Entre apertos e compras: as reviravoltas inesperadas da inflação
Autor: Marcos José ValleDe forma geral, a inflação é sempre mais prejudicial aos mais pobres. Isto ocorre porque os aumentos nos preços forçam essa parcela da população a fazer escolhas difíceis entre o que comprar, ou, em alguns casos, a deixar de adquirir certos produtos. Esse cenário não se aplica, contudo, às famílias mais bem remuneradas. Embora possam sentir eventualmente o impacto dos preços em seus orçamentos, elas não deixam de adquirir produtos e serviços, nem precisam reduzi-los.
Atualmente, chama a atenção o fato de que há uma deflação para os mais pobres, o que é uma boa notícia, enquanto ocorre um aumento nos preços para os mais ricos, o que é desagradável. Embora isso possa parecer um fenômeno indecifrável ou insólito, na verdade, é algo que pode ser compreendido. Isto ocorre porque esses grupos possuem perfis de consumo distintos. Os menos remunerados consomem menos e são mais impactados pelos aumentos em bens e serviços de necessidade básica, como alimentação e energia. Por outro lado, os mais abastados consomem itens diferenciados e exclusivos, cujo mercado possui um maior valor agregado e, consequentemente, são mais caros.
Neste momento, produtos básicos de alimentação e a redução nos preços de energia tiveram impactos positivos, permitindo um maior acesso e ampliação do consumo. No entanto, itens como aluguel de carros e passagens aéreas estão mais caros. Para aqueles que possuem carros mais potentes, o aumento dos combustíveis foi mais perceptível, uma vez que esses veículos exigem mais energia. Para quem utiliza o transporte público, até que uma nova tarifa entre em vigor, tanto faz se os preços dos combustíveis sobem ou descem.
Essa notícia é motivo de comemoração para aqueles com baixa renda, porém, para os mais abastados, não traz novidades, já que maiores demandas por bens e serviços tendem a resultar em preços mais elevados. Além disso, quando se trata de mercados com poucos concorrentes, a tendência é que os preços se elevem para aqueles que têm maior capacidade de pagamento. É importante destacar que, para aqueles que se encontram entre esses dois grupos, o impacto foi mais suave. Esse grupo intermediário oscila entre as limitações financeiras e gastos eventuais com itens mais sofisticados.
Se esta será uma tendência, ainda não sabemos. Mas, por enquanto, é uma reviravolta inesperada que merece nossa atenção.
(*) Marcos José Valle é economista e professor no curso de bacharelado em Ciências Econômicas na Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios da Uninter.
Autor: Marcos José ValleCréditos do Fotógrafo: Anna Nekrashevich/Pexels e Rodrigo Leal