Escolher o que ama levou Leonardo até o mestrado no Canadá

Autor: Nayara Rosolen - Jornalista

O interesse por questões globais, geopolítica e atualidades, aliado ao gosto e aprendizado que obteve por meio de videogames, impulsionou Leonardo Furtado, 27 anos, a uma trajetória internacional, mais especificamente em Toronto, no Canadá, onde teve experiência de um intercâmbio por cerca de um ano. Em setembro de 2023, ele inicia uma nova jornada: o mestrado em Geografia Humana Crítica, na York University, “líder em ensino e pesquisa e uma força motriz para mudanças positivas”.

Apesar de cogitar a carreira diplomática algumas vezes, o egresso da graduação de Relações Internacionais e da pós-graduação em Geografia Humana e Econômica da Uninter vem de uma família de professores e tem a meta de lecionar em universidades, o que o fez buscar caminhos acadêmicos.

Os “heróis” de Leonardo foram e continuam sendo grandes motivadores, além de inspirações. A mãe, Karina, dá aulas para o quinto ano do ensino fundamental há 28 anos, uma “construtivista nata, superespecializada”. Já o pai, Roberval, que atuou como docente por vários anos, assim como na Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul (SED/MS) e no Ministério da Educação (MEC), atualmente está na Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande (MS).

“Tenho muito orgulho dos dois (…) Cresci rodeado de educação e fui criado entendendo o seu poder”, garante o mestrando.

Educação que está no sangue  

Ainda que parecesse o caminho mais certo a seguir, antes de definir uma carreira acadêmica, o egresso precisou primeiro entender o que não queria. Chegou a cursar dois anos de Engenharia Civil e um ano Engenharia Ambiental em uma universidade federal, mas desistiu quando percebeu que “detestava as matérias” e não se via trabalhando com isso no futuro.

Na época, ingressou em um intercâmbio em Toronto, entre 2014 e 2015. Estudou na University of Toronto pelo Ciência Sem Fronteiras, onde fez dois “terms”, cada um de quatro meses, e teve a oportunidade de trabalhar como assistente de pesquisa por mais quatro meses, onde pôde aperfeiçoar o inglês que aprendeu na infância e adolescência a partir de músicas, videogames, séries, filmes e incentivos dos pais.

Ao voltar para o Brasil, “sabia que era insustentável continuar estudando um curso o qual não gostava”. “Após muita angústia e ansiedade, cancelei minha matrícula e me matriculei na Uninter em Relações Internacionais [no polo em Campo Grande (MS)]. Foi uma das melhores decisões que já tomei”, conta Leonardo.

A escolha pela instituição se deu devido às excelentes recomendações por ter um portal de educação à distância (EAD) intuitivo e com boas videoaulas.

“Fico feliz em dizer que as recomendações foram verdadeiras. A instituição promove e permite autonomia, pude sempre estudar no meu próprio ritmo. Isso me permitiu também começar a trabalhar e ganhar experiência profissional enquanto estudava, sem sacrificar um ou outro, o que foi muito importante para mim e para conquistar o que agora conquistei. Tive excelentes professores na Uninter e sempre senti que, mesmo em um curso à distância, sempre tinha o apoio da instituição”, salienta.

Além do conhecimento científico geopolítico, Leonardo diz que adquiriu uma série de habilidades pessoais, como autonomia, responsabilidade e cumprimento de prazos. O egresso, que também é professor de inglês desde 2019 e supervisiona o programa bilíngue da escola onde trabalha, conta que fazer uma graduação enquanto começa a vida profissional e busca a independência, não é fácil.

“Houve momentos em que quis desistir, perdi o senso de propósito e de motivação. Vale dizer, eles passam. A satisfação de conseguir o seu diploma no final da jornada faz todo o caminho valer a pena”, garante.

Na busca pelo caminho profissional a trilhar, Leonardo conta que escrever o trabalho de conclusão de curso (TCC) foi essencial para ajudar a entender que de fato quer trabalhar com pesquisa e seguir carreira acadêmica. Durante o desenvolvimento do trabalho “Videogames como forma de soft power entre 2011 e 2021”, orientado pelo professor Rafael Reis, o então estudante teceu uma análise geopolítica de como a indústria de videogames é usada na construção de identidades nacionais e no marketing de um país frente ao mundo.

“O professor me orientou com feedbacks positivos durante o processo, que me incentivaram muito a escrever meu artigo da melhor maneira possível, o que me deu coragem durante o processo e até mesmo depois. As habilidades de escrita que desenvolvi são essenciais para minha trajetória hoje. Levem seu TCC a sério”, aconselha.

Leonardo se formou na graduação em agosto de 2021 e foram cartas de recomendação do professor Rafael que colaboraram para a aprovação no mestrado.

“Pude constatar não apenas a predileção e desenvoltura do aluno em relação à pesquisa acadêmica, mas também seu ótimo desempenho quanto ao desenvolvimento de trabalhos acadêmicos. Trata-se de um aluno exemplar por seus méritos acadêmicos e também por sua paixão na área de pesquisa científica (…) um aluno bastante determinado e diligente em seus estudos, tendo desempenhado suas atividades acadêmicas com bastante seriedade e rigor durante o período que estudou conosco”, afirma Rafael.

Pesquisa que visa à justiça social

Voltar para o Canadá, assim como fazer um mestrado seguido de um doutorado, sempre foram desejos de Leonardo, que agora conseguiu unir os dois em um “encontro perfeito”. Mas não sem “muita pesquisa, muita paciência e muita força de vontade”.

Leonardo conta que as aplicações para as vagas costumam acontecer ente outubro e janeiro, mas que o mais importante é conseguir um orientador que aceite te supervisionar durante o mestrado, antes mesmo de participar do processo seletivo.

“Para isso, foram horas e horas no site de essencialmente todas as universidades canadenses, filtrando pelos mestrados em Geografia, vendo se os interesses de pesquisa dos professores eram uma combinação com os meus, enviando e-mail para ver se estavam dispostos a me supervisionar mesmo sendo aluno internacional, fazendo reuniões… Foi um longo processo, que valeu muito a pena”, lembra.

O mestrando alerta que o processo depois disso se torna mais burocrático. Ele, por exemplo, aplicou para duas universidades e cada uma tinha um estilo diferente. Foi preciso a tradução juramentada de todos os históricos acadêmicos, o Test of English as a Foreign Language (TOEFL) como prova de proficiência em inglês e a escrita de dissertações de uma a duas páginas explicando a proposta de pesquisa, além de apresentar os motivos de ser um bom candidato para o programa.

Leonardo acrescenta que, de forma geral, os mestrados que envolvem pesquisa no Canadá são com bolsa para garantir que possa focar na pesquisa durante o mestrado. Mas alerta a importância de ler com atenção o site das universidades para entender como, quando e quanto são as bolsas, pois variam de instituição para instituição.

“Foi surreal quando o portal da universidade atualizou para ‘aprovado’. Vi os últimos dez anos passando na frente dos meus olhos – tomando decisões difíceis como sair de um curso presencial renomado para estudar aquilo que de fato amo. Me apaixonando cada vez mais pela minha área, começando a minha vida profissional. Os meses e meses de pesquisa, ansiedade e escrita. Tudo fez sentido, e tudo valeu a pena”, salienta.

Leonardo sempre teve interesse na intersecção entre o amplo e específico. Para o mestrado, o amplo são as grandes cidades e o específico são pessoas LGBTQIA+. A proposta de pesquisa é pautada no movimento migratório de pessoas da comunidade, saindo de cidades pequenas e médias do interior em direção às cidades grandes, como ocorre em São Paulo (SP) e Toronto.

“Busco responder como esse movimento acontece e suas possíveis consequências tanto para as cidades pequenas deixadas para trás, quanto para as cidades grandes. Cidades grandes trazem consigo mais tolerância, mas também custos de vida mais elevados. Qual o impacto que esse êxodo tem na comunidade LGBTQIA+? Qual o impacto que esse êxodo tem na esfera urbana e na esfera rural?”, investiga o pesquisador.

O mestrado será realizado no principal campus da York, que se chama Keele, e o mestrando agora espera poder finalmente dar uma pausa no trabalho para focar totalmente nos estudos, ingressando no doutorado em seguida para se tornar professor universitário nas áreas de Geografia e Relações Internacionais.

“Fazer pesquisa que ajuda a contribuir com justiça social que a minha comunidade [LGBTQIA+] precisa para alcançar equidade”, finaliza.

Agora, ele se prepara para a jornada “intensa e burocrática” para a regulamentação de todos os documentos necessários para a mudança, que irá acontecer junto com o namorado, Lucas, com quem está junto há cinco anos e há quatro tem uma união estável.

Leonardo se coloca à disposição para aqueles que queiram conversar sobre o assunto ou pedir dicas, que podem entrar em contato pelo e-mail [email protected].

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Nayara Rosolen - Jornalista
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Acervo pessoal


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *