Filme Alice Júnior propõe um olhar para a pluralidade de vozes e diversidade
Autor: Evandro Tosin – Assistente de Comunicação Acadêmica
Lançado em 2019, o longa-metragem Alice Júnior aborda os desafios da adolescente trans Alice (Anne Celestino Mota). Tudo começa quando o pai, Jean (Emmanuel Rosset), é transferido pela empresa em que trabalha para a cidade fictícia de Araucárias do Sul, no interior do Paraná. Alice passa a viver em uma sociedade conservadora, em comparação ao seu contexto anterior – já que morava em uma área nobre de Recife. Alice luta contra o cyberbullying e o preconceito.
Gil Baroni, autor do filme, foi o convidado especial para participar da última sessão do Cine Clube: Luz, Filosofia e Ação. Baroni nasceu em Guarapuava, mas foi em Curitiba que desenvolveu sua carreira de diretor, roteirista e produtor. Ele se destaca pelos trabalhos na área de direitos humanos e do universo LGBTQIA+. É proprietário da Beija-Flor Filmes e já produziu diversos curtas e longas-metragens, exibidos em 240 festivais nacionais e internacionais, que conquistaram 46 prêmios e oito menções honrosas.
“É um filme muito importante porque consegue falar sobre representatividade, afeto, respeito, tolerância. Uma personagem trans no centro da narrativa, protagonizando a narrativa. Isso é único. É um dos primeiros filmes nacionais a falar sobre isso. Tenho a impressão que não só nacional, mas internacional. Não é à toa que ele foi selecionado e circulou o mundo. Inclusive, no festival de Berlim foi aplaudido de pé quando acabou a sessão. Só de lembrar arrepia”, comenta Baroni.
O ator e roteirista Luiz Bertazzo é o criador da personagem Alice e procurou Baroni para fazer o filme. Assim, fecharam uma parceria. O longa-metragem quebra paradigmas, trazendo a adolescente transsexual como protagonista da trama. A obra cinematográfica foi tratada de uma forma leve e com uma linguagem contemporânea. O filme narra o primeiro beijo de uma adolescente trans. Alice é conectada às redes sociais.
“A gente queria desde o começo se conectar com muita gente. Contar esse ‘drama’ de ser adolescente de uma maneira leve e descontraída, através da comédia. Mas também tem um tom fabular, por que a realidade de Alice não é a realidade da maioria das pessoas trans, que é de violência, elas são expulsas de casa, os pais não acolhem. A gente queria justamente que o filme fosse uma inspiração”, pontua o diretor.
Por isso o filme é uma comédia cujo protagonismo é de uma personagem forte, resistente, que se ama, é bem acolhida em casa, vai enfrentando todos os dilemas e preconceitos, explica o diretor. “As transfobias que ela vai sofrendo, desde a hora que chega na cidadezinha, quando ela pisa no colégio, quando encontra os primeiros desafetos, ela consegue lidar porque tem força, um acolhimento familiar”, comenta o cineasta.
Os prêmios de Alice Júnior
O filme Alice Júnior fez parte do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, ganhando o prêmio de melhor atriz para Anne Mota, melhor montagem, trilha sonora e atriz coadjuvante para Thaís Schier. Ainda no cenário nacional, no Festival do Rio, o público definiu como o melhor filme do evento. Na 27ª edição do Festival Mix Brasil, faturou mais três prêmios: melhor interpretação, menção honrosa e o 1º lugar entre os longas-metragens nacionais, de acordo com o público.
A narrativa cinematográfica avançou fronteiras. Participou de festivais internacionais, entre eles, ganhou o Prêmio do Júri no aGLIFF, Austin Gay and Lesbian International Film Festival. Foi selecionado para o Outfest Los Angeles LGBTQ Film Festival, considerado maior festival com temática LGBTQIA+ do mundo. Em 2021, participou do Generation no Festival de Berlim 2021.
O Cine Clube
O projeto Cine Clube: Luz, Filosofia e Ação é mantido há quatro anos pela equipe de professores da Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter. A iniciativa procura estimular o interesse pela cultura, ampliar os laços com a comunidade e se aproximar dos produtores de cinema nacional.
Funcionando como um curso de extensão, permite contribuir na formação de professores e bacharéis. As sessões de debate discutem direitos humanos, inclusão social, contexto escolar, violência, pobreza, desigualdade de gênero e muito mais. No ano de 2021, a programação é direcionada aos Objetivos do Milênio, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
“O Cine Clube tem esse horizonte de justamente provocar essas transformações, não é só debate, pela apreciação estética. É muito importante notar que no filme Alice a escola é um espaço importante, onde os eventos se desenvolvem, nesse fragmento de vida dela. A escola evidentemente é nosso foco de reflexão. Uma diversidade que seja inclusiva para todos”, comenta o professor Douglas Lopes, um dos organizadores do evento.
A transmissão ao vivo da sessão debate sobre o CineClube: Luz, Filosofia e Ação ocorreu no canal do YouTube da ESE e pela página do Facebook da Área de Humanidades (clique aqui). Além do diretor Gil Baroni e de Douglas Lopes, o debate contou com a presença da diretora da ESE, Dinamara Machado, do coordenador da área de Humanidades, Cícero Bezerra, e do professor Nilson Morais.
Autor: Evandro Tosin – Assistente de Comunicação Acadêmica
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Reprodução
