Eu não sou preconceituoso. Será?
Autor: Tatiane Calve*Certo dia, eu estava conversando com meu irmão sobre preconceito e discriminação. Falamos de vários grupos minoritários, que sofrem com essas ações agressivas e, aos nossos olhos, incabíveis no século 21. Durante o nosso diálogo, citamos todas as cores da bandeira LGBTQI+ (Lesbica, Gay, Bisssexual, Transgênero, Queer, Interssexuais) e todas as outras orientações sexuais, identidades e expressões de gênero.
Farei um parêntese aqui, para explicar a origem e o significado das cores da bandeira “gay”. A bandeira que simboliza o movimento GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes), na época, foi criada pelo artista Gilbert Baker, um militar, dispensado pelo exército americano, que passou a se envolver com a causa, no início da década de 70.
Inspirado pela música Over the Rainbow e pelos hippies da época, idealizou a bandeira arco-íris. Sendo que, as populações minoritárias sempre buscam a paz e um mundo melhor para se viver. As seis cores do arco-íris representam vida, cura, luz do sol, natureza, harmonia e espírito. Há alguns anos, outras duas cores foram inseridas, a preta e a marrom, homenageando vítimas do HIV e simbolizando as pessoas LGBTQI+ negras e pardas.
Em nossa discussão, citamos alguns tipos de violência sofrida por essas pessoas, como xingamentos, bullying, agressões físicas e até a morte – homicídio e suicídio. Muitas pessoas se dizem “não preconceituosas”. Será que não são mesmo?
Quem nunca realizou um pré-julgamento sobre algo ou alguém? Estamos constantemente “julgando” – que absurdo um casal gay adotar uma criança. Ela irá se tornar gay também. Por que há cotas para negros nas universidades, se eles querem ser tratados como os brancos? Por que há vagas em concurso e de emprego especiais para deficientes, se eles buscam inclusão e igualdade social? Por que fila prioritária para idosos, se eles ficam passeando pelas ruas? Por que assentos especiais para obesos? Eles deveriam emagrecer, isso sim. Cuidado com o marginal cheio de tatuagens. As mulheres somente são abusadas na rua porque usam roupas curtas.
Essas são algumas das inúmeras frases preconceituosas que ouvimos ou pensamos, frequentemente. Se você já pensou ou se deparou com um desses pensamentos ou com essas frases, pare e reflita sobre como elas podem ferir quem as ouve.
Pense no amor que um “casal gay” pode oferecer a uma criança. Compreenda a trajetória dos negros e o quanto eles, ainda são descriminalizados pela cor da pele. Se coloque no lugar de uma pessoa com deficiência e perceba que as condições oferecidas pelo mercado de trabalho nunca foram as mesmas. Os idosos deveriam ser tratados com muito mais respeito e admiração por todos nós, e não somente ser o direito de ter prioridades em alguns serviços.
Obesidade é uma doença, que exige cuidados e as pessoas não são obesas por opção. Tatuagens não são sinônimo de mau caráter. Lembre-se que muitas pessoas tatuadas são pais de família, dedicados profissionais e que muitos “engravatados” são bandidos. As mulheres têm o direito de usar a roupa que quiserem e saiba que muitas mulheres que usam burca (veste feminina que cobre todo o corpo) também são violentadas.
Parafraseando Albert Einstein, triste época é essa em que vivemos, na qual é mais fácil desintegrar um átomo do que acabar com um preconceito. Entretanto, a luta por mais amor ao próximo, igualdade social e um mundo mais gentil, continua.
* Tatiane Calve é professora da Uninter.
Créditos do Fotógrafo: Pete Linforth/Pixabay