Falta de saneamento básico é o maior inimigo do ecossistema e da saúde pública
Miriã Calistro – Estagiária de Jornalismo
Uma em cada 10 residências brasileiras ainda não é atendida pela coleta de lixo, 35% desses domicílios não dispõem de serviço de rede de esgoto e 14% carecem de abastecimento de água tratada. Os dados são da Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios (Pnad) 2015, divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os reflexos dessa carência são sentidos no meio ambiente e na saúde pública.
Professor da Escola Superior de Saúde, Meio Ambiente, Sustentabilidade e Humanidades da UNINTER, Augusto da Silveira explica que quando o esgoto não é coletado de maneira adequada, e entra em contato com o ambiente aquático, acaba levando junto uma série de nutrientes. Desse modo, as bactérias que já vivem naturalmente nesses ecossistemas se alimentam desses nutrientes e crescem de maneira descontrolada.
“É o que causa aquela característica que forma um certo gramado em cima do rio. Isso é criado justamente por esse desiquilíbrio causado pelo esgoto, que acaba impedindo que o rio tenha contato com o oxigênio, fazendo com que os peixes morram”, diz.
Também professor da Escola Superior de Saúde, Meio Ambiente, Sustentabilidade e Humanidades da UNINTER, André Pelanda observa que algumas características podem demostrar se um rio está em boas condições. “Alguns animais precisam de uma quantidade significativa de oxigênio para sobreviver no ambiente aquático, e um exemplo disso é o lambari. Por isso, um rio que possui lambari possivelmente não foi afetado”, esclarece.
Por outro lado, peixes como a carpa e o bagre, segundo Pelanda, são animais que precisam de uma quantidade muito menor de oxigênio para a sobrevivência. “Já os rios que possuem somente essas duas espécies é um indicativo de que não está em boas condições’’, comenta.
Outro problema apontado por Silveira é que se água contaminada for a de um reservatório de abastecimento público, seria praticamente impossível utilizá-la de maneira segura para o consumo da população, pois os tratamentos convencionais não são capazes de remover todas as bactérias.
O professor alerta que essas bactérias liberam toxinas na água, e quando ingeridas pelo ser humano são capazes de causar doenças graves. “Algumas pesquisas a nível internacional mostram que quando essas substâncias são consumidas, podem levar a população a ter uma suscetibilidade muito maior ao câncer hepático ou lesões do sistema nervoso”, adverte.
A grande quantidade de água doce disponível no país acaba gerando uma certa despreocupação por parte da população, aponta Silveira. “Realmente, a quantidade de recursos que possuímos é grande. Porém, pode-se aproveitar muito pouco desse recurso com segurança, o que acaba tornando a situação muito preocupante”, conclui.
Edição: Mauri König