Enchentes no Rio Grande do Sul: os danos na indústria e os efeitos na cadeia de suprimentos

Autor: *Roberto Pansonato

O Rio Grande do Sul tem passado por momentos difíceis, desde o início de maio de 2024 e os problemas relacionados às enchentes perduram até hoje.  Em meio a toda essa turbulência, é fato que a prioridade é a vida das pessoas. Com perda de vidas humanas e milhares de desabrigados, o que já é mais do que suficiente para descrever essa calamidade, é importante também, nesse momento, buscar entendimento sobre os impactos econômicos atuais e os seus efeitos, para que já se possa buscar caminhos para a restruturação desse relevante estado da federação. Segundo a Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do estado gaúcho, o Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul apresentou crescimento de 1,7% em 2023, na comparação com 2022, atingindo o valor de R$ 640,299 bilhões, o que representa 5,90% do PIB nacional, algo bem representativo.  

No entanto, é muito comum nas matérias veiculadas nos noticiários, que além de apresentarem todo o caos e a série de adversidades pelas quais o povo gaúcho está passando, também são ressaltadas as perdas na agricultura, principalmente em relação à produção de arroz. Vale ressaltar que o Rio Grande do Sul é um estado que possui uma forte participação na indústria nacional. Segundo o Portal da Indústria, a indústria do Rio Grande do Sul exportou US$ 9.733 milhões em 2023, sendo que o estado é o quarto colocado em exportações industriais do País, responsável por 7,0% das exportações brasileiras de produtos industrializados.  

Mas será que a indústria foi afetada? É obvio que sim! Um estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS) sobre o impacto da catástrofe climática no setor industrial gaúcho mostra que nos municípios afetados – em estado de calamidade pública ou situação de emergência – estão localizadas 47 mil do total de 51 mil indústrias do RS, portanto, é um número considerável.  

As indústrias, de uma forma geral, não trabalham de forma verticalizada, mas sim em cadeias de suprimentos, o que faz com que as indústrias necessitem trabalhar de forma integrada. Peças automotivas produzidas no Rio Grande do Sul devem abastecer grandes montadoras em São Paulo, por exemplo. E o inverso é verdadeiro, pois uma montadora sediada no Rio Grande do Sul, também recebe componentes e insumos de indústrias de outros estados, e nesse momento, mesmo que esteja em condições de operação, o fator logístico passa a ser o grande vilão, em função das condições das rodovias, que ainda é o principal modal de transporte.   

Conforme o site Automotive Now, chuvas no Rio Grande do Sul já afetam a produção da GM em Gravataí e da Stellantis, na Argentina. Por outro lado, empresas como a Volkswagen, em São Paulo, teve que paralisar temporariamente a produção em função da falta de componentes provenientes do Rio Grande do Sul. O mesmo ocorre na indústria de calçados, de móveis e de máquinas e equipamentos, que juntas são responsáveis por boa parte da produção industrial do estado gaúcho. Pelo fato de muitas empresas optarem por trabalhar em operações baseadas no “just-in-time”, ou algo similar, os estoques de matéria-prima e componentes tendem a ser menores e as entregas mais frequentes, o que reduz, então, o tempo em que as empresas podem produzir sem a necessidade de novas entregas, seja de matéria-prima, componentes ou insumos.  

É evidente que em momentos como esse, o objetivo não é o de disseminar pânico, mas sim compreender a real situação e incentivar trabalhos de forma colaborativa, envolvendo o governo, nas esferas federal, estadual e municipal, empresários, universidades e a sociedade civil para planejar e executar a reestruturação da economia do estado, em particular das indústrias. E por falar em reestruturação, as indústrias, principalmente as do Rio Grande do Sul, devem estar preparadas para atender uma grande demanda por produtos que foram perdidos durante as enchentes: móveis, aparelhos eletrônicos, eletrodomésticos e automóveis, entre outros, que deverão ser repostos para a população.  

Em minha atuação por mais de 35 anos em indústrias, tive a grata satisfação de conhecer algumas indústrias do Rio Grande do Sul e comprovar a sua competência. Por isso, tenho plena certeza da total recuperação deste setor que é de suma importância para o estado e para o Brasil.  

* Roberto Pansonato é Mestre em Educação e Novas Tecnologias, graduado Bacharel em Desenho Industrial, com atuação em Gestão de Engenharia de Processos e Produção. É professor do Centro Universitário Internacional – Uninter, onde atua na tutoria dos cursos de Logística e Gestão do E-Commerce e Sistemas Logísticos. 

Incorporar HTML não disponível.
Autor: *Roberto Pansonato
Créditos do Fotógrafo: Flickr


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *