Falta de educação social é agravante da pandemia no Brasil
Autor: Arthur Salles - Estagiário de JornalismoPassado um ano de pandemia, o mundo ainda enfrenta problemas básicos no combate à Covid-19 pela falta de compreensão de aspectos simples. No Brasil, principalmente, a desinformação é aliada da barbárie que hoje soma 417 mil mortes pela doença. Uso eficiente de máscaras, baixa circulação de pessoas, restrição no funcionamento de atividades não essenciais, políticas públicas e auxílio financeiro aos necessitados, importância da vacinação, eficácia ou não de certos medicamentos. Especialistas de diferentes áreas vêm se debruçando sobre tais temas por todo esse tempo na esperança de acharem soluções contra o vírus, mas o contágio da desinformação também é alto.
Contra a maré de oportunidades sanitárias viáveis e remando em direção à catástrofe, o governo federal brasileiro já atravessa um ano de ações descoordenadas e criminosas. O conjunto de erros e omissões motivou a instauração de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Senado com o objetivo de investigar as atitudes do governo durante a pandemia. Seu representante máximo, o presidente Jair Bolsonaro, por diversas vezes menosprezou a doença, promoveu aglomerações, circulou sem máscara, se colocou como contrário às vacinas, criticou políticas de restrição da movimentação de pessoas e desprezou a morte dos cidadãos brasileiros. Como exigir da população uma resposta que vá de encontro aos desmandos de seus governantes?
Localidades brasileiras que confiaram na ciência obtiveram resultados expressivos no controle do coronavírus. Araraquara, no interior do estado de São Paulo, impôs um rigoroso lockdown em fevereiro deste ano. A medida suspendeu todos os serviços sem relação com a área da saúde, incluindo transporte público, supermercados e restaurantes. O município registrou queda de 74% dos casos de Covid-19, passando de 793 casos novos da doença entre 21 e 27.fev para 200 entre 18 e 24.abr. Mesmo assim, Bolsonaro criticou o modelo adotado pela cidade. A média brasileira de isolamento social estava em 37,9% até 22.mar.21, segundo a empresa de tecnologia Inloco, que registrou as informações ao longo de um ano de pandemia.
Outra cidade do interior paulista, Serrana foi o primeiro local do Brasil a concluir a vacinação em massa contra a doença em abril deste ano. Com poucas exceções, a população maior de 18 anos teve direito à imunização, fazendo de maio o mês proporcionalmente menos afetado pela Covid-19. O número de contaminados caiu 66% entre março e abril, e os leitos destinados a pacientes com o vírus estão desocupados desde a semana passada. A campanha de imunização no município faz parte do Projeto S do Instituto Butantan, que analisa a eficácia da CoronaVac em grandes contingentes populacionais.
No restante do mundo, medidas semelhantes têm demonstrado resultados parecidos. A Inglaterra teve um pico recente de quase 62 mil casos confirmados em 8.jan.21. O confinamento severo e o avanço da vacinação no país, com 76 doses aplicadas a cada 100 pessoas, o número de confirmações chegou a 2.194 em 6.mai. Cuba, China, Nova Zelândia e Austrália são outras nações que apostaram no controle do vírus e na imunização em larga escala de suas populações. O resultado é a reabertura gradual de serviços, a diminuição de casos e mortes e o reaquecimento da economia.
Ainda que o Brasil não tenha condições de decretar tais ações em todo seu território, o professor e coordenador do curso de Biomedicina da Uninter, Benisio Ferreira Filho, acredita que o cumprimento de medidas básicas pode servir como uma forte barreira à proliferação do vírus. O uso de máscaras e o respeito do distanciamento entre pessoas, com uma baixa concentração num único espaço, são estratégias viáveis no combate à Covid-19. Um recente estudo conduzido por instituições de ensino e pesquisa do Rio Grande do Sul comprova a redução de 87% na incidência da doença a partir dessas medidas.
Para Alessandro Castanha, professor da Escola de Saúde, Biociência, Meio Ambiente e Humanidades da Uninter, o problema é complexo, mas que pode ser aliviado com a tomada de ações simples.
“Nós não precisamos necessariamente de um fechamento total, mas sim que a população seja educada, tenha consciência de que cada um faça sua parte”, diz. “Se todo mundo fizer a sua parte, nós diminuiremos muito a disseminação do vírus.”
O bate-papo entre os professores fez parte da 2ª Maratona da Saúde promovida pela Uninter em 30.abr.21, com o tema Pandemia: tendência e aprendizados. A conversa pode ser conferida na íntegra clicando neste link, e os demais programas da maratona podem ser vistos na página Maratonas para Desenvolvimento Sustentável Uninter, no Facebook.
Autor: Arthur Salles - Estagiário de JornalismoEdição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Icsilviu/Pixabay