fernando explica que o conceito de ecofilosofia pode parecer inovador, mas relembra que a relação entre o homem e o ambiente natural é ainda mais antiga, pois coincide com a existência do ser humano. “Nós não somos os donos do planeta, aqueles com maior poder econômico também não são. Nós somos um com o planeta”, reforça.
O professor ainda ressaltou a dualidade entre natureza e cultura, explicando que a cultura é uma maneira bem elaborada de preservar a vida. Desta forma, é um paradoxo que o desenvolvimento da cultura e o avanço da ciência possam levar à destruição do planeta e do próprio ser humano.
“Pensar a ecofilosofia é pensar além do paradigma cartesiano, onde tudo é baseado em números. A relação do ser humano precisa ser pensada de forma integrada. É por aí que caminham as reflexões. E reflexão termina com ação. A tomada de consciência é importantíssima, mas a partir dela é preciso que ocorram ações”, afirma.
André Frota destaca que boa parte desse paradoxo existente na relação entre homem e natureza consiste na importância de romper com o antropocentrismo, “por mais que a gente tenha boas ideias sobre a relação do homem com a natureza, a nossa vida material demonstra a realidade pela qual a nossa sociedade se relaciona com o meio ambiente”.
O professor exemplificou o tema trazendo o caso da pandemia do Coronavírus. De acordo com ele, ela tem origem na falta de estratégia no combate ao tráfico ilegal de animais silvestres. Já que o vírus chegou ao homem após o consumo do Pangolim, uma espécie de tatu muito traficada na Ásia.
“Quando olhamos para o território brasileiro, nós somos os principais fornecedores de animais silvestres para alimentar as cadeias internacionais que buscam isso. E quando pensamos que temos ideias progressivas sobre a questão ambiental, observamos uma distância enorme entre as ideias e o que de fato fazemos”, declara.
Para André uma possibilidade de superação dessa distância é o amadurecimento da cultura política e da democracia: “isso depende da nossa cobrança mais efetiva para que a gente tenha políticas públicas mais eficazes no que diz respeito ao combate ao desmatamento ou ao tráfico de animais silvestres. Significa a gente fiscalizar, cobrar parlamentares e criar grupos mais deliberativos em relação aos órgãos ambientais”
Ele ainda reforça que a pandemia traz questões importantes para reflexão e que é necessário pensar sobre o que estamos vivendo e principalmente porque estamos vivendo. “Se a gente apenas se acomodar com a nova realidade, seremos atropelados pelas nossas próprias ações. A pandemia precisa ter um sentido transformador para a gente conseguir extrair algo construtivo dela”, conclui.
Autor: Bárbara Possiede - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Suliman Sallehi/Pexels