Eleições no Brasil: o voto da fome
Autor: Luís Fernando Lopes (*)As eleições se aproximam, as campanhas estão ativas e, com toda força, a maioria dos eleitores parecem já estarem decididos. Mas, na ausência de um resultado definitivo, as estratégias para angariar votos são as mais diversas possíveis e algumas assustam pela sua maldade.
Em tempos de campanhas virtuais, postar vídeos, compartilhar notícias, memes e outros materiais para apoiar candidatos tornou-se uma prática comum. Entretanto, também se tornaram comuns as calúnias, ofensas, discursos de ódio, agressões, ameaças, mentiras, entre outras práticas digitais violentas, que inundam o ambiente virtual já faz algum tempo e com maior fôlego na proximidade das eleições.
É nesse contexto que ganhou destaque nas redes sociais um vídeo no qual um cidadão afirma que suspenderá a entrega de marmita a uma eleitora necessitada que declarou voto em Lula. O caso gerou indignação e manifestações de repúdio, além de ações solidárias para com essa senhora que sofre com a fome. Ainda que tenha se arrependido e feito outro vídeo pedindo desculpas, a atitude e a estratégia utilizadas anteriormente para conquistar votos expressa profunda maldade e revela aspectos de parte de nossa sociedade, cujas raízes históricas remontam à escravidão.
É repugnante constatar que a própria fome, um holocausto dos nossos dias no Brasil e em outras partes do mundo, é utilizada como estratégia política para conquistar votos. Como em tempos de escravidão, nunca completamente superados em nosso país, discordar do chefe da Casa-Grande tem consequências drásticas, entre elas, a possibilidade de morrer de fome. Infelizmente, outras ameaças também se tornaram comuns em nosso país, em virtude de posicionamentos políticos, principalmente quando afrontam alguns daqueles que se consideram os donos do país. Afinal, manda quem pode e obedece quem tem juízo. É o que reza o mantra escravagista já “culturalmente” incorporado.
Entre as piores ameaças estão a possibilidade de demissão, além de insultos e humilhações de todos os tipos, até a perda da própria vida, como infelizmente já aconteceu. Se nenhuma dessas ameaças maldosas funcionar, então, o que alguns prometem é deixar o país e fechar as portas para gerar desemprego e provocar o maior sofrimento possível aos mais pobres.
Até os que há muito tempo ajudam os mais pobres, mesmo os líderes religiosos, não são poupados das piores críticas em razão de seus posicionamentos políticos. Afinal, a caridade pode até ser permitida, mas desde que não se fale em justiça social.
Se tudo não for realizado de acordo com os caprichos de alguns senhores da Casa-Grande, então nada feito! A política será de terra arrasada. Que país é esse? Que patriotas são esses?
Como esperar algo de bom do voto conquistado na base da ameaça? Precisamos de paz, mas ela é fruto da justiça. E nosso país precisa acertar as contas com o seu passado para que um novo presente possibilite o futuro.
*Luís Fernando Lopes é Doutor em Educação. Professor da Área de Humanidades e do Programa de Pós-Graduação em Educação e Novas Tecnologias do Centro Universitário Internacional Uninter.