Eu não tenho caneta, professor!

Autor: Danielle Fracaro da Cruz*

Little funny girl with tablet on green studio background. She showing something and pointing at screen.

Há quem diga que a interatividade digital pudesse levar a prática da escrita à morte. Uma grande preocupação de pais e professores preocupados com crianças e jovens passando muito tempo em frente à tela do computador ou celular. Em tempos de pandemia as aulas, reuniões e até aniversários foram para o ambiente virtual. As ferramentas interativas estão cada vez mais importantes e nem o professor (ou os pais) pode evitá-las.

Com o advento da internet e dos recursos digitais, a habilidade da escrita vem se reconfigurando. Assim como para desenvolver outras habilidades e atividades do cotidiano, também é necessário adaptar a prática aos novos mecanismos. Quando precisávamos ir ao supermercado, apanhávamos um bloquinho, uma caneta e anotávamos tudo o que era preciso comprar. Hoje, basta fazer o download de um aplicativo no seu smartphone e clicar nos itens que gostaria de acrescentar na lista. Além disso, é possível que a sua lista seja interativa, podendo compartilhar com alguém da sua família, por exemplo.

A interação desperta a curiosidade e a criatividade, já que por meio dela somos levados a perceber outros pontos de vistas, reconhecer outra opinião e modo de ver as coisas. E quem foi que disse que a prática da escrita não pode ser uma atividade interativa? Além de compartilhar a lista de compras, você consegue imaginar como seria uma obra literária escrita por várias mãos, uma história desenvolvida de forma colaborativa? Não é ideia nova, um exemplo de narrativas colaborativas são as fanfic (abreviação de fan fiction), histórias produzidas por fãs de livros, filmes e séries que, utilizando os mesmos personagens, recriam as narrativas de modo interativo e colaborativo com outros fãs, virtualmente, em plataformas específicas para a produção do gênero discursivo. Pois as fanfics não se detêm apenas nas plataformas virtuais de criação, elas ganharam espaço nas impressoras de editoras e nas prateleiras de livrarias.

Talvez o nosso grande desafio seja indagar sobre o quê nossos filhos, nossos estudantes tanto fazem em frente às telas. Mas, não podemos esquecer que as tecnologias digitais radicalizaram a prática da escrita. A sociedade se tornou mais textualizada diante das mais variadas possibilidades e recursos de comunicação, seja por meio dos sites de redes sociais ou ambientes virtuais de aprendizagem, entre outros espaços que possibilitam a inserção no universo textual. No contexto pedagógico devemos lembrar que é a partir desse novo espaço que se ampliam as oportunidades de práticas com a linguagem, despertando a imaginação e criação para aprimorar as habilidades que são almejadas de acordo com as diretrizes curriculares.

Ainda hoje muitos acreditam que o papel do professor está pautado apenas no ensino da estrutura e formato do texto. Mas é preciso pensar que nossos estudantes apresentam um perfil que exige o desenvolvimento global, de modo a se fazer necessário o trabalho a partir dos fatores sociais, políticos e culturais. É por isso que a prática pedagógica deve estar alinhada aos instrumentos e documentos legais no que diz respeito ao trabalho com as atividades comunicativas, para que despertem o domínio da linguagem. Sobretudo, esse trabalho deve ser interativo, criativo e divertido.

* Danielle Fracaro da Cruz é mestre em Teoria Literária, professora da área de Linguagens e Sociedade, Letras e História da Uninter.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Danielle Fracaro da Cruz*
Créditos do Fotógrafo: Freepik


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *