Eleições presidenciais nos EUA caminham para decisão acirrada

Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo

As próximas eleições presidenciais dos Estados Unidos estão agendadas para 03.nov.20. Com um sistema eleitoral complexo, as previsões de votação vêm despertando incertezas quanto a sua eficiência desde o último pleito, em 2016. Na ocasião, a candidata democrata Hillary Clinton liderava as pesquisas com 95% de chances de vencer o seu rival republicano Donald Trump. Hoje presidente, Trump está novamente atrás nas intenções de voto, agora do democrata Joe Biden. Apesar da desvantagem, analistas encaram esses dados com certa desconfiança, apostando na imprevisibilidade da organização eleitoral estadunidense.

Como forma de explicar o funcionamento das eleições nos Estados Unidos e a disputa entre Trump e Biden, a Uninter recebeu Márcio Carlomagno, doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná. O bate-papo foi transmitido pela página do Facebook do curso de Ciência Política, mediado pelo professor Luiz Domingos.

Diferente do Brasil, o país norte-americano tem um sistema de votação indireta. O voto da população de cada estado é transferido para a eleição de delegados ao Colégio Eleitoral, regimento estabelecido desde a criação da Constituição dos Estados Unidos, em 1787. São esses 538 representantes colegiados que escolhem o presidente, sendo necessário pelo menos 270 delegados para eleger um nome à Casa Branca.

Cada estado possui um número de delegados. A Califórnia é a unidade com mais representantes, totalizando 55. Alaska, Montana, Wyoming, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Vermont, Delaware e o distrito federal de Washington são os que têm menos nomes no Colégio Eleitoral: apenas 03 delegados em cada estado.

A divisão é feita seguindo critérios populacionais, além do número de parlamentares que representam os estados no Senado e na Câmara dos Representantes. A discussão sobre o modelo não recai sobre as escolhas feitas pelos delegados, que raramente contrariam o nome escolhido pela população do estado, mas sim sobre sua distribuição aos presidenciáveis.

No sistema “o vencedor leva tudo”, o candidato que conquista a maioria dos votos populares de determinado estado acaba ficando com todos os delegados da unidade. Dos 50 estados do país, as exceções do modelo são Maine e Nebraska. “Esse é um dos fatores que gera muito debate. A chamada ‘injustiça’ do Colégio Eleitoral”, descreve Carlomagno.

Mesmo que um candidato tenha preferência popular, é o número de delegados que determina seu sucesso ou fracasso. Nas últimas eleições, Hillary Clinton teve 48% dos votos populares contra 46% de Trump. A diferença ficou na conquista dos representantes do Colégio Eleitoral: 304 favoráveis ao republicano contra 227 alinhados à democrata.

O pesquisador também chama atenção para outro aspecto distinto da organização das eleições dos Estados Unidos: o voto facultativo. A decisão de ir ou não às urnas é feita pelos cidadãos. Portanto, é fundamental que os candidatos tenham engajamento com seus eleitores para que esses efetivamente compareçam à votação. Carlomagno aponta que, em 2016, o alto entusiasmo gerado por Trump em seus seguidores foi determinante contra uma Hillary que “empolgava pouco o eleitorado”. “Uma parte considerável dos eleitores ficou em casa, não se deu o trabalho de ir votar”, explica.

A fim de conquistar segmentos minoritários, o Partido Democrata fez de Kamala Harris a vice-presidente na chapa de Biden. A aposta na senadora de 55 anos é de atrair o eleitorado negro, feminino e latino. Joe Biden, por sua vez, pode ter apoio da ala conservadora dos democratas. Com 77 anos e vice-presidente de Barack Obama entre 2009 e 2017, o candidato tem notável capacidade de negociação com os republicanos. Esse fator foi crucial para a aprovação de leis no Congresso durante o governo Obama, e é visto por Carlomagno como chance de obter parte dos votos de eleitores médios e republicanos.

As últimas pesquisas indicam que Biden tem vantagem sobre Trump nos votos do Colégio Eleitoral. Até 15.set.20, o levantamento do agregador de dados Real Clear Politics sugere que os votos colegiados podem chegar a 279 favoráveis a Biden; enquanto para Trump seriam apenas 131. Os números reúnem os estados com tendência a votarem em cada um dos candidatos. Outros 128 delegados, de sete estados, não tiveram seu apoio identificado pela pesquisa.

Parte dessas unidades estão entre os “estados decisivos”. O cientista político explica que são esses os estados em que as campanhas presidenciais se concentram a cada quatro anos, pois qualquer um dos partidos tem chances de vencer. “As campanhas são feitas em alguns estados em específico. E por isso o planejamento de campanha presidencial nos Estados Unidos é muito diferente de uma campanha presidencial como se faz no Brasil”, argumenta Carlomagno. “Por isso a pesquisa de opinião erra tanto nos Estados Unidos e é mais difícil você fazer uma previsão.”

Com o maior número de mortes e casos confirmados de Covid-19 no mundo, a gestão de Trump pode ter sua tentativa de reeleição afetada pelos indicadores, acredita o pesquisador. O instituto Gallup entrevistou 2.714 americanos entre 17 e 30.ago.2020. Desses, 36% concordam que o atual presidente se importa com a saúde e segurança da população, abaixo dos 63% que creem na importância dada pelo governador de seus estados aos mesmos temas.

Além da projeção favorável no Colégio Eleitoral, Biden está na liderança pelos votos populares. Os números da Real Clear Politics apontam que 50,5% dos entrevistados declararam voto ao democrata, enquanto 42,9% disseram apoiar o republicano. Os 6,6% restantes ainda não se decidiram.

Trump conta com aspectos que podem virar o jogo, como o domínio da máquina pública e a forte presença nas redes sociais. O cientista político nota que o início das convenções republicanas no mês passado e o controle dos protestos raciais coincidiram com a ascendência do presidente nas pesquisas, enquanto o opositor caiu alguns pontos. “Acho que ambos vão chegar muito próximos [na data da votação]. Até a semana anterior da eleição não será possível cravar com absoluta certeza nenhum dos dois como o vitorioso certo”, conclui.

Clique aqui para conferir a íntegra da conversa dos professores.

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Autor: Arthur Salles - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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