Espaços domésticos ganham novas funções durante a pandemia
Autor: Arthur Salles - Estagiário de JornalismoA pandemia de Covid-19 reforçou inúmeras reflexões sobre as relações humanas. Tendências que ganhavam formas há anos, como o home office (teletrabalho) e o homeschooling (ensino domiciliar), foram implementadas de forma brusca. O maior tempo de permanência em casa modificou a relação das pessoas com suas moradias.
O “novo morar” impulsionado pelo isolamento social foi o tema do mais recente episódio do Segredos da Arquitetura, programa dos cursos de pós-graduação exibidos na Rádio Uninter. Transmitido em 03.08.2020, a edição teve a presença da arquiteta e urbanista Claudia Pimentel Bueno, que falou sobre as novas funções atribuídas aos espaços domésticos.
Professora dos cursos de especialização de Arquitetura e Design da Uninter, Claudia destacou os novos processos de habitação que foram acelerados pela pandemia. Segundo ela, trata-se de releituras de práticas arquitetônicas já consolidadas. “Hoje, nós temos que repensar um espaço que possa ser uma sala de estar e possa receber pessoas pós-pandemia, mas que possa ser meu home office”, diz.
A inclinação é confirmada até mesmo em pesquisa. De acordo com o Imovelweb, portal imobiliário que atua em todos os estados do Brasil, a procura online por lares com espaço para escritório aumentou 83% em maio deste ano, quando comparada ao mesmo período de 2019.
Compreendendo a casa como um “organismo vivo”, capaz de ser transformada de acordo com as necessidades de seus moradores, Claudia acredita em relações específicas entre morador e moradia. “O que existe é a necessidade da pessoa em relação ao espaço. É uma preocupação em ter um maior relacionamento espaço – usuário. Essa casa tem que atender a todos”, destaca.
O principal desafio dos profissionais da área será a adaptação a esse novo cenário, em que é necessário compreender as necessidades específicas de cada família com seu espaço doméstico. Da mesma forma, Claudia acredita que a arquitetura e o design de interiores serão ainda mais valorizados nos anos seguintes.
Outra tendência apontada pela profissional é a busca por moradias mais amplas, com espaços externos e de lazer. No mesmo levantamento feito pela Imovelweb, os números indicaram um crescimento em maio de 96% na busca por imóveis com quintal, em comparação mesmo período de 2019.
Não sendo exclusividade da atual pandemia, as mudanças urbanísticas causadas por doenças podem ser observadas desde a Idade Média. São momentos que, apesar das crises que carregam, permitem a redefinição de infraestruturas e de sua relação com as pessoas, pautada pelo bem-estar.
“A gente vem lá do [período] medieval com a peste bubônica. As pessoas perceberam que a doença se alastrava não só pela situação do contágio, mas principalmente pela doença que estava dentro de suas casas”, explica Claudia.
Para ela, o espaço urbano sofreu uma transformação dali para frente. As ruas passaram a ser mais largas, as construções tiveram maior circulação de ar e a iluminação natural passou a ser mais usada.
Já no século 19, a cólera e a tuberculose difundiram conceitos modernistas na arquitetura. A ideia de “arquitetura da cura” impulsionou a construção de hospitais com janelas maiores e casas sustentadas sobre pilares, como forma de que o ar circulasse por baixo delas para evitar o contato com bactérias do solo.
A apresentadora do programa, Giselle Dziura, enfatizou essa relação da arquitetura com a saúde e o bem-estar das pessoas. “Nossa preocupação com o design e com a arquitetura é uma resposta a uma necessidade sempre. Seja uma necessidade com relação à saúde, com relação aos aspectos funcionais, ou com relação aos aspectos técnicos, sempre buscamos atender ao bem-estar, ao conforto, a todas essas necessidades humanas”.
Vale lembrar que a OMS (Organização Mundial da Saúde) definiu em 1978, durante a primeira Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, a condição de saudável como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.
O programa Segredos da Arquitetura é transmitido pela Rádio Uninter a cada duas semanas, às 17h30, nas segundas-feiras. As transmissões podem ser acompanhadas pela página do Facebook ou pelo site da rádio, onde os episódios são armazenados e podem ser ouvidos a qualquer instante.
Autor: Arthur Salles - Estagiário de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Ekaterina Bolovtsova/Pexels e reprodução Facebook