Entre restrições, regras e a formação cidadã, o celular não perde a bateria
Autor: *Fernanda Cristina LopesVocê já recebeu ou enviou alguma mensagem hoje? Já compartilhou algum conteúdo? Já se deparou com uma notícia inesperada? É provável que uma, ou mais de uma, dessas ações tenha sido feita com o auxílio de um celular. Nas escolas, não é diferente. A pesquisa TIC Educação 2023 realizou um levantamento de dados relativos à presença de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) com gestores de escolas de todo o Brasil e segundo as informações disponibilizadas, o uso de celular é proibido em 28% das instituições; em 64% das escolas, os alunos podem utilizar esses dispositivos em determinados espaços e horários, sendo que não há qualquer restrição de uso em 7% dos espaços educativos.
Pelo conjunto de dados e o mapeamento nas escolas brasileiras, é difícil saber por que e como a adoção de medidas de uso ocorreu em cada escola e o que elas implicam na prática. Mas, seja como for, o uso do dispositivo não é questão que possa passar desapercebida. Ora proibido (seria ele um inimigo?), ora restrito, há muito a questão sobre o uso de celular na escola torna-se cada vez mais complexa, passando a exigir um incontornável como: como lidar com a presença do celular nas escolas? A esse respeito, proponho dois horizontes de reflexão, entre tantos possíveis: o do exercício do protagonismo e o da educação midiática.
É evidente que o uso não pautado no exercício da educação midiática e/ou totalmente desvinculado do processo de ensino-aprendizagem não deve ser uma cultura em espaços educativos. Ainda assim, é importante que mudanças comportamentais no uso do dispositivo aconteçam a partir da identificação conjunta dos desafios de cada contexto e sejam engendradas não de maneira unilateral, e sim por toda a comunidade escolar, incluindo alunos, pais, professores e a coordenação pedagógica, por exemplo, nesse trabalho. É a partir desse esforço colaborativo que deve ocorrer a criação e a manutenção de espaços de discussão, de aprendizagem e de respeito a regras e combinados sobre o uso de dispositivos como o celular.
Ainda que essa perspectiva possa ser desafiadora, é importante lembrar-se de que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe um conjunto de habilidades no componente Língua Portuguesa, tanto para o Ensino Fundamental quanto para o Ensino Médio, focadas na participação dos estudantes em debates e na criação de regras e regulamentos nos vários âmbitos da escola, e toda a discussão concernente ao uso de celulares na instituição oferece, sem dúvidas, a possibilidade de criação de um ambiente de exercício do protagonismo que contribui à formação cidadã dos estudantes.
Mas como podemos promover um uso responsável e crítico das ferramentas digitais pelas infâncias e juventudes, tanto dentro quanto fora da escola? Também pautada pela BNCC e amplamente debatida por especialistas, a educação midiática tem papel crucial na formação dos estudantes. Estejam eles imersos no universo on-line em suas vidas cotidianas, estejam em contextos de acesso mais restrito à internet e a dispositivos que lhes possibilitem navegar na web, todos os estudantes necessitam contar com ferramentas e conhecimentos que lhes permitam relacionar-se com diferentes mídias, digitais ou não, e com dinâmicas e relações sociais fortemente pautadas e influenciadas por elas.
O estudante desenvolverá competências que impulsionam seu pensamento crítico e a capacidade de analisar, consumir, compartilhar e produzir conteúdos sendo capaz de perceber a veracidade das informações e de identificar os sentidos e os objetivos dos conteúdos que chegam até ele, por exemplo.
Em suma, o desafio dos docentes, pedagogos e diretores é o de propor um trabalho significativo e focado nessas habilidades, pois a educação midiática – bem como a criação de espaços de exercício do protagonismo e da formação cidadã –, não pode ser vista como uma temática a ser trabalhada pontualmente, e sim fazer-se tão ou mais presente nas salas de aula quanto o são as diversas mídias em nossa vida cotidiana.
*Fernanda Cristina Lopes é professora na Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas – ESEHL I Área de Línguas e Sociedade I Curso de Licenciatura em Letras
Autor: *Fernanda Cristina LopesCréditos do Fotógrafo: Pexels